
As filmagens no lado de fora do hotel Decápolis, na Cidade do Panamá, mostram famílias presas em quartos de hotel a pedir ajuda. O The New York Times (NYT) filmou uma mulher iraniana de 27 anos, Artemis Ghasemzadeh, a escrever na janela com uma caneta vermelha, em letras garrafais, “Help us” (Ajudem-nos).
Noutra imagem da BBC, duas raparigas seguram um papel na janela onde se lê “por favor ajudem-nos” e duas crianças com a cara tapada a mostrar um papel que diz “por favor salvem as meninas afegãs”. O jornal britânico refere ainda a imagem de vários migrantes com os braços erguidos em cruz para indicar que estão a ser privados da liberdade dentro do hotel e com os polegares na palma da mão, sinal internacional de ajuda.
Neste momento, estão 299 migrantes dentro dos quartos da India, China, Uzbequistão, Irão, Vietname, Turquia, Nepal, Paquistão, Afeganistão e do Sri Lanka, segundo o governo do Panamá, citado pela BBC. Apenas 171 concordaram voltar para o país de origem, enquanto alguns dos restantes mostram cartazes com a frase “Não estamos seguros no nosso país”.
A segurança do hotel Decápolis está a ser reforçada com membros do Serviço Nacional Aeronaval do Panamá armados a controlar todas as saídas e entradas. Segundo o The New York Times, os movimentos dos migrantes dentro do hotel são limitados e não é permitida a entrada de jornalistas.
O ministro de segurança do Panamá, Frank Abrego, comunicou aos jornalistas estas terça-feira que o protocolo está a ser cumprido e os migrantes estão a receber ajuda médica e comida como parte do acordo com os EUA. No entanto, essa não é realidade descrita pelos migrantes, que retratam cenários desumanos e sem condições nem dignidade de vida.
O NYT refere, ainda, testemunhos de tentativas de suicídio e de fuga do hotel. O The Guardian noticiou esta quinta-feira a fuga de uma mulher chinesa, que as autoridades acreditam ter sido ajudada pelos locais. Um repórter no local relatou, ainda, que os migrantes presos nos quartos indicaram através da janela estarem sem telefones.
Um campo de detenção na selva: "Parece um jardim zoológico"
Mais de 100 migrantes que estavam no hotel foram transferidos de autocarro para um campo de detenção “na selva”, descreveu um migrante, em entrevista ao The New York Times (NYT). Segundo os testemunhos recolhidos, as condições são primitivas, existe perigo de contrair doenças endémicas, como a dengue.
“Parece um jardim zoológico, há gaiolas cercadas”, relatou Artemis Ghasemzadeh, uma das primeiras a pedir ajuda. “Deram-nos um pedaço de pão velho. Estamos sentados no chão”. O NYT cita ainda outras fontes anónimas presentes no local, que referem a presença de oito crianças.
O governo do Panamá recusou as criticas e disse não existirem jaulas. No entanto, negou o acesso a jornalistas e organizações de ajuda humanitária. Numa entrevista ao programa de notícias Panamá En Directo na quarta-feira, o ministro da Segurança do país, Frank Ábrego, disse que os migrantes estão a ser mantidos pelo Panamá “para a sua própria segurança” e porque os oficiais “precisam de verificar quem eles são”, avança o NYT.
Em declarações ao NYT, advogados explicaram que é ilegal manter os migrantes presos por mais de 24 horas sem uma ordem do tribunal.
Ao The Guardian, uma fonte anónima referiu que uma das possibilidades de destino para os migrantes que não regressam ao país de origem é o edifício São Vicente, "uma espécie de campo de concentração". Muitos receiam ser torturados e morrer neste lugar.
Para onde vão a seguir?
As deportações em massa são uma medida da administração de Donald Trump, que pretende expulsar do país todos os migrantes que atravessam a fronteira ilegalmente. Já foram deportadas milhões de pessoas, a maior parte refugiadas de países em conflito.
O Panamá é um dos países que aceitou receber os migrantes, de forma a servir como uma “ponte” para os migrantes deportados voltarem ao seu país de origem. Quando entram no país, o paradeiro destas famílias passa a ser da responsabilidade das autoridades locais e o seu futuro continua incerto.
A maior parte das pessoas é natural de países orientais, com os quais os EUA não tem relações diplomáticas para o envio de aviões com migrantes. Por isso, e devido à pressão financeira e política exercida pelos EUA sobe o Panamá, o primeiro destino de muitos deportados é este.
De acordo com o governo do Panamá, os que permanecerem no hotel vão ser transferidos para um campo de refugiados na região de Darién, que tem recebido temporariamente migrantes que viajam para os EUA.
A Costa Rica é outro dos países que, segundo o acordo com os EUA, deve receber um número semelhante de deportados de outros países. A Colômbia, o Brasil, o México e a Índia estão também a receber aviões cheios de migrantes.
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