O Brasil vive “um momento triste e terrível”, em que “os caminhos democráticos [estão] sendo usados para, talvez, atingir uma outra ditadura”, disse António Fagundes à Lusa, ressalvando contar “com o bom senso do provo brasileiro, para que isso não aconteça”.
Questionado pela agência Lusa sobre a atual situação política do Brasil, António Fagundes afirmou não integrar nenhum movimento de apoio a qualquer dos candidatos à presidência.
“O artista, apesar das suas opções políticas, quaisquer que sejam, tem de se manter equidistante de todos os movimentos para poder ter liberdade de escolha”, disse o ator que, ao longo de toda a sua carreira, optou por produzir teatro e cinema independente, sem aceitar subsídios estatais.
“Na medida em que tenho o apoio de um governo, não posso falar o que eu quero desse governo”, explicou, acrescentando manter a mesma posição “politicamente”, não se filiando em qualquer partido ou manifestando apoios a algum dos 13 candidatos que disputam a presidência do país.
Para fazer face a “uma das contradições da democracia”, que é um candidato “poder ser eleito para destruir a própria democracia”, António Fagundes defende que o país “precisa de educação”.
“É através da cultura e da educação que se forma um cidadão, uma pessoa que tenha integridade, que conheça a ética e que tenha compromisso com os outros e com a sociedade”, afirmou o ator, considerando ser por isso que “nenhum governo se preocupa com isso”. Porque, “a partir do momento que começar a existir [educação] ele [governo] deixará de existir”, concluiu.
O ator falava à Lusa em Óbidos, onde hoje participou no lançamento do livro “António Fagundes no palco da história: um ator”, escrito por Rosangela Patriota (Brasil), lançado pela Editora Perspetiva.
A obra traça a trajetória do ator e, através dela, a evolução do teatro os problemas que enfrentou nos últimos cinquenta anos, desde períodos de ditadura e censura à falta de políticas culturais.
Um percurso que a autora e o ator partilharam hoje com o público do Folio — Festival Literário Internacional de Óbidos, onde António Fagundes participou também numa sessão de leitura de trechos do livro “Olhos de carvão”, de Afonso Borges (editora Record Brasil).
Dividido em cinco capítulos (Autores, Folia, Educa, Ilustra e Boémia), O Folio — Festival Literário Internacional de Óbidos decorre na vila até ao dia 07 de outubro.
O evento proporciona 831 horas de programação que envolverão 554 participantes diretos, entre autores, pensadores, artistas e criativos que integram as 26 mesas de escritores, 25 concertos e 13 exposições, num programa com mais de 185 atividades.
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