Os casos não se resumem apenas a Portugal, cujas páginas de jornais dão conta das muitas toneladas roubadas desde o início do ano. Uma pequena pesquisa mostra-nos, no entanto, que além-fronteiras, sobretudo em países como Espanha, Itália, Grécia ou Turquia, quatro dos maiores produtores mundiais, a realidade é a mesma, existem muitos casos de furto de azeitonas. O que é preciso então fazer para colocar um travão nestes crimes, sobretudo no nosso país?
“Já reunimos com o Ministério da Administração Interna, onde pedimos mais atuação e fiscalização da GNR. De facto, tem-se verificado uma ação mais robusta e uma maior presença de brigadas no terreno, que é o que o setor pede e precisa. No entanto, é sempre preciso mais, como mais fiscalização no destino desta azeitona de proveniência duvidosa, e de azeites que podem ser produzidos com o produto roubado. É importante que haja detenções e que estas pessoas sejam levadas à justiça para desincentivar o roubo”, transmitiu ao SAPO24 a Olivum, Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal.
Muitos podem ficar perplexos com este crime, o roubo das azeitonas, o fruto das oliveiras. Mas a explicação para o mesmo é simples, o dinheiro feito com a venda final. “A azeitona é um produto vendido a preço elevado, principalmente em anos de baixa produção como o atual. Depois, há o preço do azeite, que devido à escassez no mercado nacional e internacional também subiu, que o torna um produto apetecível para venda”, salientou a Associação.
"É importante que haja detenções e que estas pessoas sejam levadas à justiça para desincentivar o roubo"Olivum
Este fruto tem muitos benefícios, desde estéticos a alimentares, sendo que se utiliza, na sua grande maioria, para azeitona de mesa ou azeite. Assim sendo, o roubo, dizem os entendidos, terá um destino óbvio.
“O crime de roubo de azeitona só compensa se existir acordo com um recetor, que pode ser um intermediário ou, no limite, um lagar. É um crime com vários agentes e, no fim da cadeia, pode inclusivamente permitir a circulação de azeite embalado com etiquetagem que não corresponde minimamente ao que está a ser vendido. Os grandes prejudicados com estes assaltos são os produtores, que perdem o fruto e muitas vezes ficam com as suas plantações danificadas, e os consumidores”, referiu a Olivum.
É uma constatação de quem está por dentro do assunto, dado que dificilmente os ladrões poderiam fazer algo com este fruto sem ter alguém que o transforme. E teme-se que este fenómeno continue a crescer, sobretudo devido à baixa produção, embora haja direito também a muitos elogios às forças de autoridade.
“O trabalho das autoridades, nomeadamente da GNR, tem sido marcado por uma maior robustez e maior presença no terreno. Neste sentido, a Olivum elogiou e agradeceu publicamente a atuação da GNR durante esta campanha, em que houve um maior ‘apetite’ para o roubo de azeitona, por ter sido um ano de pouca azeitona e pouco azeite no mercado, e da qual resultaram várias apreensões, nomeadamente no contexto das operações “Azeitona em Movimento” e “Campo Seguro”, diz a Olivum, que, “infelizmente”, não tem acesso “às estatísticas sobre o furto de azeitona e das apreensões que têm sido realizadas ano após ano”, salientando que “a maioria dos furtos acontece durante a noite/madrugada, mas há detenções a qualquer hora do dia e em flagrante delito”.
"É um crime com vários agentes e, no fim da cadeia, pode inclusivamente permitir a circulação de azeite embalado com etiquetagem que não corresponde minimamente ao que está a ser vendido"Olivum
O 'profissionalismo' do roubo
Dadas as muitas toneladas roubadas todos os anos, em vários países, é caso para dizer que existe já um certo nível de profissionalismo dos ladrões de azeite. Em Portugal, por exemplo, escolhem “as grandes áreas de olivais, situadas, na sua grande maioria, em áreas despovoadas”. No país vizinho, o principal produtor mundial de azeite, há esquemas verdadeiramente preparados ao pormenor.
“Eles roubam em plena luz do dia, sem qualquer tipo de problema. Há muita fiscalização, mas poucas pessoas para trabalharem esta fiscalização até ao pormenor”, disse ao SAPO24 Manuel Díaz, produtor e associado da ASOLIVA, Associação Espanhola da Indústria e Comércio de Exportação de Azeite, dando exemplos do descaramento dos ladrões.
“Muitos são apanhados pela polícia, mas vêm preparados, até com documentos, há um profissionalismo assustador no roubo de azeitonas. Têm papéis de um suposto proprietário, com um contacto telefónico e dizem que estão a trabalhar para essa pessoa. A polícia liga então para o número e do outro lado contam-lhe a mesma história. A maioria consegue fugir, porque são poucos os polícias que se deslocam ao local para falar com o dito proprietário”, disse Manuel Díaz, que tem a mesma opinião da Olivum sobre o destino final das azeitonas.
“É claro que vão para um lagar ou até para produtores cuja produção foi pouca. Quem rouba azeitonas é para vender em algum lado para transformar em azeite”, salientou o produtor, destacando que é preciso muito dinheiro para proteger os roubos.
“Os investimentos são muito altos. É impossível ter pessoas a guardar centenas de hectares ou rodear os olivais com cercas. É muito, muito caro. E é por isso que não há mais segurança. Os olivais são cada vez maiores, a despesa cresce a cada ano”, disse, dando exemplos do que se passa em Espanha para evitar que os roubos cresçam todos os anos.
"Muitos são apanhados pela polícia, mas vêm preparados, até com documentos, há um profissionalismo assustador no roubo de azeitonas"Manuel Díaz, produto espanhol
“Os crimes estão a ser punidos com mais vigor. Antes ou pagavam uma multa ou estavam presos pouco tempo, agora são duramente castigados. É claro que é preciso fazer mais, muito mais, pois muitos produtores, sobretudo os mais pequenos, perdem colheitas quase totais com estes roubos. E o que eles fazem para prevenir essas perdas? Aumentam os olivais, o que também não é bom”, concluiu.
A questão dos grandes olivais, diga-se, é também ela vista em Portugal como um problema. “O roubo de azeitona é um crime recorrente e que tem vindo a aumentar com a instalação de mais área de olivais, principalmente em anos de baixa produção e preço elevado”, diz a Olivum, que, ainda assim, também vê mais detenções no nosso país.
“O que temos tido é um aumento das apreensões de azeitona furtada devido a uma atuação mais robusta das autoridades, e bem. Como já dissemos, há uma maior perceção da gravidade desta situação, pelo aumento e melhoria de comunicação das autoridades sobre a apreensão de azeitona roubada e os resultados que têm sido alcançados nas atuações da GNR”, referiu.
Comentários