“A Comissão de Ética informa que, ao abrigo da diretiva n.º 3/2020 e do regulamento disciplinar, foi aprovada a suspensão provisória do militante José Augusto dos Santos Dias por um período de 180 dias [seis meses] e vai ser proposta a sua expulsão ao Conselho de Jurisdição”, lê-se numa nota publicada na quarta-feira no ‘site’ do Chega.

A comissão de ética do partido de extrema-direita indica também que a “suspensão provisória do militante tem ainda efeitos quanto a todos os mandatos e funções do visado, bem como quanto à sua capacidade eleitoral ativa e passiva”.

Em declarações à agência Lusa, o antigo vice-presidente e militante número 14 do Chega indicou que esta penalização se deveu a uma publicação que fez na semana passada na sua página na rede social Facebook, na qual critica os moldes da rentrée do partido, que decorre hoje no casino de Vilamoura.

Nesse texto, José Dias considera que o presidente do Chega “aburguesou-se” e “agora prefere os espaços alcatifados, espelhados e bem fechados, cheios de guarda-costas, com uma audiência reduzida a cerca de 300 fregueses e compadres a pagarem 30 euros por cabeça”.

“Escolhe para a festa de 'rentrée' um ambiente de casamento de senhoras de ‘toilette’ e de senhores aprimorados, a falarem controladamente e em sussurro, em vez da berraria espontânea da multidão suada dos comícios precursores das mudanças que se ambicionam? Onde está o povo? Que partido Chega é este que perdeu a alma?”, escreveu também.

“Como eu sou na oposição do partido e apoio o Nuno Afonso contra o André Ventura e as formas de ele gerir o partido, [o líder] ficou muito ofendido que eu diga que está aburguesado e que tem os seguranças e resolveu zangar-se e suspender-me”, afirmou José Dias à Lusa.

O ex-dirigente indicou que foi notificado na terça-feira. “Nem dizem o porquê da ofensa”, declarou, acrescentando que teve “24 horas para apresentar a defesa”.

“Apresentei, e cinco ou 10 minutos depois estava suspenso”, lamentou.

José Dias considerou que a comissão de ética “é ilegal porque não foi reconhecida pelo Tribunal Constitucional e não tem regulamentação própria”.

“É uma coisa que serve os interesses do André Ventura. Tudo o que é adversário político, ele manda calar através da ética”, acusou, salientando que “isto é uma tramóia de propósito para afastar os apoiantes do Nuno Afonso” e “para Ventura não ter oposição”.

Sobre uma eventual expulsão, o antigo vice-presidente (cargo que ocupou durante dois anos até ser afastado pelo líder) apontou que “não há motivo nenhum” que a justifique e “é completamente ilegal”.

“Ainda não chegamos a esse ponto de alguém ser expulso por ter uma opinião diferente do partido e do presidente do partido. Era o fim da democracia”, defendeu.

José Dias adiantou ainda que vai impugnar a suspensão junto da jurisdição do partido e “depois daí qualquer pena que surja vai parar ao Tribunal Constitucional”.

“Ainda vou estar no partido por muitos anos, vão ter de levar comigo”, garantiu.

De acordo com a nota divulgada pelo partido, a suspensão de José Dias foi feita ao abrigo de uma diretiva interna do presidente do Chega que estipulou que, a partir de dezembro de 2020, seriam proibidas e severamente sancionadas “todas as referências públicas, na imprensa, em redes sociais ou grupos alargados de conversação, a outros militantes ou dirigentes, com consequências objetivamente negativas para a imagem pública do partido e dos seus representantes”.