O projeto, da autoria da empresa ARX Portugal Arquitetos, prevê a construção de quatro edifícios, um deles com 60 metros e 16 andares, em terrenos atualmente abandonados no quarteirão da Portugália.
O projeto contempla cerca de 85 apartamentos, habitação de convivência, escritórios, espaços comerciais, 413 lugares de estacionamento para automóveis e 99 para motas, de acordo com a informação disponibilizada no ‘site’ da Câmara de Lisboa.
Os quatro novos edifícios e a reabilitação dos pré-existentes “conformam duas praças” ajardinadas abertas ao público.
“A nossa opinião é de uma forte preocupação porque isto revela que há aqui uma dimensão nova no discurso da construção em Lisboa. Neste momento, o processo Portugália (…) revela um edifício em altura numa zona já consolidada da cidade e a Associação de Arquitetos Paisagistas preocupa-se fortemente com um precedente, que é a criação de edifícios em altura em zonas consolidadas”, afirmou à Lusa o vice-presidente da APAP, João Ceregeiro.
“Isto faz com que de um momento para o outro comecem a aparecer no nosso horizonte processos em altura, em que a própria paisagem da cidade começa a ser descaracterizada”, defendeu.
Para o arquiteto, “a paisagem da cidade” vale pela “leitura do vale e das colinas”, pelo que “estas volumetrias vão destruir progressivamente aquele que é o valor e monumentalidade” que caracteriza a capital portuguesa.
“De um momento para o outro, sem haver uma justificação, temos ali um edifício de 16 andares que destrói tudo aquilo que é uma paisagem regular, homogénea e que os lisboetas a aceitam como sendo parte da sua cultura e da sua maneira de ver a cidade”, criticou João Ceregeiro.
O vice-presidente da APAP notou que “há zonas que claramente têm mais capacidade para aceitar a construção em altura”, como por exemplo Benfica, Parque das Nações ou Chelas, reiterando que não é “o caso do Portugália Plaza, que está centrado numa área consolidada da cidade, quase cidade histórica, e que tem um impacto enorme global na paisagem da cidade”.
João Ceregeiro defendeu também que “este é um caso que deve ser observado com todo o cuidado e a população deve saber o que se passa”.
Questionado sobre se há uma comunicação clara sobre estes projetos por parte da Câmara de Lisboa, o arquiteto foi perentório: “com certeza que não”.
“A câmara não tem dentro da sua máquina mediática e dentro da sua política de trabalho criar uma visibilidade e um conhecimento sobre os processos que correm, sobretudo estes processos que são mais sensíveis”, considerou.
“A paisagem é um legado importante, é um bem dos lisboetas e estamos progressivamente a ver casos consumados à partida. É o caso por exemplo do edifício do hospital em Alcântara, que praticamente apareceu, surgiu e os lisboetas viram aquilo crescer sem haver um debate e uma discussão pública aberta”, acrescentou.
O projeto de requalificação do quarteirão da Portugália, na avenida Almirante Reis, está em discussão pública até ao dia 24 de maio, prazo que foi prorrogado depois de o PSD ter exigido a realização de sessões de apresentação pública do projeto.
A primeira realiza-se na quinta-feira, no auditório da sede da Ordem dos Arquitetos, às 18:30, e a segunda terá lugar na próxima terça-feira, no Mercado Forno do Tijolo, à mesma hora.
O projeto, que inicialmente só podia ser consultado no edifício da câmara do Campo Grande e na Junta de Freguesia de Arroios, já está disponível para consulta no ‘site’ da autarquia.
Comentários