Há uma década, em conjunto com o político opositor Leopoldo López, fundou o partido Vontade Popular, o mesmo do autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, que considera "uma pessoa jovem e profissional".

"Conheço o Juan Guaidó desde que fundámos o partido. Ele tem mostrado muita segurança quando fala, devolveu a esperança e a motivação que os venezuelanos tinham perdido há muito tempo. Por onde passa voltamos a sentir que há uma pessoa que de alguma maneira também quer ajudar a mudar o país", disse à Agência Lusa.

No entanto, Andrade insiste que no Vontade Popular "não há apenas um líder, há muitos, pessoas jovens" e sublinha que Juan Guaidó, "em vez de abandonar o país, por achar que não há solução, está aí e conjuntamente com ele pessoas da mesma idade, que apostam que vamos conseguir uma melhor Venezuela para todos".

Quanto a Leopoldo López (atualmente em prisão domiciliária), diz que "é um líder que, por onde passa, provoca muita emoção".

"Ele tem a convicção de que, em conjunto com a sua equipa, tem de ajudar a construir um país do primeiro mundo, que não dependa de uma economia do petróleo, da importação, porque a Venezuela tem como produzir muitas coisas, que as empresas não podem continuar a fechar", disse.

Por outro lado, Luís Andrade explicou que desde criança sempre se sentiu "atraído pelo ativismo político".

"Na Venezuela, comecei por fazer política social, no partido Primeiro Justiça, onde conheci Leopoldo López e gostei muito do projeto que tinha para o país. Depois, com ele, fundei e faço parte do Vontade Popular", explicou.

Andrade, chegou a Caracas com apenas 11 anos, em 1982, com o pai, uma irmã e um irmão. "Em vez de ir estudar, como qualquer rapazinho dessa idade, fui fazer o que fazem todos os portugueses que vieram para cá, trabalhar".

"Não sabia falar espanhol e tinha medo de como seria tratado na escola. Trabalhei em pequenos negócios. Primeiro com o meu pai e o meu irmão e aos 28 anos decidi continuar com os estudos, que tinha começado na Escola de Artes e Ofícios da Madeira, os Salesianos, até que cheguei à Universidade Central da Venezuela onde estudei Ciência Política", explicou.

Insiste que é preciso mais portugueses e lusodescendentes ativos na política: “Onde vamos viver, passamos a fazer parte dessa população" e é necessário que as pessoas não deixem a gestão da sociedade apenas nas mãos dos políticos.

"Há muitas coisas para mudar no país. Comecei nas associações de vizinhos, de comerciantes, e a organizar as pessoas sobre situações locais que há que mudar, mas para isso é preciso participar. Nada mudará se não fizermos parte dessa mudança, como cidadãos que somos", explica.

No entanto, é da opinião de que "não é fácil fazer política na Venezuela". "Mas, se existirem valores e princípios de luta e coragem, a democracia é o melhor sistema, onde todos se podem integrar e há liberdade de dizer o que se pensa", considera.

"No Vontade Popular vemos a Venezuela como um país que procura um desenvolvimento sustentável, moderno. Muitos não acreditam que isso vai acontecer, mas continuamos a lutar. Vamos ver um país de progresso em que muitos portugueses e venezuelanos que emigraram vão regressar", insiste.

Sobre Portugal, as memórias são distantes, até porque nunca regressou à sua terra.

A Portugal pede que preste mais atenção aos emigrantes, que ajude mais a comunidade: "É muito lamentável ver tantas pessoas idosas que não têm nem para comprar os medicamentos de que necessitam".

"Dentro da Embaixada e do Consulado devem dar melhor atenção aos portugueses. Estive há pouco na porta de um hospital e vi uma portuguesa idosa, acompanhada por uma sobrinha, gritava pedindo que a atendessem e isso não pode acontecer", frisou.

Quanto à comunidade, o dirigente política apela a que "mantenha a esperança de que a Venezuela vai voltar a ser aquele país que conheceram quando cá chegaram".