Segundo revela à Lusa a presidente da instituição do distrito de Aveiro que o ano passado acolheu um total de 270 animais, as despesas totais da Patinhas sem Lar em 2023 foram de 208.500 euros e o apoio da câmara ficou-se pelos 42.000. Mesmo contando com donativos privados e empresariais, verbas reunidas em plataformas ‘crowdfunding’ e receitas angariadas em eventos e na loja solidária, os fundos da associação foram insuficientes para liquidar todos os compromissos e estão atualmente em dívida mais de 20.000 euros às clínicas veterinárias.

Agora, já com 100 cães e 80 gatos a cargo, Ana Paula Castro afirma: “Estamos em março e a câmara municipal ainda não nos disse que subsídio nos ia atribuir. Sem orçamento, não se pode trabalhar e, com as dívidas acumuladas, corremos o risco de fechar”.

Garantindo que todos os gastos da associação estão registados “com fatura”, a presidente da Patinhas sem Lar admite que se têm feito “milagres” com a ajuda dos apoiantes da causa animal, mas realça que “a associação está a substituir a câmara no desempenho das funções que, desde 2013, competem por lei aos municípios”.

É por isso que Ana Paula Castro defende: “Se a câmara acha que 42.000 euros é suficiente para o trabalho que desenvolvemos, então que fique ela com esse dinheiro e faça por si o que nós temos feito, a ver se consegue resultado igual”.

Segundo dados da Patinhas sem Lar, só em tratamentos médicos como esterilizações, castrações, desparasitações, vacinas, cirurgias e medicamentos, a associação gastou em 2023 cerca de 136.000 euros. A alimentação de cães e gatos absorveu, por sua vez, mais de 17.000 euros, a que se somaram cerca de 25.000 em salários com os dois únicos funcionários remunerados da casa, já que a restante equipa exerce em regime de voluntariado.

“O trabalho é cada vez mais exigente porque, com a crise e o aumento do preço da habitação, houve muita gente que voltou para casa dos pais ou de outros parentes e essas famílias acolhem os humanos, mas não recebem os animais”, salienta Ana Paula Castro, notando que, em alguns casos, um único agregado pôde assim deixar para trás quatro ou cinco animais de estimação.

Considerando que o canil intermunicipal ao qual a autarquia de Espinho está afeta “tem a sua capacidade lotada”, a associação “tem cada vez mais responsabilidades”, prevê continuar a recolher “100% dos cães e 95% dos gatos” errantes do concelho e “vai sofrer cada vez mais” para conseguir financiar a sua atividade.

“Com o apoio da câmara, em 2023 tivemos que angariar, por nossa iniciativa, 58% do nosso orçamento. Em 2024, se o subsídio se mantiver igual, teremos que angariar 80% – e isto se a câmara nos atribuir de facto essa verba, porque até agora ainda não se comprometeu com nada”, diz a presidente da associação.

Para Ana Paula Castro, essa postura reflete uma tendência que é independente da cor política dos executivos camarários: “A verdade é que nunca houve grande interesse pela causa animal e o problema começa logo aí”.

Contactada pela Lusa, a Câmara Municipal de Espinho não respondeu ao pedido de esclarecimento.