Às 16h30 o trailer de "Uma Sequela Inconveniente”, que surge na sequência de “Uma verdade inconveniente”, e que em 2007 ganhou o Óscar para o melhor documentário, ecoava no palco principal de uma Altice Arena completamente lotada. Al Gore, antigo vice presidente dos Estados Unidos da América, reconhecido pela sua campanha contra as alterações climáticas preparava-se para entrar.

O prefácio chegava ao fim, e Paddy Cosgrave, o anfitrião, chamou ao palco o último convidado da sétima edição da Web Summit. A plateia levantou-se e aplaudiu como em nenhum outro momento ali aconteceu.

O trailer era uma pista importante. Porquê? Alterações climáticas era o tema, e este documentário já incluía a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Ou, nas palavras de Al Gore, a saída de Trump do Acordo. "Temos de fazer uma distinção entre Donald Trump e os Estados Unidos" frisou.

"Vamos cumprir o nosso papel apesar de Donald J. Trump", garantiu, perante os aplausos de milhares de pessoas reunidas em Lisboa para a sessão de encerramento da conferência tecnológica Web Summit.

O antigo Nobel da Paz considerou que houve uma "viragem histórica" com a assinatura do Acordo de Paris, em 2015, para limitar o aquecimento global, apesar de Trump ter declarado que os Estados Unidos se iriam retirar do compromisso.

O ex-vice-presidente, tornado ativista e investidor pelo clima, afirmou que pelas regras do acordo, "os Estados Unidos só poderão sair no dia a seguir à eleição presidencial de 2020" e manifestou-se confiante de que a vontade política maioritária no seu país não coincide com a do Presidente.  “A democracia foi atacada em muitos países“, salientou.

créditos: Miguel A. Lopes/LUSA

Mas Al Gore não estava ali para falar só de política - apesar de ainda ter havido tempo para uma palavra sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, que o político e ativista considerou ser "um erro enorme". O mote do seu discurso era outro: ele estava ali para recrutar-nos para salvar o planeta terra, "a única casa que temos".

E como se recruta? Primeiro expõe-se o problema. Está à vista de todos, frisou. Está nas chuvas, furacões, incêndios florestais ou secas devastadoras, "como acontece em Portugal ou Espanha", e nas dezenas de milhões que estão à beira da fome ou que tiveram que se deslocar por causa de fenómenos climáticos. Está também nos setores do carvão, gás e petróleo onde há uma vontade de "paralisar" o caminho em direção às renováveis, numa altura em que energias renováveis, como a solar, estão a ficar cada vez mais baratas. "Acumularam durante anos riqueza, poder político e conhecimentos", mas "chega de vez", declarou.

O planeta está à beira da "revolução da sustentabilidade", sublinhou, acreditando que esta chegará "com a dimensão da revolução industrial e a rapidez da revolução digital".

"A vontade também é um recurso renovável"

 

"Muitos dos que aqui estão já fazem uma diferença enorme", reconheceu, dirigindo-se a uma plateia em que destacou a geração jovem que cria empresas para "fazer bom dinheiro mas também para fazer avançar o mundo", tendo a tecnologia como aliada.

Mas havia três perguntas a responder, lembra-se?

1 - Temos de mudar alguma coisa?

"Spoiler alert: sim!", disse o ativista e político norte-americano. "É claro que temos que mudar, o que é que pensam? Não podemos condenar as gerações que aí vêm à degradação e ao desespero", defendeu.

2 - Podemos mudar?

Al Gore acredita que sim, mas para isso é preciso o envolvimento de todos, para que todos sejam "parte da solução", afim de se travar a "colisão entre a civilização humana e a natureza".

3 - Vamos mudar?

Recordando lutas históricas como as travadas pelo fim da escravatura, pelo direito de voto das mulheres ou pelos direitos dos homossexuais, afirmou que no fim, tudo se resumiu a uma escolha entre "o que está certo e o que está errado". E este tema não é diferente.

"Está tudo em jogo", garantiu, admitindo que "há quem caia no desespero porque pensa que não há vontade de mudar", mas "a vontade também é um recurso renovável".