No dia do seu 38.º aniversário, André Ventura elevou a fasquia no seu discurso mais longo e empolgado (mais de meia-hora) desde o início da campanha eleitoral, domingo, num jantar/comício com cerca de 60 apoiantes, numa ampla sala de um hotel viseense.
“Não vos posso prometer vitórias, mas posso-vos prometer a luta até ao fim, até ao último segundo desta campanha, contra tudo e contra todos, contra os dois candidatos socialistas desta eleição, Ana Gomes e Marcelo Rebelo de Sousa”, afirmou.
O líder do partido da extrema-direita parlamentar prometeu aos seus “fiéis” ir “lutar o que puder, com o que tiver e o que não tiver, para que estes dois candidatos socialistas não continuem a humilhar Portugal, a envergonhar Portugal e a permitir mais não sei quantos anos de governação socialista”.
A extensa intervenção foi sendo pontuada a espaços com pedaços da banda sonora do filme britânico “Momentos de Glória”, da autoria do compositor grego Vangelis e que se transformou em hino internacional da especialidade de atletismo da maratona.
Para Ventura, há duas opções: “Marcelo vence e o PS vai continuar a ser levado ao colo ou nós provocamos uma segunda volta e nada ficará como dantes”, descreveu, citando como exemplo o caso francês, onde os nacionalistas Jean-Marie Le Pen (2002) e Marine Le Pen (2017) conseguiram ultrapassar a primeira volta de eleições presidenciais.
“Afastam procuradores-gerais, presidentes de tribunais de contas, espiam jornalistas e nada acontece. Caminhamos sorridentemente para uma ‘Venezuelização’ do regime sem que ninguém se preocupe… Só falta começarem a prender opositores políticos”, continuou, classificando o atual executivo minoritário socialista como o “mais corrupto da História de Portugal”, sem justificar a alegação.
O ex-primeiro-ministro e antigo secretário-geral do PS José Sócrates, suspeito de crimes de corrupção, também não ficou sem resposta.
“Eu estou preocupado com o dinheiro que ele [Sócrates] ainda não devolveu ao Estado, com um Governo que nos levou à maior crise financeira de sempre e que ainda não foi julgado. Estou preocupado que ele ande a fazer ‘jogging’ (corrida) na Ericeira quando o seu processo já há muito devia ter acabado e, provavelmente, deveria estar preso”, afirmou Ventura.
Sócrates considerara que chegou a Portugal uma “vaga de degradação política” com as eleições presidenciais, alertou para a “brutalidade” da extrema-direita e criticou a “maledicência” para “agradar a pasquins” da concorrente a chefe de Estado e militante do PS, Ana Gomes, num texto publicado na revista brasileira “Carta Capital”.
Antes do discurso, no primeiro dia de novo “dever geral de recolhimento domiciliário” por causa da pandemia de covid-19, Ventura soprou as velas do bolo de aniversário e foi brindado com uma interpretação lânguida de “Happy Birthday, Mr. President” (Feliz Aniversário, sr. Presidente) pela atriz e mandatária para as comunidades, Maria Vieira.
A antiga colaboradora do humorista Herman José imitou a atriz Marilyn Monroe, protagonista de filmes como “Os Homens Preferem as Loiras”, “O Pecado Mora ao Lado”, “Paragem de Autocarro”, “Quanto Mais Quente Melhor” ou “Os Inadaptados”, na homenagem prestada a John Fitzgerald Kennedy, o 35.º presidente dos EUA.
O deputado único e líder da força política nacional-populista brincou, dizendo que não esperava Marylin “Parrachita” Monroe, pois julgou estar apenas ao nível de uma Ágata ou uma Romana, sentando-se em seguida ao piano para dedilhar notas dispersas.
A mulher de Ventura, a fisioterapeuta de crianças Dina, esteve hoje, pela primeira vez, presente na campanha, tal como o ideólogo e “n.º 2″ do partido, Diogo Pacheco Amorim.
As eleições presidenciais realizam-se em plena epidemia de covid-19 em Portugal em 24 de janeiro, a 10.ª vez que os cidadãos portugueses escolhem o chefe de Estado em democracia, desde 1976. A campanha eleitoral começou no dia 10 e termina em 22 de janeiro.
Há sete candidatos: o incumbente Marcelo Rebelo de Sousa (apoiado oficialmente por PSD e CDS-PP), a diplomata e ex-eurodeputada do PS Ana Gomes (PAN e Livre), o deputado único do Chega, André Ventura, o eurodeputado e dirigente comunista, João Ferreira (PCP e “Os Verdes”), a eurodeputada e dirigente do BE, Marisa Matias, o fundador da Iniciativa Liberal Tiago Mayan e o calceteiro e ex-autarca socialista Vitorino Silva (“Tino de Rans”, presidente do RIR – Reagir, Incluir, Reciclar).
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