Regime e insurgentes fazem da conquista de Alepo o ponto de honra numa guerra de desgaste que poderá acabar sem vencedores. Os dois lados do conflito concentram esforços na conquista da cidade dividida desde 2012 entre os bairros do oeste, sob alçada do regime, e os de leste, sob o controlo dos rebeldes.

A “leste” do conflito

Nesta batalha, o Exército da Conquista (Jaish al-Fateh) é a principal força que luta contra o regime. Em 2015, conseguiu expulsar as tropas governamentais da maior parte da província de Idleb.

O Exército da Conquista é uma coligação que reúne uma dezena de fações jihadistas e rebeldes apoiadas por Arábia Saudita, Catar e Turquia. Entre estes grupos destaca-se a organização extremista Fateh al Sham (ex-Frente al-Nosra, que se desvinculou recentemente da Al-Qaeda) e os salafistas do Ahrar al Sham.

Segundo especialistas militares, integram as fileiras desta coligação entre 30.000 a 40.000 homens, 10.000 dos quais em Alepo. Esta força também inclui milhares de jihadistas provenientes do exterior.

O Exército da Conquista dispõe de tanques e de artilharia, parte desta apreendida ao exército sírio, assim como de mísseis antitanques TOW de fabricação americana.

Segundo o especialista Charles Lister, a coligação insurgente recebeu "pela primeira vez", para a batalha de Alepo, armas de fabricação americanas reservadas até agora às forças que lutam contra o grupo extremista autoproclamado Estado Islâmico (EI). Mas, as suas armas mais eficazes continuam a ser os veículos bomba e os ataques suicidas.

A “oeste” do conflito

Do lado do regime, a batalha de Alepo segue a cargo do exército e das milícias das Forças de Defesa Nacional (FDN), assim como dos combatentes provenientes do Irão, Iraque e do Hezbollah libanês.

Segundo o Al-Masdar News, um site pró-regime geralmente bem informado, as forças governamentais levaram 100 tanques e 400 transportes de tropas para Alepo, onde possuem entre 30.000 e 40.000 homens.

As forças do presidente sírio, Bashar al-Assad, estão dotadas de uma potência de fogo enorme, com tanques, artilharia e sobretudo aviação, uma vantagem considerável diante dos insurgentes, que carecem de aviões. É de referir Bashar al-Assad conta com o apoio da Rússia.

O que está em jogo?

"Para os insurgentes, não é concebível deixar os seus irmãos cercados em Alepo", afirma Fabrice Balanche, geógrafo especialista em Síria.

Por outro lado, ”acreditava-se que Alepo seria a Benghazi síria, de onde os rebeldes fariam o regime cair. Se a perderem completamente, as suas zonas no norte da Síria vão encolher", explica Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos, referindo-se à segunda maior cidade da Líbia, na qual foi anunciada a captura e a morte do líder Muammar Kadhafi.

Para o regime, se Alepo cair “entrar-se-á numa dinâmica de vitória", diz este especialista do Washington Institute. "Retomar Alepo significa poder depois cercar os rebeldes na província de Idleb. Trata-se de provar a sua força a toda a Síria".

Além disso, "a conquista de Alepo permitira ao grupo de Assad estar numa posição de força nas negociações internacionais. Trata-se de colocar a nova administração americana diante do fato consumado em janeiro", afirma.

Quem vencerá?

A batalha anuncia-se sangrenta e, sobretudo, longa.

"O regime continua limitado pela falta de efetivos. Retirou defesas no sul para se dirigir à estrada de Castello", em Aleppo, segundo Yazid Sayegh, especialista do Centro Carnegie para o Oriente Médio.

"Ao mesmo tempo, é impossível que a oposição possa tomar toda a cidade de Alepo, pelo mesmo motivo que o regime", em particular, por falta de efetivos, mas também por "uma potência de fogo limitada e uma região governamental muito mais populosa que a zona rebelde".

O objetivo anunciado da oposição de tomar a cidade "não é realista no curto prazo, a não ser que as defesas pró-governamentais caiam de repente, o que é pouco provável", estima Thomas Pierret, especialista em Síria.