O Executivo federal, a região de Baviera e a cidade de Munique vão pagar cerca de 28 milhões de euros aos familiares das vítimas do ataque que deixou 18 mortos, entre eles, 11 atletas israelitas, disse à AFP um porta-voz da pasta.

A 5 de setembro de 1972, oito membros da organização palestiniana "Setembro Negro" invadiram um apartamento da delegação israelita na vila olímpica, matando dois atletas israelitas e levando outros nove membros da delegação como reféns, na esperança de trocá-los por 232 prisioneiros palestinianos, bem como dos líderes da germânica Fração do Exército Vermelho, Ulrike Meinhof e Andreas Baader. O ataque vitimou também cinco dos perpetradores.

A Alemanha também vai retirar a confidencialidade aos documentos relacionados ao atentado e à criticada operação de resgate, tornando-se assim disponíveis para a análise futura de historiadores alemães e israelitas.

O acordo inclui a participação dos familiares numa cerimónia prevista para segunda-feira em Munique, mas alguns já tinham anunciado um boicote, informou o porta-voz do governo alemão, Steffen Hebestreit, em nota.

O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e seu colega israelita, Isaac Herzog, anunciaram que estarão no evento.

"Estamos felizes e aliviados por chegarmos a um acordo" que sirva para alcançar um "esclarecimento histórico, reconhecimento e indemnização pouco antes do aniversário de 50 anos e da visita de Estado do presidente israelita à Alemanha", afirmou a nota dos líderes.

"O acordo não é capaz de curar todas as feridas", lamentaram ambos os presidentes, mas demonstra que o Estado alemão assume a sua "responsabilidade e reconhece o terrível sofrimento das vítimas e dos seus familiares", acrescenta o texto.

"Quero expressar a minha gratidão por este importante passo dado pelo governo alemão, liderado por Scholz [chanceler alemão], assumindo a sua responsabilidade e disponibilizando indemnizações pela injustiça histórica às famílias das vítimas do massacre de Munique", afirmou Herzog.

O acordo põe fim a várias acusações, por parte das famílias das vítimas, de tentativas “insultuosas” de indemnização, bem como ao que apelidavam de “50 anos de mentiras e encobrimentos”. Antes deste acordo, as famílias dos 11 israelitas mortos recusaram o convite para participar nas cerimónias.

Este não foi o único aspeto controverso destas negociações, já que o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas, negou-se publicamente a pedir desculpa por este atentado, contrapondo que Israel cometeu "50 holocaustos" contra palestinianos.

Tudo se passou no dia 16 de agosto, quando Olaf Scholz recebeu Abbas. Nesse dia, após um encontro em Berlim, os dois dirigentes deram uma conferência de imprensa conjunta, durante a qual Abbas foi questionado sobre o atentado terrorista nas Olimpíadas de Munique.

“Desde 1947 até aos dias de hoje, Israel cometeu 50 massacres em 50 localidades palestinianas. Cinquenta massacres, 50 holocaustos”, afirmou, referindo-se ao conflito entre palestinianos e israelitas.

Abbas foi criticado na Alemanha e em Israel, embora Scholz, o seu lado, não tivesse reagido de imediato, o que também lhe valeu reparos. Posteriormente, o chanceler social-democrata manifestou-se “indignado com os comentários ultrajantes” de Abbas.

“Para nós alemães, em particular, qualquer relativização da singularidade do Holocausto é intolerável e inaceitável. Condeno qualquer tentativa de negar os crimes do Holocausto”, escreveu Scholz na rede social Twitter.

O caso levou até a polícia alemã a investigar estes comentários, já que a minimização do Holocausto é uma ofensa criminal na Alemanha. O Governo alemão, contudo, disse que Abbas beneficiará de imunidade contra uma eventual acusação porque estava em visita oficial à Alemanha na qualidade de representante da Autoridade Palestiniana.

Apesar da polémica e de apelos para suspender a ajuda aos palestinianos, o Governo alemão confirmou que irá manter o seu programa de apoio de mais de 340 milhões de euros, aprovado para 2021 e 2022, noticiou o semanário Der Spiegel.

O Governo alemão não financia diretamente a Autoridade Palestiniana, mas tem um programa de ajuda humanitária aos palestinianos e de apoio ao desenvolvimento.

Em Israel, o primeiro-ministro Yair Lapid também se mostrou indignado com os comentários de Abbas, tanto mais por terem sido feitos na Alemanha, cujo regime nazi, de Adolf Hitler (1889-1945), foi responsável pelo Holocausto nas décadas de 1930 e 1940.

“Seis milhões de judeus foram assassinados no Holocausto, incluindo 1,5 milhões de crianças judias. A História nunca perdoará”, lembrou Lapid na quarta-feira.

A política de “solução final”, como foi designada pelo regime nazi, consistiu na eliminação sistemática de judeus (alargada a outras comunidades, como a dos ciganos), incluindo com recurso a câmaras de gás em campos de concentração.

O regime nazi foi derrubado com a derrota alemã na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que Hitler iniciou três anos depois de ter usado as Olimpíadas de Berlim como uma operação de propaganda da ideologia do seu Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, mais conhecido como Partido Nazi.