Tudo se passou durante a sessão de apresentação do pacto de segurança trilateral assinado pela Austrália, o Reino Unido e os EUA, com os norte-americanos a partilhar tecnologia militar por forma a dotar os australianos de uma frota de submarinos nucleares.

A sessão, a decorrer à distância, teve os três líderes a comunicar uns com os outros por intermédio de ecrãs. Depois de agradecer a Boris Johnson pelo aderir ao pacto, e referindo-se o primeiro-ministro britânico pelo nome, Biden virou-se depois para o ecrã onde figurava Scott Morisson.

"And I want to thank that fella down under", disse Biden, o que se traduz para "e quero agradecer àquele tipo lá debaixo", sendo que "down under" é um termo coloquial usado para se referir à Austrália.

No vídeo é possível ver alguma hesitação de Biden, que logo a seguir acrescenta "eu agradeço-lhe, sr. primeiro-ministro". Mais tarde, Biden acabou por referir-se a Morrison pelo nome, mas já era tarde demais e a gaffe espalhou-se nas redes sociais com a hashtag #ThatFellaDownUnder.

O pacto AUKUS (iniciais em inglês dos três países anglo saxónicos) tem como objetivo reforçar a cooperação trilateral em tecnologias avançadas de defesa, como a Inteligência Artificial, sistemas submarinos e vigilância em longa distância.

"Os nossos países, e na verdade, o mundo dependem da região Indo Pacífico livre e aberta de forma duradoura para que possa crescer nas próximas décadas", disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, numa conferência de imprensa na quarta-feira em Washington.

Biden não mencionou diretamente a República Popular da China e a mesma postura foi adotada pelo chefe do governo australiano Scott Morrison e pelo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que se pronunciaram através de meios remotos durante a conferência de imprensa do chefe de Estado norte-americano.

Mesmo assim, os Estados Unidos defendem a "contenção" dos avanços da República popular da China no Pacífico sendo que o novo pacto pretende novos compromissos "da Europa e em particular do Reino Unido", disse um alto membro da Administração norte-americana.

Até ao momento, os Estados Unidos só partilharam tecnologia destinada ao desenvolvimento de submarinos de propulsão nuclear com o Reino Unido, em 1958, disse o mesmo responsável que não foi identificado.

A mesma fonte disse à France Presse que o acordo é "histórico" até porque os Estados Unidos e o Reino Unido "ampliaram" o tratado à Austrália com o compromisso de ajudar Camberra a adquirir submarinos nucleares para a Royal Australian Navy.

No mesmo discurso de quarta-feira, Biden sublinhou que os submarinos que vão ser adquiridos pela Austrália não vão estar equipados com armas nucleares mas sim com "armamento convencional".

Mesmo assim, os navios são "potenciados por reatores nucleares".

"Trata-se de uma tecnologia testada e segura", disse ainda o chefe de Estados norte-americano.

Os três países acordaram num prazo de 18 meses, até ao primeiro trimestre de 2023, encontrar a melhor maneira para desenvolver os submarinos australianos, juntando os conhecimentos dos Estados Unidos e do Reino Unido, refere um comunicado final dos três países.

"A Austrália não está a tentar conseguir armas nucleares nem procura estabelecer capacidade civil nuclear", disse o primeiro-ministro australiano no discurso transmitido por meios remotos durante a conferência de imprensa de Joe Biden.

O pacto da Austrália com Washington e Londres pode ter como resultado o cancelamento de um outro acordo entre Paris e Camberra para a construção de 12 submarinos, indica, por outro lado, o jornal australiano Sydeney Morning Herald.

O primeiro-ministro da Austrália e Joe Biden não confirmaram a possível suspensão do contrato entre Paris e Camberra e que envolve verbas correspondentes a 31.355 ME e cuja execução tem vindo a ser adida pelos australianos.

O primeiro-ministro britânico destacou a ambição do projeto que considerou "reflexo da profundidade da amizade" que existe entre os três países.

"Este vai ser um dos projetos mais complexos e tecnicamente mais exigentes do mundo, vai durar décadas e vai exigir tecnologia ainda mais avançada", disse Boris Johnson sobre os submarinos nucleares destinados à Austrália.

O tratado foi anunciado uma semana da cimeira com os líderes da Austrália, Índia e Japão, na Casa Branca, países com quem os Estados Unidos mantêm acordos formais desde 2007 destinados a obstaculizar o poder na República Popular da China.

Paralelamente, Biden vai receber em breve na Casa Branca os primeiros ministros da Austrália, Índia e do Japão.

O anúncio do novo acordo entre Estados Unidos, Reino Unido e Austrália sobre a região Indo Pacífico ocorreu no mesmo dia em que se conheceram as primeiras notícias sobre as polémicas revelações do chefe de Estado Maior norte-americano que contactou o homólogo chinês nos últimos dias da Administração Trump, sob a "saúde mental" do presidente.

O general Mark Milley disse aos jornalistas do jornal Washington Post, Bob Woodward e Robert Costa que "tentou evitar uma guerra entre os Estados Unidos e a República Popular da China no final de 2020.