Numa moldura humana muito abaixo do esperado, como prova a quantidade de cadeiras vazias perto do Mausoléu Agostinho Neto, os angolanos que participaram no velório de corpo presente elogiam o segundo Presidente do país, que morreu em Barcelona em 08 de julho e cujo processo de transferência do corpo opôs o Governo aos filhos mais velhos.

Paulo Paz foi um desses angolanos que veio “prestar homenagem a uma figura considerada muito forte a nível de África”.

José Eduardo dos Santos, no seu entender, “assegurou o país no tempo da guerra, trouxe a paz e grandes benefícios, inclusive até na reconstrução do país”.

Após a saída do poder, o MPLA “tratou muito bem” José Eduardo dos Santos, considerou Paulo Paz, que nunca se referiu às polémicas do atual Presidente sobre a anterior gestão ou os processos judiciais que visavam elementos da família.

Para Angola, “o senhor Presidente João Lourenço está só a cumprir um plano que é do MPLA [Movimento Popular de Libertação de Angola, no poder] e que o antigo presidente deixou”, disse Paulo Paz, que minimizou também a polémica sobre as eleições gerais de quarta-feira, com resultados contestados pela oposição, em particular a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).

“As forças armadas estão preparadas, a polícia de segurança publica está preparada e não há nada a temer”, disse Paulo Paz, numa referência ao reforço dos elementos policias e militares nas ruas de Luanda.

Para hoje de manhã estava agendada nas redes sociais uma manifestação de jovens mas, às 13:00, ainda era visível uma centena de agentes em todo o percurso que estava anunciado, entre o cemitério de Santa Ana e a praça 1.º de Maio.

“A UNITA almeja o poder já há bastante tempo” e “ninguém aceita perder de ânimo leve”, disse, acrescentando que, “neste preciso momento, a defesa perante qualquer rebeldia já está assegurada” pelo Governo.

Por seu turno, Madalena Joaquim preferiu não discutir política e insistiu que estava na Praça da República apenas para prestar homenagem a José Eduardo dos Santos.

“Vim aqui homenagear o nosso pai, foi o nosso pai, um líder que liderou tantos anos” Angola, disse.

Apoiante do MPLA, Diamantino Mbarfungo considerou que a “perda deste presidente significa muito” para Angola porque “foi um grande líder”.

Quanto aos resultados eleitorais de quarta-feira que estão a ser contestados, Diamantino Mbarfungo minimiza a crítica.

“O MPLA não perde nada, o MPLA ganha sempre. A vitória é certa, no MPLA a vitória é sempre certa”, disse, considerando que a morte de José Eduardo dos Santos nada tem a ver com os maus resultados do MPLA, que, segundo os dados contestados da Comissão Nacional Eleitoral, baixou de maioria qualificada para maioria absoluta.

“Os homens passam, mas a luta continua”, disse.

Sobre a ausência das filhas mais velhas de José Eduardo dos Santos nas cerimónias, Diamantino Mbafungo foi mais lacónico: “Isso já não é connosco. Elas são angolanas, podem sempre vir” prestar a “sua homenagem ao pai em Angola”.

A urna com o corpo de José Eduardo dos Santos chegou hoje à Praça da República, local onde se encontra o Memorial António Agostinho Neto, consagrado ao primeiro presidente de Angola pelas 10:00, num cortejo sem multidões.

Familiares de José Eduardo dos Santos, em particular a viúva Ana Paula dos Santos e os seus 3 filhos em comum, encontravam-se na tenda onde decorre a homenagem, tal como vários membros do executivo, dirigentes do MPLA e amigos do ex-presidente.

Fora, no enorme recinto com muitas cadeiras vazias, ficaram algumas centenas de populares que vieram despedir-se do homem que governou o país durante 38 anos.

Ao contrário do que acontecia em vida, quando no dia do aniversário de José Eduardo dos Santos, a 28 de agosto, todos queriam estar presentes, tornando-se um dia de festa em que muitos angolanos se juntavam à celebração, hoje as cerimónias estão a ser marcadas por alguma falta de pessoas.

As exéquias acontecem também no rescaldo pós eleitoral em que os cidadãos aguardam ainda a saída dos resultados definitivos das eleições de quarta-feira, com os dados preliminares a apontar para uma vitória do MPLA já contestada pela UNITA.