Em declarações à agência Lusa, Lídio Lopes, que também é presidente dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz, pediu a saída de Nuno Osório, acusando-o de "abandonar a coordenação das operações de socorro em plena crise" da tempestade Leslie na madrugada de domingo "com a população a requisitar a maior ajuda" dos agentes de Proteção Civil e "sem comunicar esse abandono, sequer, a quem o iria substituir no comando operacional dos bombeiros".
Por outro lado, Lídio Lopes, que antecedeu a Nuno Osório na coordenação da Proteção Civil municipal, apontou ao também comandante dos Bombeiros Municipais a "leviandade de não ter acionado os mecanismos, sob a sua competência e à sua disposição, de prevenção e intervenção em situações de crise e de planeamento, acautelando a intervenção coordenada de todas as entidades que integram o sistema de Proteção Civil" durante a passagem da tempestade Leslie.
Em causa, no pedido de demissão, está o facto de Nuno Osório ter deixado a coordenação operacional, segundo o próprio, para ir "descansar", alegadamente sem comunicar a ausência, quer a quem o deveria substituir enquanto comandante das operações de socorro (COS), com tutela sobre todos os bombeiros presentes no teatro de operações, quer ao comandante operacional distrital [CODIS] de Coimbra da Autoridade Nacional de Proteção Civil.
Ouvido pela Lusa sobre o paradeiro do coordenador operacional municipal na madrugada de domingo, o presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, João Ataíde afirmou desconhecer e remeteu a resposta para o próprio Nuno Osório.
"Não sei, pergunte-lhe. Eu sei que saí daqui às duas da manhã e [a tempestade Leslie] já estava em situação de acalmia, todas as situações de emergência já estavam garantidas. Se o comandante se retirou é uma questão que lhe deve perguntar", respondeu João Ataíde.
Já Carlos Luís Tavares, CODIS de Coimbra, que nessa noite enviou para a Figueira da Foz meios de reforço de Aveiro e da Força Especial de Bombeiros, disse desconhecer que Nuno Osório tenha abandonado as funções.
"Se o fez, devia ter dado conhecimento e não deu", frisou Carlos Luís Tavares.
Aos jornalistas, Nuno Osório, admitiu que "não às três da manhã [de domingo] mas mais tarde, em pleno declínio das necessidades de resposta às ocorrências", cerca das 05:00, entendeu "ir descansar" para estar de regresso à coordenação a partir das 08:30, o que aconteceu, disse.
O trabalho expectável ao longo do dia "exigia que estivesse minimamente em condições para dar resposta", argumentou.
Nuno Osório diz ter passado o comando dos Bombeiros Municipais ao segundo comandante da corporação, Jorge Piedade, e a parte da coordenação da Proteção Civil municipal "aos técnicos superiores" daquela entidade.
Enquanto coordenador operacional municipal, Nuno Osório coordena todas as entidades de Proteção Civil concelhias - corporações de bombeiros, Cruz Vermelha Portuguesa, forças policiais ou funcionários de obras municipais e higiene e limpeza, entre outras.
Já enquanto comandante dos Bombeiros Municipais, numa situação de emergência, também assume as funções de COS, com o comando operacional dos bombeiros presentes - no caso da tempestade Leslie, na Figueira da Foz, a corporação de Voluntários, o reforço de Aveiro e os operacionais da Força Especial de Bombeiros.
Ao ausentar-se, essas funções deveriam passar para o bombeiro mais graduado no município, o que, na prática, é o outro comandante concelhio, o dos Bombeiros Voluntários (BVFF), João Moreira.
Este garantiu à Lusa que não teve "comunicação ou aviso prévio" da ausência de Nuno Osório e que não assumiu, por isso, as funções de COS, ficando a Figueira da Foz "oficialmente sem comandante de operações de socorro" durante várias horas, até ao início da manhã de domingo.
João Moreira adiantou, por outro lado, que só soube da ausência do comandante dos Bombeiros Municipais através de uma chamada "via rádio, porque não havia comunicações [telefónicas]" do segundo comandante Jorge Piedade, "por volta das 02:30", duas horas e meia antes da hora a que Nuno Osório garante ter ido descansar.
"Perguntou-me onde é que punha os meios [do reforço de Aveiro e da Força Especial de Bombeiros] e eu questionei o porquê da pergunta", frisou João Moreira, já que essa competência estava atribuída pelo CODIS a Nuno Osório, explicou.
"Perguntei e [Jorge Piedade] disse-me que ele [Nuno Osório] já não estava", frisou João Moreira.
Instado a esclarecer o caso, Nuno Osório disse desconhecer o contacto entre o seu segundo comandante e João Moreira para que este último decidisse o posicionamento dos meios de reforço, numa altura em que o comandante dos Bombeiros Municipais ainda estaria em funções.
Já sobre quem assume as funções de comandante das operações de socorro na Figueira da Foz, no caso de um eventual impedimento seu, Nuno Osório não respondeu: "Isso está bem definido no sistema de gestão de operações, é só ler a legislação, isso é do âmbito operacional, está claramente definido entre nós", alegou.
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