Estamos a dias do Natal, uma época de encontros, de afetos, de partilhas, de tradições. E os anos de pandemia deixaram-nos ávidos de contacto, aguardando ansiosamente por estar com os nossos entes queridos. Abraçar, rir, olhar e viver a reunião familiar. A celebração do Natal pode, assim, constituir um ritual de grande importância para o estreitar de laços familiares e de amizade, dando significado à nossa vida de forma consciente e inconsciente e contribuindo para a gestão de mudanças e transições.
Como época de relações que é, iremos lembrar-nos de quem está. E de quem partiu, deixando aquela cadeira vazia...
Perder alguém que amamos pode transformar o nosso Natal. Podemos ter vontade que a época passe depressa. De não festejarmos. De estarmos sozinhos. Podemos até procurar contrariar o vazio que sentimos tão profundamente, tentando demonstrar alegria para fora. Não queremos estragar o ambiente, não queremos preocupar ninguém, queremos ser fortes e evitamos sentir o que dói. É isso que fazemos instintivamente, procurar o prazer e afastar a dor.
O Natal é feito de histórias, memórias, costumes, tradições que passam de geração em geração. E pode ser muito difícil passar esta quadra após uma perda. Tudo à nossa volta está reluzente, as pessoas sorriem apressadamente na azáfama natalícia e o mundo diz-nos que devemos festejar. Algo que pode ser impossível tal é o frio que nos percorre a alma. Legítimo. Solitário. Humano.
É que naquela cadeira sentou-se em muitos Natais aquela pessoa que amávamos e não é fácil deixá-la ir. A dor está cá, mas o que vivemos com essa pessoa ficará para sempre dentro de nós. E assim será por diante, ano após ano, Natal após Natal. É nesta passagem que residirá uma espécie de imortalidade que o Natal poderá trazer. Aqueles que nos deixaram, estão agora um pouco dentro de nós. E um dia seremos nós a passarmos um pouco de nós e deles.
Deixamos-lhe algumas sugestões para lidar com o luto durante esta época e após:
- Legitime a sua forma de viver o Natal. Não há uma forma correta de o viver, não há certo nem errado.
- Identifique as suas emoções e aceite-as sem condição. Se sente o que sente é porque precisa de o sentir de alguma forma. Chorando, se for essa a sua necessidade. Se por outro lado, sente o desejo de saborear o Natal como fazendo parte do seu processo de luto, viva-o dessa forma.
- Se sente vontade de relembrar quem faleceu, permita-se a fazê-lo. De forma mais privada ou mais partilhada, este é um passo importante.
- Poderá também ter um comportamento que represente simbolicamente a pessoa que partiu e o que sente pela sua ausência. Por exemplo, e dependendo do momento do processo de luto, confeccionando um prato usando a receita que essa pessoa usava ou percorrendo um caminho que ambos fizeram em tempos por altura do Natal.
- Para muitos, o Natal é um momento de família, mas com a perda, pode sentir o desejo de estar sozinho/a. Por vezes, precisamos de explicar a quem gosta de nós o que sentimos e que estarmos connosco próprios nos ajudará a passar por esta fase difícil. Isso pode tranquilizar quem fica preocupado por estarmos sozinhos nesta altura.
- A pessoa que faleceu teria a sua própria forma de viver o Natal. Pode ser importante explorar a forma como ela gostaria que você vivesse este Natal mais difícil.
- O luto envolve emoções poderosas e, muitas vezes, contraditórias. Pode dar por si a sentir súbitas oscilações de humor. Dê tempo ao tempo.
- Se sente um grande sofrimento psicológico e que está sem recursos, peça ajuda profissional.
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