A peça da revista Sábado surge de uma denúncia anónima relativa ao despedimento de cinco trabalhadoras em licença de maternidade. O trabalho incentivou uma antiga funcionária do BE a publicar um texto nas redes sociais a contar a sua história. E a esclarecê-la depois da queixa do BE na ERC.

Érica, como se refere online, foi despedida em 2022 , com um "um falso contrato de trabalho a termo a vigorar até ao fim" do ano.  Conta que, enquanto funcionária do partido, trabalhou várias vezes a partir do telemóvel ao mesmo tempo que amamentava a filha de nove meses. Na mesma altura, saiu um homem "e uma mulher em licença de maternidade com um filho de dois meses. Ficaram um homem e duas mulheres sem filhos, com toda a disponibilidade”. 

“Não considero que essa lógica se aplique à precariedade e vulnerabilidade que a gravidez e a amamentação trazem a uma mulher trabalhadora. Eu era uma trabalhadora a amamentar. Sou cuidadora”, refere.

No entanto, o BE desmente a informação e, num comunicado, acusa a reportagem de ter informação falsa, nomeadamente no que diz respeito às acusações de que uma “trabalhadora com um bebé de dois meses foi despedida do quadro do Bloco” .

Para Érica, a falta de disponibilidade é a principal razão que levou ao despedimento coletivo “mal gerido”.“As recém mães não podem viajar, não trabalham 60h semana, não apagam fogos às 23h ou ao domingo, não respondem de imediato às mensagens e emails. As recém mães têm limitações e é por isso que existem leis que as protegem. Leis que o Bloco de Esquerda defende”, reforça.

 “Arrependo-me até hoje [de ter assinado o contrato], mas a verdade é que assinei quando queria ir para tribunal de trabalho. Também eu fui hipócrita”, reconhece. Ainda assim, esperava ter mais apoio dos colegas e do partido.

“Vários trabalhadores saíram sem o respeito que mereciam. Das feministas do Bloco não ouvi uma palavra de solidariedade. Em 15 anos de partido, foram cinco os militantes que falaram comigo em privado”, refere. Até à data, a antiga trabalhadora diz não ter tido vontade de falar à imprensa, “mas falo agora porque noto o silêncio à esquerda e o silêncio das mulheres”. 

Continua: “sei que o Bloco pede a partilha do comunicado em grupos de Whatsapp e as suas militantes feministas fazem-no. Não aguento a lógica que põe o partido à frente dos nossos valores”

O BE justifica-se, alegando que depois das eleições legislativas de 2022, perdeu “metade da subvenção mensal que recebia”, obrigando à redução da sua estrutura profissional “em aproximadamente 30 pessoas”. Em dois casos, que se supõe serem os que Érica refere, o BE diz ter proposto “que a cessão de vínculo se efetuasse no final de dezembro de 2022, garantindo às duas funcionárias mais tempo de preparação da fase seguinte das suas vidas”. 

Enquanto o partido alega que respondeu aos jornalistas, ainda que sem servir "a mentira da “Sábado””, Érica diz não ter falado antes sobre o assunto com medo “do aproveitamento pela direita e extrema-direita”. No entanto, vem agora a público denunciar o caso, ciente de que “a responsabilidade pela decisão e erros políticos é dos dirigentes do partido”, e não sua.

Sobre a reportagem da "Sábado", Érica revela que "desconhecia” a história contada pela fonte anónima. Na verdade, nenhuma das mães despedidas em 2022, incluindo a própria, falaram com a comunicação social. Apesar de frisar que o processo de despedimento não foi o correto, e confirmar algumas das acusações, Érica aponta erros na peça, entre os quais não ter sido a “namorada de um dirigente” a despedir os trabalhadores. 

A polémica resultou numa queixa por parte do Bloco na Entidade Reguladora para a Comunicação Social.

*Texto da jornalista estagiária Ana Filipa Paz, editado pela jornalista Ana Maria Pimentel