“Com o nome não se pode fazer nada, mas, com pormenores, podemos dar início à abertura de um processo. Não duvido que este vai ser o caminho dos meus colegas”, afirmou o prelado alentejano, em declarações aos jornalistas, na sua residência em Évora.

Senra Coelho admitiu que se questionou quando recebeu da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal dois nomes de sacerdotes diocesanos alegadamente envolvidos em casos de abusos.

“Eu perguntei-me se devia ou não perguntar à Comissão Independente pormenores, não sabia o que me iam dizer”, mas “resolvi fazê-lo e responderam em pouco tempo com os pormenores necessários”, ainda que sem o nome da vítima, adiantou.

Associações de apoio especializado à vítima de violência sexual:

Quebrar o Silêncio (apoio para homens e rapazes vítimas de abusos sexuais)
910 846 589
apoio@quebrarosilencio.pt

Associação de Mulheres Contra a Violência - AMCV
213 802 165
ca@amcv.org.pt

Emancipação, Igualdade e Recuperação - EIR UMAR
914 736 078
eir.centro@gmail.com

Com conhecimento dos pormenores sobre os alegados abusos cometidos pelo sacerdote agora afastado preventivamente, Francisco Senra Coelho disse que procedeu “ao que tinha que proceder” e considerou que os bispos “se fizerem este procedimento farão o mesmo”, referiu.

“Posso dizer que alguns já me telefonaram a dizer que, de facto, estavam contentes pela informação da Comissão Independente. Portanto, eu penso que, neste contexto, é uma questão de amadurecimento e de tempo”, acrescentou.

A Arquidiocese de Évora afastou cautelarmente um padre de funções e abriu uma investigação a uma denúncia de alegados abusos de menores pelo sacerdote, na década de 1980, no Seminário Menor de São José, situado em Vila Viçosa.

Em comunicado, a arquidiocese informou que o arcebispo de Évora recebeu, na sexta-feira, da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal dois nomes de sacerdotes diocesanos por alegados abusos.

“O primeiro deles morreu há alguns anos. O processo considera-se extinto. O segundo nome não trazia nenhuma informação complementar e a investigação efetuada nos arquivos diocesanos não encontrou nenhuma denúncia ou inquirição prévias”, adiantou.

Segundo a arquidiocese alentejana, Francisco Senra Coelho “solicitou de seguida à Comissão Independente eventuais dados suplementares que permitissem iniciar a investigação”.

“Com data de 7 de março, foi recebida informação referente a abusos ocorridos contra rapazes na década de 1980, no Seminário Menor. Perante estes dados, o senhor arcebispo pediu à Comissão Diocesana de Proteção e Segurança de Menores e Pessoas Vulneráveis para dar início à investigação prévia que seguirá depois para o Dicastério da Doutrina da Fé, em Roma”, informou.

Na manhã da última sexta-feira, esta comissão, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, entregou aos responsáveis pelas diferentes dioceses a lista dos alegados abusadores.

Nesse mesmo dia, após analisar o relatório final da comissão independente, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, José Ornelas, disse que o afastamento de alegados padres abusadores de menores está nas mãos de cada bispo, admitindo que “se houver uma plausibilidade de pôr em perigo o contacto com outras pessoas e a persistência de eventuais delitos” essas pessoas podem ser objeto de uma suspensão cautelar.

No entanto, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinhou que é importante que “sejam dados os nomes e descrições plausíveis”, para investigar.

“Eu não posso tirar uma pessoa do ministério só porque chegou alguém que disse ‘este senhor abusou de alguém’. Mas quem foi que disse, em que lugar, onde? Tirar do ministério é uma coisa grave”, realçou.

Igreja deve pagar indemnizações se for condenada

O arcebispo de Évora defendeu também que, se a Igreja Católica for condenada pela justiça, “tem que indemnizar” quem sofreu abusos sexuais, mas deve estar sempre ao lado das vítimas.

“Se a Igreja, como instituição, tiver responsabilidades e for chamada a indemnizar, claro que tem que indemnizar. Quanto? É o poder judicial que o diz”, afirmou o prelado alentejano, ao ser questionado pelos jornalistas em Évora.

Senra Coelho, que prestava declarações na sua residência, explicou que, em termos jurídicos, “é o Tribunal que define a indemnização”, insistindo que, “se a Igreja tiver, num julgamento, que indemnizar, claro que tem que indemnizar”.

“Se me pergunta se a igreja tem que apoiar, tem que ajudar a vítima, tem que estar com o sofrimento da vítima, não é Igreja se não fizer”, assinalou.

Esse apoio, através do pagamento de uma “operação, consultas ou levar a pessoa a um médico no estrangeiro, se for preciso”, exemplificou o prelado alentejano, “não é uma indemnização no sentido estrito do termo jurídico”.

Questionado pela Lusa, esta semana, o advogado Miguel Matias considerou, acerca dos abusos sexuais na Igreja Católica, que se uma instituição tiver um dever concreto de vigilância e proteção de crianças pode ser responsabilizada, se não tiver tomado as medidas adequadas.

Na sexta-feira, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), José Ornelas, remeteu eventuais indemnizações às vítimas de abusos sexuais para os seus autores, indiciando que não haverá lugar a indemnizações por parte da instituição.