“Não podíamos ficar calados diante de um negócio que vai ser ruinoso para Portugal. (…) Todos sabemos que Portugal, ao longo da sua história mais recente, tem gerido de forma absolutamente errada e inconsciente os dinheiros públicos. São vários os exemplos de empresas em que o Estado tem vindo a ser chamado para colocar dinheiro de forma absurda, de forma ruinosa, nociva para a contas públicas”, afirmou Nuno Botelho, salientando que Portugal continua a ser um dos países da Europa com maior carga fiscal e isso deve-se “a muitos destes negócios”.
Numa conferência de imprensa esta manhã, o dirigente deixou claro que a ACP não faz “política partidária”, nem tem “nada contra o Governo atual”, defendendo que o que está em causa é o interesse do país e dos portugueses, pelo que não pode ser apelidado de “regionalista, bairrista” ou ser acusado de não ter legitimidade para falar.
“As injeções financeiras na TAP vão estar ao nível – e não se iludam, vão estar mesmo – do Novo Banco, da Caixa, do BPN. É disto que estamos a falar e os portugueses têm de perceber que é disso que estamos a falar”, rematou.
O dirigente revelou que “entre negócios ruinosos, empresas falidas e resoluções, o desperdício do Estado Português nos últimos 10 anos já ultrapassa os 25,5 mil milhões de euros, mais de 10% do PIB [Produto Interno Bruto anual]”, acrescentando que a injeção de 1,2 mil milhões de euros na TAP daria, por exemplo, para pagar 46 vezes a Ala Pediátrica do Hospital de S. João; um novo Aeroporto no Montijo mais a ampliação da Portela; seis vezes a expansão da rede do Metro de Lisboa ou três meses de lay-off em Portugal durante a pandemia.
Para o presidente da Associação Comercial do Porto, um investimento desta dimensão na companhia aérea só pode ser justificado se a mesma prestar um serviço público ao país, assumindo-se “realmente como uma companhia de bandeira”.
Questionado pelos jornalistas sobre o modelo de gestão da TAP, Botelho disse ser favorável à iniciativa privada, na medida em que considera que os privados gerem melhor do que público, o que não quer dizer que não seja importante a presença do Estado.
O dirigente espera, no entanto, que o Estado possa, daqui a dois ou três anos, “abrir mão da TAP”, que não gostaria que permanecesse pública “para sempre”.
O Governo anunciou na quinta-feira que chegou a acordo com os acionistas privados da TAP, ficando com 72,5% do capital da companhia aérea, por 55 milhões de euros, com a aquisição da participação (de 22,5%) até agora detida por David Neeleman.
O empresário Humberto Pedrosa detém 22,5% e os trabalhadores os restantes 5%.
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