Pavlo Sadokha afirmou, numa reação à Lusa, que Vasily Nebenzya é um "embaixador propagandista", que "sempre fez declarações de propaganda que não correspondem à verdade".

Sadokha adiantou que a propaganda russa "começou a gravar vídeos com refugiados ucranianos, mas manipulando os casos, mostrando que as crianças refugiadas da Ucrânia estão desprotegidas nos países da União Europeia".

O embaixador russo junto das Nações Unidas acusou hoje Portugal, Espanha e Alemanha de terem retirado centenas de crianças ucranianas às suas mães para as colocar em estruturas de acolhimento nos respetivos países, tendo apresentado vídeos de testemunhos de alegados casos numa reunião informal do Conselho de Segurança, órgão a que a Rússia preside este mês, para abordar "as medidas tomadas pelas autoridades russas para retirar crianças em perigo".

Num desses vídeos surge uma mulher que se identifica como Alina Komisarenko, natural da cidade ucraniana de Zaporijia, e que relata que o seu filho "foi levado pelo sistema juvenil em Portugal".

O presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal referiu à Lusa que "o caso é verdadeiro", a "criança foi retirada" à mãe pela comissão de proteção de menores, mas "não foi retirada sem razão".

"A criança não foi roubada", frisou Pavlo Sadokha, acrescentando que a comissão "tinha de reagir" em relação ao caso "da mesma maneira" que reagiria se uma criança, em idênticas circunstâncias, fosse de outra nacionalidade, "seja ucraniana, seja russa...".

Sem especificar as razões que levaram à retirada do menor à mãe, alegando que o caso está a ser investigado, Sadokha assinalou que a associação está a "tentar ajudar" a mulher, que "está num estado emocionalmente difícil, com o marido na Ucrânia".

Pavlo Sadokha sublinhou, ainda, que o Estado português "está a dar uma especial atenção às crianças refugiadas da Ucrânia".

O embaixador russo Vasily Nebenzya acusou os países ocidentais de quererem abafar que países europeus, dando como exemplo Portugal, Espanha e Alemanha, estão a retirar crianças aos refugiados ucranianos.

Vasily Nebenzya alegou que "crianças pequenas estão a ser levadas para centros de acolhimento por pessoas estranhas" e que "as mães que estão a tentar recuperar as crianças são ameaçadas com processos criminais".

O Governo português já repudiou as declarações do diplomata, reafirmando, numa nota enviada à Lusa pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros, "o seu apoio à Ucrânia nas diferentes dimensões, incluindo a do acolhimento aos ucranianos deslocados, vítimas da agressão da Rússia ao seu país".

O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu a 17 de março um mandado de detenção para o Presidente russo, Vladimir Putin, por crimes de guerra, pelo seu alegado envolvimento em sequestros de crianças na Ucrânia.

Num comunicado, o TPI acusa Putin de ser "alegadamente responsável pelo crime de guerra de deportação ilegal de população [crianças] e transferência ilegal de população [crianças] de áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa".

Em causa estarão milhares de crianças ucranianas institucionalizadas que foram transportadas à força para a Rússia ou para territórios ucranianos ocupados pelas tropas russas.

Um relatório sobre o Programa Sistemático da Rússia para a Reeducação e Adoção de Crianças da Ucrânia, lançado em fevereiro pelo Laboratório de Pesquisa Humanitária da Escola de Saúde Pública de Yale, nos Estados Unidos, estima em mais de 6.000 os menores ucranianos colocados em 43 campos de reeducação ou orfanatos russos após a invasão da Ucrânia pela Rússia, a 24 de fevereiro de 2022.

O relatório admite que o número poderá ser bastante mais elevado.

A organização não-governamental Human Rigths Watch indica, num outro relatório, que milhares de crianças ucranianas que viviam em orfanatos foram transferidas à força para a Rússia ou para territórios ocupados.

De acordo com as autoridades ucranianas, até ao fim de fevereiro passado foram deportadas 16.221 crianças para a Rússia, número que a Comissão dos Direitos Humanos da ONU não conseguiu confirmar.