“Neste momento, depois de ter havido a cheia que houve [em finais de 2019], já não há água suficiente na barragem [da Aguieira] para assegurar o abastecimento aos três setores de atividade que recebem água durante o próximo verão. Se não vier mais chuva, a água que está nas barragens não é suficiente”, disse hoje aos jornalistas Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP.
“Não se percebe como é que foi possível, depois da barragem ter estado completamente cheia, ter inclusivamente descarregado, ter havido uma cheia como a que houve e agora, ao fim do mês, já não há água suficiente para assegurar as três atividades. Há aqui uma desarticulação que nos tempos que correm não é admissível”, observou o responsável da CAP.
Em declarações à margem de uma reunião, em Montemor-o-Velho, com agricultores da zona do Mondego, que, lembrou, foi “muito fustigada” pelas cheias de dezembro, Eduardo Oliveira e Sousa defendeu a necessidade de existir “articulação” entre as diversas entidades com responsabilidades na região – nomeadamente nos ministérios da Agricultura e do Ambiente – e a criação de “um verdadeiro grupo de trabalho que olhe para o projeto do Mondego para evitar que estas situações se repitam”.
“É inadmissível e incompreensível que um projeto que tem 30 anos em funcionamento tenha cerca de 40% de obra por fazer ou por acabar. Já há parte dos equipamentos a precisarem de ser reformulados ou adaptados às novas realidades e ainda não estão concluídas as obras anteriores”, frisou ainda o presidente da CAP.
“Como é que é admissível que uma estação de bombagem que tem seis bombas previstas, só lá estão duas e só uma está funcional? Há todo um conjunto de matérias aqui que faz com que os agricultores estejam muito preocupados face ao aproximar da época das culturas”, argumentou.
Questionado sobre os mecanismos anunciados pelo Governo na quinta-feira, nomeadamente um plano de intervenção, a realizar até 2023, que anuncia 30 milhões de investimento em obras de reposição e conclusão do aproveitamento hidroagrícola do Mondego, Eduardo Oliveira e Sousa frisou que a “principal preocupação neste momento” dos agricultores é o que irá acontecer “se não vier um inverno ainda com alguma generosidade [de chuva]”.
“Porque já não há reservas de água para assegurar o abastecimento às três atividades abrangidas pelo funcionamento deste empreendimento. Este empreendimento precisava de ter uma gestão partilhada e não tem e não se percebe como isso acontece”, reafirmou.
Já sobre os seguros e o facto de estes não cobrirem rebentamentos de diques numa inundação – em Montemor-o-Velho ocorreram dois colapsos – existindo agricultores com colheitas perdidas por essa ocorrência, Eduardo Oliveira e Sousa lembrou que os seguros disponíveis para os agricultores são “apenas seguros de colheita”, associados às culturas.
“Os outros seguros são seguros de infraestruturas que, neste caso, não podem ser feitos pelos agricultores. Porque as infraestruturas não pertencem aos agricultores, aliás, os agricultores quando querem água, o setor agrícola pede água ao setor ambiental, ou seja, à Agência Portuguesa do Ambiente. Se alguém tem de ter algum seguro não são os agricultores, são os organismos que são proprietários ou responsáveis pela gestão [da obra de aproveitamento hidroagrícola]”, enfatizou.
Para além da questão das cheias e da obra do Mondego, a reunião hoje realizada entre os responsáveis da CAP e os agricultores serviu para debater, entre outras, questões relacionadas com a Política Agrícola Comum e a proposta de Orçamento do Estado para 2020.
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