“As tentativas para a abertura a voos civis da Base de Monte Real (concelho de Leiria) datam dos inícios dos anos 1960 e são quase tão antigas como a própria Base” (inaugurada em 1959), escreve Joaquim de Sousa, presidente da Câmara Municipal da cidade entre 1980 e 1982, no livro ‘Figueira da Foz. Memória de um mandato e os anos perdidos’.
O antigo autarca, eleito pelo PS, depois de ter sido deputado à Assembleia da República e secretário de Estado da Juventude e Desportos (1976-78), recorda momentos, documentos e nomes da defesa da abertura ao tráfego civil da Base de Monte Real, na qual também se envolveu.
Mas, “perto de 60 anos depois, ainda não se conseguiu ultrapassar alguns interesses instalados”, designadamente “o ‘lobby’ do turismo religioso a partir de Lisboa e a “tranquilidade dos militares”, sublinha o ex-militante socialista (aderiu ao PSD em 1987) e atual provedor da Misericórdia da Figueira da Foz.
Sem ir além do anúncio, ficou também “a fantasia de 50 milhões de contos”, em 1991, ligados a “’investidores’ mais do que duvidosos” para o “Aeroporto Internacional da Costa de Prata, com TGV (elevado) a ligar [a Figueira] a Coimbra, Leiria e Fátima”, exemplifica Joaquim de Sousa, a propósito dos “quinze anos ‘negros’” de gestão autárquica, que ainda hoje se refletem” no desenvolvimento do concelho – período compreendido entre o final do seu mandato (não se recandidatou, apesar do convite de Mário Soares) e o de Santana Lopes (1998-2001), que apelida de “reinado do efémero”.
A maior parte das memórias no livro de Joaquim de Sousa dizem no entanto essencialmente respeito ao período em que liderou a autarquia e durante o qual sobressaem momentos como a inauguração da ponte sobre o Mondego: “Foi o povo que a inaugurou”. E o Presidente da República, Ramalho Eanes, e o autarca, para participarem na sessão, tiveram de “aproveitar a boleia do autocarro que transportava a Comunicação Social”.
Joaquim de Sousa destaca também as comemorações do centenário da cidade e do 10 de Junho (primeiras realizadas fora de uma capital de distrito) ou o iniciar da instalação da papeleira da Soporcel (hoje The Navigator Company). Nesse ano (1982), “a Figueira foi posta no mapa sem qualquer ficção mediática…”, sustenta.
Mas “a estratégia que vinha sendo delineada e posta em execução não teve sequência” e este livro – que é “uma síntese, documentada e acessível” – surge sobretudo na expectativa de que “uma geração futura a possa retomar”, numa perspetiva atualizada, disse à agência Lusa o autor.
Trata-se, deliberadamente, de um “testemunho breve”, que pretende ser “um contributo” para a Figueira da Foz (cuja “raiz histórica não é o turismo”, embora seja um “importante complemento”), mas no qual caberiam muitos mais documentos, fotos e memórias, como, por exemplo o estudo para o “desenvolvimento estratégico do corredor Figueira da Foz/Montemor-o-Velho/Coimbra”.
Joaquim de Sousa defende, por outro lado, que, mais do que as opções partidárias, no poder local “interessa as pessoas” e, na publicação, lembra que todos os seus vereadores tinham pelouros atribuídos e Saraiva Santos (PS) – falecido em 21 de julho deste ano, e a cujos arquivos pessoais o autor recorreu para escrever o livro – e Moreira dos Santos (AD) possuíam o estatuto de “presidente-adjunto”.
A obra vai ser apresentada na terça-feira, às 18:00, no Casino da Figueira da Foz, pelo jornalista António Quaresma Ventura, autor do prefácio.
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