Os governos do Reino Unido e do Ruanda anunciaram na quinta-feira um acordo para que o país africano acolha migrantes e requerentes de asilo de várias nacionalidades provenientes do território europeu, um entendimento que está a gerar fortes críticas de organizações não-governamentais e do Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados.
O Governo de Boris Johnson pretende que este acordo contribua para dissuadir as travessias do Canal da Mancha, que continuam a acontecer, apesar das promessas do ‘Brexit’ de um melhor controlo das fronteiras.
No seu sermão de Domingo de Páscoa, o líder espiritual da Igreja Anglicana, Justin Welby, salientou que o envio de requerentes de asilo no Reino Unido para outros países levanta “sérias questões éticas”.
“Os detalhes são para a política e para os políticos”, mas “o princípio deve encarar o julgamento de Deus”, referiu o arcebispo de Cantuária.
Assim que o acordo foi anunciado na quinta-feira, o primeiro-ministro Boris Johnson admitiu que esperava a sua contestação judicial por parte das associações representantes dos migrantes.
Numa tentativa de recuperar a popularidade antes das eleições no próximo mês, Boris Johnson e o seu Governo tentam há meses fechar acordos com outros países para onde enviar migrantes, enquanto aguardam o desenvolvimento dos seus processos.
O Governo ruandês já esclareceu que ofereceria a possibilidade aos migrantes “de se estabelecerem permanentemente no país, se assim o desejarem”.
A iniciativa foi criticada pelas Nações Unidas, através do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), que expressou, no dia do anúncio, a sua “forte oposição” ao plano britânico.
“Pessoas que fogem de guerras, conflitos e perseguições merecem compaixão e empatia. Elas não devem ser comercializadas como mercadorias e levadas para o exterior para tratamento”, disse então Gillian Triggs, alta-comissária adjunta do ACNUR, responsável pela proteção internacional.
Ao enviar requerentes de asilo a mais de 6.000 quilómetros do Reino Unido, o Governo quer desencorajar chegada ao país de candidatos àquele estatuto, que são cada vez mais numerosos: o número de travessias ilegais do Canal da Mancha triplicou em 2021.
Mais de 160 organizações não-governamentais classificaram a medida como “cruel e mesquinha”, tendo sido também criticada por alguns deputados conservadores, enquanto o líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, a apelidou de “impraticável” e com custos “exorbitantes”.
Comentários