O auditório da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, foi pequeno para tanto público que hoje quis assistir à conversa entre os dois brasileiros, na inauguração do ciclo de debates do Festival Internacional da Cultura.
Numa conversa moderada pela escritora portuguesa e curadora do festival, Inês Pedrosa, o debate centrou-se na identidade cultural do Brasil e acabou por levar, inevitavelmente, a uma análise à atual situação política, depois da destituição de Dilma Rousseff como Presidente e a posse de Michel Temer.
"Um congresso não é o poder mais representativo. Dos três poderes, o que tem sido mais poderoso e que mais tem representado é o judicial. A minha esperança é que o poder judicial no Brasil consiga estabelecer uma ideia de equidade e democracia. Alguma coisa está errada ali, que não funciona bem, e eu não tenho resposta. Como se pode ter um governo democrático no Brasil? Essa é a questão fundamental", afirmou o escritor e poeta António Cícero.
O músico Caetano Veloso concordou com a influência do poder judicial e mostrou-se "otimista".
"O povo brasileiro sente uma atração maior e respeito maior pelo poder judicial. Está muito difícil, 'embolou' muito, mas mesmo quando as coisas estão difíceis como agora eu consigo manter algum otimismo. Resta saber se a nossa cultura está capaz de lidar com a enormidade deste desastre ou se o mundo vai acabar", defendeu.
Autor da frase "o Brasil vai dar certo porque eu quero", Caetano recordou-a mas assumiu que será preciso dizê-la muitas vezes para que as pessoas se convençam e possa ser verdade.
"É uma espécie de manta para os outros repetirem, mas não quero estar sozinho nessa. A impressão que dá é que nada vai ser bom no futuro próximo", frisou.
"A identidade cultural é uma utopia?" foi a questão discutida ao longo de mais de uma hora, na qual se abordou o multiculturalismo e falou-se de Fernando Pessoa, também uma referência para os brasileiros.
O Festival Internacional da Cultura (F.I.C) prolonga-se até ao dia 18 de setembro e vai contar com mais de cem eventos, entre sessões de debate, exposições, teatro, cinema e literatura, com a presença de mais de 65 autores, nacionais e estrangeiros.
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