"É sabido que o padre Mário Rui me é próximo. Casou-me, esteve comigo quando eu era estudante universitário, portanto é uma notícia que me choca bastante", afirmou André Ventura, no decurso de uma conferência de imprensa organizada pelo partido Chega.

Ventura respondeu assim às perguntas dos jornalistas quanto ao afastamento do padre Mário Rui Pedras das paróquias de São Nicolau e da Madalena por parte do Patriarcado de Lisboa.

Foi o próprio padre que fez chegar aos paroquianos que o seu nome consta na lista de alegados abusadores entregue pela Comissão Independente de Investigação aos Abusos Sexuais na Igreja Católica, um dia depois do anúncio do Patriarcado de Lisboa de que tinha afastado preventivamente quatro sacerdotes no ativo suspeitos de abusos sexuais.

De acordo com uma investigação do semanário Expresso sobre o passado de André Ventura, Mário Rui Pedras é o confessor e diretor espiritual do deputado e presidente do Chega. Ventura tem à secretária uma fotografia sua com o pároco, conhecido pelas suas posições conservadoras.

Apesar da sua proximidade ao sacerdote, Ventura garante que tal "em nada muda" a sua postura em que relação aos casos de abuso na Igreja Católica. "A justiça tem de ser aplicada para todos, seja em que circunstância for, seja com que proximidade for e seja quem seja", afirmou, dizendo ainda que "a lei é dura, mas é para cumprir".

"É assim mesmo que eu faço na vida e na política, quando envolve amigos, familiares e todos os outros", frisou. Confessando-se "chocado", Ventura quis separar as águas dada a sua responsabilidade pública. "Sou o líder de um partido, tenho de por acima disso o interesse nacional e o interesse da justiça, que é que se faça, que se apure até ao fim, sem interferências políticas ou de qualquer outra espécie".

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

"É isso que defendemos, mesmo quando os casos são pessoais, quando nos tocam ou quando doem", sublinhou.

Já quando foi questionado acerca da sua própria convivência com Mário Rui Pedras, o líder do Chega garantiu que não só não foi alvo de abusos, como também não presenciou qualquer tentativa a terceiros.

"Não gosto muito de falar muito da minha vida privada porque acho que devemos ter essa linha protegida. Em todo o caso, sabendo-se que é um assunto de interesse público e de um tema muito relevante, vou dizer o que já tinha dito. Entrei num seminário, vivi numa igreja depois de sair do seminário enquanto estudante universitário, casei-me pela Igreja, fui e continuo a ser religioso, continuo a fazer parte da Igreja. Nunca fui alvo de alguma espécie de abuso, de tentativa de abuso ou de algo parecido", afirmou.

Além disso, Ventura disse também nunca ter assistido, quer no seminário, quer na Igreja de São Nicolau, a "qualquer ato menos próprio" ou que lhe "levantasse suspeitas", por parte de ninguém e "muito menos por parte desse sacerdote".

O líder político garantiu ainda não ter falado com Mário Rui Pedras, adiantando também que só soube do caso quando se tornou notícia nacional.

Mário Rui Pedras afirma estar inocente, falando em "profunda injustiça" e garantindo que tudo fará para "desmascarar" quem o difamou de forma "anónima, caluniosa, sem qualquer elemento útil ou prestável para investigação".