“Já faço isto de olhos fechados e orgulho-me de ser uma das poucas pessoas que confecionam as boinas. Há 30 e tal anos que faço as boinas e represento o Corvo além-fronteiras”, sublinhou Rosa Mendonça, 47 anos, natural da ilha do Corvo, em declarações à agência Lusa.
A boina de lã do Corvo, usada no início do século XX e que fazia parte do traje de baleeiros, foi certificada recentemente como produto artesanal integrante da marca "Artesanato dos Açores", esta semana.
Usada no início do século XX, a boina fazia parte do traje de baleeiros e terá sido por influência dos pescadores escoceses que os corvinos aprenderam a tricotá-las.
Rosa deu continuidade a uma tradição de família, aliando também o seu gosto pelo "artesanato e pelos trabalhos manuais".
“A minha mãe é que impulsionou a confeção das boinas, porque apesar desta tradição já vir dos nossos antepassados, foi caindo em desuso. Na década de oitenta [do século XX], a minha mãe participou numa feira de artesanato em Ponta Delgada e levou um produto típico da ilha, as boinas, o que incrementou a confeção”, explicou.
Oriunda de uma família de artesãos, já que o pai se dedicava à confeção das tradicionais fechaduras de madeira do Corvo, Rosa Mendonça afirma-se como "a guardiã" desta tradição passada pela mãe, Inês, falecida recentemente.
“É um orgulho. Adoro o artesanato, adora a minha ilha”, sublinhou.
Rosa Mendonça tem a sua vida profissional, trabalha na Santa Casa da Misericórdia do Corvo, e só confeciona as tradicionais boinas "nas horas vagas", mas admite que "não tem mãos a medir", porque "a procura é cada vez maior".
A venda é feita na sua própria casa num espaço específico, mas Rosa também recebe encomendas através da sua página no 'Facebook'.
“Já quase que tenho dificuldade em ter 'stocks' para a procura. É que a confeção ainda é demorada”, explicou, acrescentando que já chegou a dar formação a nove pessoas, mas atualmente só Rosa e mais duas pessoas confecionam as boinas.
A boina do Corvo é feita em tricot, com um conjunto de cinco agulhas, originalmente em lã local tingida de azul-escuro, com uma barra estreita (grega), trabalhada com o tradicional branco natural, enquanto no topo é colocado um pompom.
"Com a prática não é difícil. Mas, claro que a confeção tem as suas técnicas. São feitas com cinco agulhas em movimentos circulares para não terem costuras", especificou Rosa Mendonça, que já faz o produto desde os 14 anos.
Rosa garante que a fama das boinas do Corvo já chegou "bem longe", manifestando-se muito satisfeita por ver que agora este é um produto certificado.
O cineasta Gonçalo Tocha, que fez um filme sobre a ilha do Corvo, foi um dos maiores divulgadores em anos recentes da tradicional boina do Corvo.
Nota: A foto que ilustra este artigo foi retirada da página de Facebook do Centro Regional de Apoio ao Artesanato com uma dedicatória à artesã Inês da Conceição Mendonça de Inês referida no artigo.
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