Publicado na revista “Nature Climate Change”, o estudo adverte que por volta de 2029, sem reduções de emissões de dióxido de carbono (CO2) há 50% de hipótese de se registar um aquecimento superior a 1,5°C em relação à época pré-industrial, um valor que foi estabelecido no Acordo de Paris sobre o clima como limite que não deve ser ultrapassado, por ter consequências nefastas no planeta e nos seus habitantes.

Conduzido por investigadores da universidade britânica “Imperial College London”, o estudo faz uma análise atualizada e exaustiva do orçamento global do carbono, que é uma estimativa da quantidade de emissões de CO2 que podem ser libertadas mantendo o aquecimento global abaixo de determinados limites de temperatura.

No documento estima-se que para que haja 50% de hipóteses de limitar o aquecimento a 1,5°C, restam menos de 250 gigatoneladas de CO2 no orçamento global de carbono. Se as emissões se mantiverem como em 2022, cerca de 40 gigatoneladas, o orçamento esgota-se em 2029, levando a um aquecimento global acima dos 1,5°C.

Para uma hipótese de limitar o aquecimento a 2°C o orçamento é de aproximadamente 1.200 gigatoneladas, pelo que com as emissões aos níveis atuais o orçamento esgotar-se-ia em 2046.

Robin Lamboll, investigador do Centro de Política Ambiental da universidade e principal autor do estudo, afirmou, citado no documento de divulgação: "A nossa descoberta confirma o que já sabemos - não estamos a fazer o suficiente para manter o aquecimento abaixo de 1,5°C”.

Alertando que a margem é agora muito pequena, o investigador frisou que as estimativas apontam para menos de uma década de emissões aos níveis atuais, concluindo: “A falta de progressos na redução das emissões significa que podemos ter cada vez mais a certeza de que a janela para manter o aquecimento a níveis seguros está a fechar-se rapidamente".

No documento nota-se que tem havido muitas incertezas no cálculo do orçamento do carbono devido à influencia de outros fatores e de outras emissões que não só CO2, afirmando-se que o atual estudo usou modelos melhorados e metodologia reforçada, conduzindo a projeções sobre as reações do clima ao zero líquido, quando houver um equilíbrio entre as emissões globais e as emissões eliminadas (neutralidade carbónica).

Os investigadores dizem que é possível que o clima continue a aquecer devido a efeitos como a fusão do gelo, a libertação de metano e as alterações na circulação oceânica.

No entanto os sumidouros de carbono, como o aumento do crescimento da vegetação, poderão também absorver grandes quantidades de dióxido de carbono, conduzindo a um arrefecimento das temperaturas globais antes de se atingir o zero líquido.

Incertezas que, diz Robin Lamboll, realçam ainda mais a necessidade urgente de redução rápida de emissões.