"O ano de 2015 foi difícil, temo que 2016 seja terrível", disse à AFP um funcionário dos serviços de segurança franceses que prefere permanecer no anonimato.

"Os ataques são claramente uma vingança após a onda de detenções dos últimos dias. Trata-se de uma escalada. Provam que existem homens dispostos a operações suicidas a qualquer momento, com armas e explosivos", completa. "A mensagem é clara: estamos aqui, não poderão deter-nos", disse a fonte. "Na França, mas também na Europa [como um todo], é necessário preocuparmo-nos", insiste. "Vamos sofrer uma onda de terrorismo muito potente, que poderá ser freada apenas de forma parcial. Algumas equipas serão detidas, nunca houve tantas detenções como agora, mas não poderemos deter todos. É impossível, estamos submersos", declarou.

Terroristas estavam preparados: "Ninguém pode montar uma operação deste tipo em 48 horas"

A onda de detenções na Bélgica, no marco da investigação dos atentados de 13 de novembro, em Paris, que deixaram 130 mortos, permitiu desmantelar uma grande parte dos jihadistas enviados à Europa desde a Síria pelo grupo Estado Islâmico (EI), mas alguns suspeitos continuam a monte.

"Os atentados de Bruxelas provam que estavam preparados. Ninguém pode montar uma operação deste tipo em 48 horas", disse Thomas Hegghammer, especialista do instituto Novergian Defense Research Establishment. "Se admitimos que estes ataques estão mais ou menos vinculados aos de Paris, é a primeira vez que uma mesma rede é capaz de atacar duas vezes de forma tão importante", completa.

Antes de morrer, o suposto chefe do comando que atacou em Paris, Abdelhamid Abaaoud, teria revelado a pessoas próximas que tinha chegado a França "sem documentos oficiais" acompanhado por 90 homens, "sírios, iraquianos, franceses, alemães, ingleses". Haverá outros atentados "piores", tinha completado Abdelhamid Abaaoud. "Devemos levar esta afirmação a sério, temos noção disso há algum tempo", afirma o funcionário francês.

"As críticas contra a polícia belga são injustificadas: trabalham bem, mas estão submersos pela quantidade, como todos os colegas europeus. Vamos todos sofrer ataques, tenho medo", declarou.

"Há sempre suicidas disponíveis"

A resposta a extremistas tão determinados, que graças a cinco anos de guerra na Síria e muitos mais no Iraque dominam o uso das armas de guerra e a fabricação de explosivos de fabricação caseira, mas muito potentes, é difícil. "O mais inquietante é que os atentados desta terça-feira provam que há sempre suicidas disponíveis", completa o responsável. "Contra isto não se pode fazer nada. Inclusive as patrulhas de soldados não conseguem", declarou. "Pode haver sorte: controla-se uma pessoa com pinta de suspeita e bingo!", destaca. "Mas imagine-se num aeroporto, em hora de ponta, é impossível", completa. "E se colocarem controlos de malas à entrada do aeroporto criam-se filas no exterior, que se transformam em alvos ideais, o que é pior", insiste.

Milhares de voluntários viajaram para juntarem-se ao Estado Islâmico e centenas já voltaram ao seu país de origem. Uns chamaram a atenção, mas outros regressaram com total discrição.

Os serviços de inteligência e a polícia procuram a resposta para uma ameaça inédita. "Hoje ocorreu na Bélgica, mas o mesmo poderia ocorrer em qualquer outro lugar. Sobretudo, não se deve acreditar que se trata de um problema belga", finalizou Thomas Hegghammer.