Oito meses depois do assassínio, a Amnistia Internacional alegou que o caso tem sido tratado como um "labirinto de estradas inexploradas e becos sem saída", depois de apresentar um documento à imprensa explicando as inconsistências na investigação.

A ativista foi morta na noite de 14 de março alvejada por tiros junto com o motorista do veículo em que viajava, Anderson Gomes, no centro do Rio de Janeiro, após participar num evento político.

O assassínio da vereadora aconteceu um mês depois de o Governo brasileiro ter decretado uma intervenção federal na área de segurança pública do Rio de Janeiro, ato administrativo que deixou o controlo da ordem pública nas mãos das Forças Armadas.

Como política e ativista, Marielle Franco frequentemente denunciava abusos cometidos por agentes da polícia.

Portanto, para a coordenadora da investigação da Amnistia Internacional, Renata Neder, o assassínio "sugere a participação de agentes do Estado" e as autoridades "não estão a responder adequadamente".

Segundo a organização internacional, há cinco pontos que implicam desacordos no processo de investigação que está ocorrendo: a munição usada, a arma, os veículos envolvidos, o procedimento em si e as autoridades.

Um dos pontos mais críticos diz respeito ao facto de que a munição usada no crime pertencia a um lote da polícia federal brasileira ligado a múltiplos assassínios em São Paulo que aconteceram em agosto de 2015.

As câmaras de segurança próximas à cena do crime também levantam suspeitas já que foram desligadas na véspera do crime.

Também foram indicados como pontos problemáticos da investigação o desaparecimento de cinco armas do arsenal de Polícia Civil no Rio de Janeiro.

"O assassínio de Marielle foi um ataque aos direitos humanos e às instituições democráticas", disse Renata Neder.

Além disso, a organização reiterou a necessidade de criar um grupo externo independente formado por especialistas e juristas para resolver o caso.

Os pais de Marielle Franco acompanharam a coordenadora da Amnistia Internacional na apresentação do documento e disseram que ainda esperam que o assassínio da sua filha seja resolvido.

Marielle Franco, de 38 anos, membro do partido de esquerda Socialismo e Liberdade (Psol) nasceu nas favelas do Complexo da Maré, uma das áreas mais pobres e violentas do Rio de Janeiro.

Foi a quinta legisladora mais votada nas eleições de 2016 para a câmara do município do Rio de Janeiro.