Hoje, segundo a rádio pública angolana, o chefe de Estado e presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), José Eduardo dos Santos, indicou o vice-presidente do partido e atual ministro da Defesa, João Lourenço, como o candidato do partido a Presidente da República nas eleições de 2017.
A 15 de outubro de 2013, o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, anunciou o fim da parceria estratégica com Portugal, durante o discurso sobre o estado da Nação.
"Só com Portugal, as coisas não estão bem. Têm surgido incompreensões ao nível da cúpula e o clima político atual, reinante nessa relação, não aconselha à construção da parceria estratégica antes anunciada", disse José Eduardo Santos.
Dias antes, o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, em entrevista à Rádio Nacional de Angola, tinha pedido desculpa a Luanda pelas investigações do Ministério Público português, declarações que provocaram polémica em Lisboa.
A justiça foi, aliás, motivo de críticas de Luanda a Lisboa, nomeadamente no caso da detenção dos ativistas angolanos, entre os quais Luaty Beirão, em Angola.
O Jornal de Angola considerou “um precedente grave” a visita do então embaixador português em Luanda ao ativista lusodescendente, e acusou o Governo português de ter voltado a “cair na asneira de se pôr do lado errado".
Na reação à notícia da condenação dos ativistas, em março deste ano, o Governo português afirmou ter tomado “boa nota” da decisão da defesa de interpor recurso, e disse confiar que a tramitação do processo obedeceria aos princípios fundadores do Estado de Direito, “incluindo o direito de oposição por meios pacíficos às autoridades constituídas”.
Outro caso que gerou críticas foi o que envolveu o vice-presidente angolano, Manuel Vicente, indiciado em Portugal por corrupção ativa no mesmo processo que levou à detenção do procurador português Orlando Figueira.
Manuel Vicente, antigo presidente da petrolífera estatal Sonangol, salientou que o seu envolvimento na investigação portuguesa “não tem qualquer fundamento” e o Jornal de Angola denunciou, no início de março deste ano, a “instrumentalização da Justiça portuguesa” para “lançar na lama” o nome de dirigentes angolanos.
Dias depois, o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros português e ex-presidente do CDS-PP, Paulo Portas, apelou aos órgãos de soberania para evitarem "a tendência para a judicialização da relação entre Portugal e Angola", considerando-a "um caminho sem retorno", e a procurarem "em todas as frentes o compromisso".
Portas recordou então que em Angola estão mais de 100 mil portugueses, duas mil empresas nacionais e cerca de 10 mil empresas a exportar.
Já o chefe da diplomacia portuguesa, Augusto Santos Silva, defendeu que “não há nenhuma questão político-diplomática" entre Portugal e Angola e garantiu que 2016 seria "um ano de intensificação das relações" bilaterais.
Na mesma ocasião, a diplomacia angolana acusou Portugal de querer fazer “uma imposição” na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) por causa da escolha do próximo secretário-executivo, e Lisboa propôs então ceder a sua vez a São Tomé e Príncipe, que indicou Maria do Carmo Silveira para o lugar, sucedendo-lhe um responsável português.
No dia da reunião dos chefes da diplomacia dos nove países da CPLP, em que este tema foi discutido, o ministro das Relações Exteriores angolano anunciou que o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, vão visitar oficialmente Angola "em breve", em datas que serão tratadas pela via diplomática.
Houve outros momentos de alívio na tensão entre os dois países.
Em janeiro de 2015, o então ministro dos Negócios Estrangeiros Rui Machete deslocou-se a Luanda e, no final de um encontro com o Presidente angolano, disse que José Eduardo dos Santos tinha acentuado que se “encerrava um ciclo em que tinha havido um ou outro mal-entendido e que agora as coisas estavam naturalmente límpidas e caminhando muito bem”.
Um ano depois, já com o PS no Governo, o embaixador de Angola em Lisboa, José Marcos Barrica, transmitiu uma mensagem do executivo angolano, segundo a qual existiam “maturidade e serenidade bastantes” entre Lisboa e Luanda para “resolver e ultrapassar os eventuais mal-entendidos”, manifestando “vontade política em sedimentar as relações” entre os dois países.
Na última cimeira da CPLP, que decorreu em Brasília no início de novembro, o secretário-geral eleito das Nações Unidas, o português António Guterres transmitiu a Angola, membro não permanente no Conselho de Segurança da ONU, o seu “profundo reconhecimento pela solidariedade” que deu à sua candidatura, que considerou ter sido “decisiva” para a sua eleição.
Os últimos anos foram também marcados pela crise económica em Portugal, mas também em Angola, fruto da quebra da cotação internacional do barril de crude, que fez cair para metade as receitas angolanas com a exportação de petróleo. Investimentos e exportações portuguesas ressentiram-se e, até hoje, persistem muitos casos de trabalhadores nacionais que estão sem receber os seus ordenados em Angola.
Em finais de 2013, quando José Eduardo dos Santos anunciou o fim da cooperação entre Lisboa e Luanda, estava em preparação a primeira cimeira bilateral, prevista para o início do ano seguinte, na capital angolana.
O encontro de alto nível nunca se realizou, mas essa possibilidade volta agora a estar em cima da mesa.
A secretária de Estados dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro, já visitou Angola e estava prevista para estes dias uma deslocação do ministro Augusto Santos Silva, que foi entretanto adiada para janeiro.
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