Descendente de japoneses, engenheiro agrónomo e com uma carreira bem-sucedida enquanto professor universitário, Fujimori tornou-se em 1990 o primeiro filho de imigrantes a conquistar a Presidência do Peru, ao vencer nas urnas o escritor Mario Vargas Llosa.

Além de um cancro na língua, o ex-presidente tinha outros problemas de saúde, como fibrilhação auricular, doença pulmonar e hipertensão.

Considerado racional e metódico, Fujimori aplicou uma política de linha dura para desmantelar as guerrilhas e foi preso por violação do direitos humanos. Reconquistou a liberdade em dezembro passado, quando o Tribunal Constitucional do Peru restituiu o indulto que ele tinha recebido em 2017 por razões humanitárias.

Fujimori cumpria pena desde 2009 por crimes contra a humanidade, pela morte de 25 pessoas em massacres cometidos em 1991-1992 por um esquadrão do exército.

O ex-presidente Pedro Pablo Kuczynki (2016-2018) indultou Fujimori em 2017. No entanto, voltou para a prisão em 2019, após um juiz anular a medida.

"Que a História julgue os meus sucessos e erros", escreveu o ex-presidente em 28 de julho de 2018, ao completar 80 anos, num manuscrito enviado à AFP, no qual expressou a sua convicção de ter firmado as bases de um país que afirmou que se tornaria "líder na América Latina".

"Nos anos contados que me restam, vou dedicar-me a três objetivos: unir a minha família, melhorar a minha saúde no que puder e fazer um balanço equilibrado e sereno da minha vida. Essas são as minhas três metas principais", revelou Fujimori.

Conhecido como "El Chino", Fujimori tornou-se muito popular pela sua luta contra o Sendero Luminoso. Mas em novembro de 2000, perante uma oposição crescente após dez anos de governo, fugiu para o Japão e renunciou à Presidência através do envio de um fax, para evitar a destituição.

Fujimori detinha um poder quase absoluto após dar um "autogolpe" em 5 de abril de 1992, dissolvendo o Congresso e intervindo no poder judiciário, apoiado pelas Forças Armadas e por uma estratégia do seu assessor de inteligência, Vladimiro Montesinos, eminência parda do regime.

Com quatro condenações judiciais por crimes contra a humanidade e corrupção — a maior delas a obrigá-lo a cumprir 25 anos de prisão — e a saúde debilitada, Fujimori passou os últimos anos a dar entrada em hospitais.

O ex-presidente foi um "herói" para muitos peruanos e um "vilão" para outros. "O governo Fujimori foi o ponto mais baixo de toda a história do Peru", disse o sociólogo Eduardo Toche, quando ele foi condenado. "Para ele, o padrão legal era o da sua vontade e a dos seus amigos, nada mais."

Fujimori cultivou um estilo autoritário, com o seu perfil de homem frio, desconfiado e pouco comunicativo. Governava com um critério de fraternidade secreta, rodeado por um pequeno círculo de colaboradores.

Essa forma de governar, sem o contrapeso de outros poderes do Estado e com o controlo dos meios de comunicação, abriu as portas para a corrupção. A sua então mulher, Susana Higuchi, divorciou-se dele em 1994 e acusou-o de tê-la torturado e de ter prejudicado sua saúde mental.

Fujimori aplicou um modelo económico neoliberal que lhe valeu o apoio de empresários, classes dominantes e órgãos financeiros internacionais, o que lhe permitiu superar a crise em que o Peru mergulhou no primeiro mandato do social-democrata Alan García (1985-1990).

O ex-presidente também derrotou a guerrilha maoísta Sendero Luminoso e o Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA), mas organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram massacres de civis.

Um dos episódios que deram mais louros políticos a Fujimori foi a libertação de reféns do MRTA na residência do embaixador japonês, em abril de 1997. Os 14 rebeldes foram mortos, numa operação militar elogiada por muitos governos e questionada por grupos de defesa dos direitos humanos, que denunciaram a execução dos sequestradores depois da sua rendição.

Após se refugiar no Japão, Fujimori surpreendeu ao chegar em 2005 ao Chile, que o extraditou em 2007 para o Peru, onde ele foi julgado e condenado.