Grã-Bretanha, França e Estados Unidos convocaram o Conselho de Segurança da ONU para aumentar a pressão sobre a Rússia e insistir em medidas de contenção ao governo de Bashar al-Assad e à sua campanha de bombardeamentos nos bairros rebeldes de Aleppo. "Estão a ser cometidos crimes de guerra em Aleppo", disse o embaixador da França, François Delattre, à imprensa. "Não devem ficar sem castigo. A impunidade simplesmente não é uma opção na Síria", acrescentou.
"Logo quando pensávamos que as coisas não podiam ficar pior na Síria, ficaram", concordou o embaixador britânico, Mattew Rycroft. "Os ataques lançados em Aleppo são indiscriminados e são uma clara violação das leis internacionais, assim como as bombas que caem dos céus", afirmou o diplomata.
"Qual desculpa que se tem para fazer menos do que tomar fortes medidas para deter um crime deliberado? Quanto tempo mais aqueles que têm influência vão permitir que esta crueldade continue? Convoco todas as partes envolvidas a trabalhar firmemente para pôr fim ao pesadelo", declarou o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Bombardeamentos sem cessar
Os países ocidentais tentam refrear a ofensiva lançada na sexta-feira pelo governo sírio e por Moscovo com o objectivo de reconquistar os bairros rebeldes de Aleppo. A embaixadora americana, Samantha Power, indicou que houve mais de 150 bombardeamentos sobre a cidade nas últimas 72 horas e acusou a Síria e a Rússia de lançar uma "ofensiva total".
Em Aleppo, "o que a Rússia apoia e faz não é luta antiterrorista, é barbárie", disse Power.
O seu homólogo russo, Vitali Tchurkin, responsabilizou a coligação internacional. "Centenas de grupos foram armados, o país bombardeado sem critério", denunciou. "Nestas condições, trazer a paz é, em consequência, uma tarefa quase impossível", completou.
A chuva de bombas já deixou pelo menos 124 mortos, 25 deles ao amanhecer de domingo, segundo um novo balanço divulgado pelo Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Entre as vítimas, figuram 19 crianças e mulheres soterrados pelos escombros dos prédios destruídos. "Os bombardeamentos não pararam durante a noite toda", contou Ahmad Hajjar, de 62 anos, morador do bairro rebelde de Al Kallassé. "Não dormi nada até as quatro da manhã", completou.
Na véspera, Ban Ki-moon já tinha se declarado "consternado" com a "assustadora escalada militar" em Aleppo e advertiu que o uso de armas avançadas constitui crime de guerra.
Um massacre em curso
Hajjar conta que a sua rua está cheia de bombas de fragmentação que não explodiram. "Um vizinho foi morto por uma delas. Eu vi-o a tropeçar nela, explodiu e arrancou as suas pernas e braços. Foi horrível", recorda. "Não sei por que o regime nos bombardeia desta maneira selvagem. Não temos para onde ir", observou Imad Habbouche, que mora no bairro de Bab Al-Nayrab.
As 250 mil pessoas que moram nos bairros rebeldes não recebem ajuda externa há quase dois meses e não têm acesso à água corrente desde sábado por causa dos ataques, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A União Europeia denunciou "uma violação inaceitável da lei humanitária internacional". Num comunicado comum, a UE, Estados Unidos e os líderes da França, Itália, Alemanha e Grã-Bretanha apontam claramente a Rússia como responsável pela escalada dos combates. "A Rússia deve provar que está disposta e que é capaz de tomar medidas excepcionais para salvar os esforços diplomáticos", afirma a nota.
A coligação da oposição síria no exílio pediu, em Istambul, que a comunidade internacional aja para acabar com o massacre em Aleppo. A frágil trégua negociada pelos Estados Unidos e pela Rússia manteve-se apenas por uma semana, até segunda-feira passada, dia 19.
Desde então, os esforços diplomáticos realizados no âmbito da Assembleia Geral da ONU fracassaram. Neste domingo, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que a Turquia está disposta a participar de uma operação com os Estados Unidos para expulsar os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) de Raqa, no norte da Síria, desde que as milícias curdo-sírias não façam parte dessa força.
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