"Esta visão pluralista tem vindo a ser refletida em muitos momentos, ao longo da História portuguesa, e tem sido expressada de uma forma poderosa, na recente emergência deste país no plano global, como influenciador", disse o líder dos ismaelitas ao discursar o parlamento português.
Aga Khan citou, "apenas para mencionar alguns exemplos", o que classificou como "fortes papéis desempenhados pela liderança portuguesa" nas Nações Unidas e na UNESCO, na Comissão Europeia e - desde a semana passada - na Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Numa sessão no Salão Nobre, em que esteve ao lado do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, e do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, Aga Khan definiu Portugal como "o local ideal" para concluir as celebrações do aniversário do jubileu de diamante, 60 anos como imã dos muçulmanos shia ismaili.
Aga Khan disse que os cerca de 40.000 fiéis que se juntam a estas celebrações em Portugal terão também "a oportunidade para descobrir Portugal", juntando-se a "uma grande vaga de estrangeiros" que têm tornado o país num dos destinos de viagem com maior crescimento no mundo.
Evocando a "grande Era dos Descobrimentos" e o "papel preponderante de Portugal", disse que o país que escolheu para instalar a sua Fundação tem mantido sempre uma cultura de descoberta, de "estender a mão, de conectar e empreender".
Shah Karim al Hussaini, Aga Khan, 49.º imã hereditário dos muçulmanos ismaelitas, recordou a convivência de diferentes culturas na Península Ibérica, nomeadamente quando "as administrações muçulmanas trabalharam de forma construtiva com os povos de fé cristã e judaica, percecionando a diversidade de talentos e energia como fonte de força - em vez de uma causa para a divisão".
Portugal tornou-se "um país de oportunidade", o que, frisou, não é uma tarefa fácil: "É algo que tem de ser trabalhado pelas pessoas e os governos de uma nação, de forma criativa, com paciência e muita persistência".
Um país de oportunidade, acrescentou, é aquele que "encoraja a cooperação entre interesses diversos, que fomenta parcerias entre o governo e o setor privado, enquanto também encoraja as organizações privadas estabelecidas para servir os objetivos públicos".
Aga Khan destacou também que Portugal está posicionado entre os primeiros cinco lugares no Índice Global da Paz 2018, num relatório elaborado pelo Instituto para a Economia e a Paz, em que entram vários indicadores de 162 países.
"Foi com estes valores em mente que em 2015 assinámos um acordo histórico em Lisboa - para estabelecer aqui a nova sede do Imamat Ismail", justificou, referindo-se à capital portuguesa como "uma cidade de referência de cruzamentos internacionais".
O líder desta comunidade recordou ainda como momento marcante da história entre os dois povos "a generosa abertura que Portugal ofereceu, há quase meio século, a muitos ismaelitas que fugiam da guerra civil moçambicana".
Já em Portugal desde sexta-feira, país onde de resto vai ter residência oficial, o príncipe iniciou a sua visita oficial na segunda-feira, tendo sido recebido com honras de chefe de Estado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a que se seguiu um encontro com o primeiro-ministro, António Costa, participando à noite num jantar em sua honra, oferecido pelo chefe de Estado, no Palácio de Queluz.
Hoje, na Assembleia da República também inaugura uma exposição. Aga Khan visita depois o local do futuro “Ismaili Imamat” (imamato ismaelita), a sede mundial dos ismaelitas, que esta semana estão em força em Portugal, uma presença estimada em 45 mil visitantes.
A chamada comunidade muçulmana “Shia Imami Ismaili”, um ramo dos muçulmanos xiitas, vive espalhada por cerca de 30 países, com as maiores comunidades na Europa a residirem na Grã-Bretanha, França e Portugal, onde vivem cerca de 7.000 membros.
Aga Khan fundou uma das maiores redes privadas para o desenvolvimento do mundo, empregando 80.000 pessoas.
A AKDN, Aga Khan Development Network, é hoje um grupo de agências privadas internacionais que procuram melhorar as condições de pessoas em várias regiões do mundo, com um orçamento anual, para atividades sem fins lucrativos, que ronda os 600 milhões de euros.
Números oficiais da AKDN indicam que a organização trabalha em 30 países, incluindo Portugal.
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