“A necessidade de criar uma zona de proteção [à volta da central nuclear] é cada vez mais urgente e necessária (…) que exclua esta instalação das atividades militares”, sustentou Rafael Grossi, numa conferência de imprensa em Bruxelas, a propósito da situação na central nuclear de Zaporijia (sul da Ucrânia), a maior da Europa e militarmente ocupada pela Rússia.

Em agosto e novembro do ano passado aumentou o risco de um acidente nuclear por causa dos combates que ocorriam naquela parte do território ucraniano e pelos bombardeamentos que, em várias ocasiões, atingiram a zona do complexo.

Rafael Grossi esteve hoje em Bruxelas e nas instalações do Parlamento Europeu (PE) a fazer um ponto de situação sobre os desenvolvimentos no terreno, em matéria de segurança nuclear, aos eurodeputados.

O diretor-geral da AIEA, agência que integra o sistema da ONU, acrescentou que para já não há indicações de que esteja iminente um desastre nuclear, mas disse não saber “por quanto tempo vai ser possível” continuar a fazer esta afirmação.

A central nuclear de Zaporijia está a “operar em circunstâncias anormais” e, por isso, precisa do apoio da AIEA, referiu o representante.

Rafael Grossi esteve durante a última semana na Ucrânia para avaliar as condições de operabilidade daquela e de outras centrais nucleares, cujas instalações estão danificadas depois de meses de combate entre as tropas ucranianas e russas.

Zaporijia é diferente das restantes infraestruturas, segundo explicou o diretor-geral aos eurodeputados, porque está “controlada por russos, mas a ser operada por ucranianos, e, felizmente, com a presença” de uma missão de inspetores da AIEA.

No entanto, segundo frisou, a situação poderá agudizar-se, já que há “cada vez mais informações de que haverá um aumento da atividade militar no final do inverno/início da primavera”.

Zaporijia também “não está a produzir energia” para alimentar habitações e infraestruturas ucranianas e “os reatores estão a operar a um nível muito baixo”, apontou.

“Não são como alarmes que se liam e desligam, é preciso mantê-los com alguma atividade”, alertou.

O ‘blackout’ de novembro foi “muito perigoso”, insistiu Grossi perante os parlamentares europeus, frisando a importância de conseguir estabelecer uma zona de exclusão de combates o quanto antes, já que um acidente nuclear seria catastrófico para todos os países.

Na passada quarta-feira, a AIEA confirmou que terá inspetores em todas as centrais nucleares da Ucrânia, para reduzir o risco de acidentes graves, enquanto continua a invasão russa contra aquele país.

A agência da ONU já tinha presença permanente em Zaporijia.

A presença permanente da AIEA em todas as instalações nucleares da Ucrânia, com pelo menos 11 funcionários no total, marca uma expansão sem precedentes para a agência.

Os técnicos da AIEA também estarão de forma permanente em Chernobyl onde, em 1986, ocorreu o mais grave acidente nuclear da história.

A ofensiva militar russa no território ucraniano, lançada a 24 de fevereiro do ano passado, mergulhou a Europa naquela que é considerada a crise de segurança mais grave desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).