Quer começar por mudar a rua para mudar o mundo. Em Lisboa, prefere as pequenas obras. A obra social. A mobilidade. E a habitação para a classe média. Orgulha-se de ter feito obra com a reforma do arrendamento. E com a reabilitação urbana. Acrescenta turismo e investimento direto estrangeiro (visa gold), tudo decisões com o cunho de ministros do CDS. Uma grande obra? Linha de metro a partir de Algés, mas tal não depende apenas da câmara municipal, adianta.

A 13 de março completa um ano como líder do CDS-PP. Na check-list de todas as propostas apresentadas está ainda a subvenção bancária que será apresentada ainda antes de virar a página dos 12 meses de liderança.

Comecemos por falar de Donald Trump. É o político na ordem no dia. Prometeu e está a ser criticado. Não lhe parece um contrassenso.

Assunção Cristas: Prometeu, está a cumprir e tal não se pode criticar. Em princípio. Coisa diversa é se se concorda com o que prometia e com o que está a fazer. Há uma generalidade de posições que defendeu na altura da campanha, que as pessoas sinalizaram como discordância, que tiveram a esperança que pudesse haver uma moderação no pós-campanha e que agora se insurgem, porque não há essa moderação. Crítica quem não votou nele e quem não concorda. Critica-se não porque está a cumprir o que prometeu, mas as ideias, que são criticáveis, que está a pôr em prática. Trump está a cumprir, a falar para o seu eleitorado, a satisfazê-lo. Depois há outros, que curiosamente, são uma maioria de votantes em número, e uma parte muito relevante da comunidade internacional, que não se revêm naquela abordagem. Como não se reviam na campanha eleitoral. Uma coisa são os que votam, outra são todos aqueles que são afetados pelas decisões. E aí é muito mais que os eleitores americanos e quem votou em Trump. Estão incomodados com as decisões que são, na minha perspetiva, muito preocupantes.

Falemos de populismos. Num texto escrito por si no jornal “Público”, em novembro do ano passado, escreveu que a melhor resposta aos “radicalismos dos populismos” era “o radicalismo do amor”. O que significa?

R: Significa que, num conjunto de matérias onde vemos decisões agressivas, como o famoso decreto em que está a ser contestado judicialmente, em que Trump contesta a própria decisão do Tribunal, tem na base várias coisas que vem da administração Obama e é bom não branquear que a tal lista de países vem de Obama, a um discurso que olha para a divisão, que de alguma forma não traz um discurso de concórdia e de procura por uma via mais dialogante de resolução dos problemas. Acho que tem de ser essa a contraposição. Não é fazendo clivagem em pessoas, religiões e proveniências de nacionalidade que se resolvem as questões. A isso temos que contrapor uma lógica de olhar para os problemas com muito realismo, mas também com uma dimensão muito humana. É a dimensão do amor.

A matriz da democracia-cristã, é isso?

R: É a matriz democrata-cristã. É um filtro de ação e decisão que deve ser aplicado.

(...) são os cidadãos europeus que gostam de ter produtos baratos, as fábricas europeias que se deslocalizam para terem produtos mais baratos para introduzirem no mercado europeu

Na Europa, temos um “Brexit”, Marie le Pen, em França. Estamos a observar a um regresso do Estado-Nação. É um perigo para a Europa?

R: É um perigo para a Europa. É preocupante. Leva-nos a perguntar onde é que começou esta separação e esta possibilidade de nascimento de mais populismos. Na base há um fenómeno de globalização mal gerido, digerido e mal percebido. Fomos fazendo um percurso de abertura, e sou muito favorável à globalização, até porque no outro lado do mundo, hoje vive-se melhor por causa da globalização. E se existe enquanto tal, e se as sociedades ocidentais sofrem algumas consequências com a globalização, são elas próprias que estão nessa origem, porque são os cidadãos europeus que gostam de ter produtos baratos, as fábricas europeias que se deslocalizam para terem produtos mais baratos para introduzirem no mercado europeu. Não acho que se possa isentar de culpas a sociedade ocidental. Só que algumas pessoas da sociedade ocidental, começam a sentir, que alguém lhes está a roubar o lugar. E essa ideia que alguém está a roubar o lugar a outros é muito negativa. Não foi explicado. É verdade que há regras do comércio internacional que desequilibram. O dumping na área do trabalho e ambiental é muito forte e tem que ser visto. É muito diferente trabalhar nas mesmas condições laborais, ambientais ou em diferentes. Do ponto de vista da concorrência houve falhas.

Mas foi e é um caminho escolhido pela Europa?

R: Mas o mundo ocidental também quis ir por aí. Interessava vender produtos e serviços nesse espaço. Há um fenómeno que foi crescendo, deixando gente para trás, e não se conseguiu explicar, nem equilibrar, nem encontrar ainda alternativas suficientemente sólidas para que todos se sintam que o dia de amanhã será melhor que o de ontem. Era o que acontecia nas gerações anteriores e que hoje já não acontece.

Que papel podem o CDS e Portugal desempenhar neste diálogo entre a Europa e o mundo?

R: Portugal enquanto país de dimensão média e de grande dimensão marítima tem uma palavra a dizer nesta política de procura de pontes e de consensos. Podemos ser grandes moderadores na cena internacional, porque não temos interesses muito específicos e muito fortes para um lado, ou para o outro. Para as grandes questões internacionais, para os grandes temas e conflitos ... aliás António Guterres é a prova provada disso mesmo. Podemos aparecer com um papel que nos é reconhecido de país aberto ao mundo e ao diálogo, integrador, que tem uma história e uma atualidade virada para tal. Devemos ser aquela voz sensata que há sempre nas famílias, nas empresas. E Portugal pode desempenhar esse papel, de ter uma voz que procura ser um elemento de concórdia e não de discórdia.

É a tal proximidade com as pessoas, e citando uma frase sua “começar por mudar a rua para mudar o mundo”?

R: É. Podemos não ter uma intervenção em tudo, mas podemos mudar algumas coisas que estão ao nosso lado. E isso depois transforma a perceção que o próprio país tem de si. E que dá de si para fora. Não podemos falar para fora se não fizermos para dentro. É preciso haver um trabalho interno para que depois esse reconhecimento apareça lá fora.

Marcelo está a ser exatamente aquilo que disse que iria ser, igual a si próprio

Marcelo Rebelo de Sousa tem recuperado temas caros ao CDS: natalidade, IPSS, Misericórdias ou Segurança Social. Ao mesmo tempo tem garantido pontes com o governo. Como vê a intervenção do Presidente da República? 

R: Marcelo está a ser exatamente aquilo que disse que iria ser, igual a si próprio. No tom, no estilo e a fazer o que disse que ia fazer - garante da estabilidade política - quando já havia este governo com este desenho parlamentar. Dali não vem nenhuma instabilidade. É verdade que poderá deixar algum desconcerto por parte de quem nele votou e não nos candidatos na área mais à esquerda e que às vezes sente ... pessoalmente não tinha outras expetativas, sempre pensei que seria isto que iria acontecer. Não é surpresa.

E está a...

R: Tem um estilo diferente. De grande proximidade. De ir às periferias que fala o Papa Francisco, aos mais pobres, aos refugiados, sem abrigo, aos bairros sociais, aliás, vai a todo o lado, mas tem presença muito marcada aqui. Vemos imagens que ficarão para a nossa história de alguém que tem uma grande facilidade em entrar em todos os contextos. Não é novidade. Nunca o tínhamos visto nesta pele, mas é nesta pele aquilo que era noutras áreas.

E a ação entra nos temas que são bandeira do CDS?

R: E recuperou temas do CDS. A natalidade, os idosos, mas já o anterior presidente, professor Cavaco Silva, falava bastante.

Falava, mas não era tão visível?

R: Falava, falava muito. Recordo quando o CDS apresentou o relatório de natalidade, em 2007, a primeira coisa que fiz no CDS, o presidente Cavaco Silva, creio que numa visita ao distrito da Guarda, falou da natalidade. Fizemos por causa disso um pedido de audiência ao presidente para entregar em primeira mão o estudo. Agora Marcelo Rebelo de Sousa, atual presidente, tem uma forma de passar as mensagens com uma grande proximidade e eficácia.

O PS poderia ter-se aproximado do CDS e PSD fazendo uma política como estão a fazer como BE e o PCP, que estão fora do governo e impõem condições para aprovar documentos estratégicos

Tem dito que não está com o governo das esquerdas. Equaciona aproximar-se de um PS mais ao centro?

R: O PS escolheu o seu caminho. Essa questão não se coloca até pragmaticamente. Olhando para a repartição do parlamento, só há duas maiorias possíveis. PS, BE, PCP, PEV e PAN ou o PS com o PSD. Porque PSD e CDS já lá estiveram e deitaram-nos abaixo. Neste momento e no contexto atual já tentámos. O PS poderia ter-se aproximado do CDS e PSD fazendo uma política como estão a fazer como BE e o PCP, que estão fora do governo e impõem condições para aprovar documentos estratégicos, como o Orçamento de Estado. Poderia ter sido essa a opção de António Costa. A opção mais natural. E mais conforme a nossa prática constitucional. Não foi nem ad initium nem agora. Fizemos um agendamento potestativo das quatro medidas que o CDS propôs para procurar reequilibrar o acordo de concertação falhado, que foi pura responsabilidade do governo, ligeireza do primeiro-ministro, que prometeu algo que não tinha condições políticas de cumprir. O CDS trouxe propostas, duas delas ao que parece próximas das que o PS está a preparar, e o PS votou contra. Poderia ter votado a favor ou ter-se abstido ... na medida do Pagamento Especial por Conta. E poderia ter passado.

Quer que o CDS faça o seu caminho sozinho?

R: A posição do CDS é simples: somos oposição firme e construtiva. Continuamos sempre a apresentar alternativas. Quem quer votar, vota, quem não quer não vota. Não podem é dizer que não vimos a jogo e não apresentamos propostas. E ficará claro que quando vier o agendamento da parte do governo que, na verdade, poderiam ter votado nas nossas propostas nem que fosse para descer à especialidade e aí haver um acerto. Não há essa abertura nem esse interesse. Nós não vamos mudar de política.

Ou seja, o PS só conversa à esquerda?

R: É com as esquerdas que querem conversar, o problema é que às vezes as esquerdas falham como se vê no falhanço do acordo de concertação social. É uma maioria frágil. O primeiro-ministro diz uma coisa num dia e diz outra no dia seguinte. Não é inconfidência nenhuma, esteve na conferência de líderes, houve disponibilidade do CDS e havia interesse do PS em fazer subir projetos para ontem e as esquerdas impediram. Com isto é claro de que lado está o partido socialista e de que lado está o CDS.

Sente-se de alguma forma a líder da oposição?

R: Sinto que o CDS está a fazer um bom trabalho na oposição, nesta oposição que é aquela que nós definimos, que saiu do Congresso, na qual me revejo e que eu não sei fazer outra. Oposição sempre firme e sempre construtiva. Está mal, apresentamos uma alternativa do ponto de vista de políticas. Sinto-me a fazer um caminho, com todo o empenho, esforço e dedicação que sou capaz, com uma equipa altamente mobilizada, que são os nossos deputados, e nesse aspeto, o CDS, no seu conjunto, tem estado muitíssimo bem.

Não gosto do autoelogio, procuro cultivar a humildade, não gosto da arrogância

Já vi que não quer esse ónus para si, de líder da oposição, prefere partilhá-lo com o partido que lidera?

R: Não me compete dizer isso. Sabe porquê? Não gosto do autoelogio, procuro cultivar a humildade, não gosto da arrogância. Do ponto visto numérico o CDS não é líder de nada. Temos 18 deputados. Que procuram trabalhar muito e trabalham. Eu trabalho muito, trabalho. Procuro ter sempre uma proposta positiva. Devemos isso aos portugueses. Trabalhar. Se estamos preocupados com a economia, com as empresas, com o emprego, com as IPSS temos o dever de fazer tudo o que está ao nosso alcance. Não é muito do ponto da vista eficácia, porque não temos número suficiente de votos para garantir eficácia ao que propomos, mas não ficamos de braços cruzados e mostramos qual o nosso caminho. Marcando a diferença por aqui.

E depois com uma publicidade de que baixaram a carga fiscal. Não baixaram!

Tem falado da austeridade à esquerda.

R: A austeridade à esquerda tem a ver com duas coisas: uma de nos terem acusado, ao governo PSD-CDS, de um grande aumento de impostos, que é verdade e objetivo, mas em circunstâncias muito especificas. Neste momento ainda não removeram esse grande aumento de impostos que tem a ver essencialmente com os escalões de IRS (que foram muito penalizadores) e a sobretaxa. A sobretaxa ainda não foi totalmente eliminada e nos escalões do IRS ainda nem sequer se mexeu. Por outro lado, adotaram um conjunto de medidas, nos impostos indiretos, que estão a penalizar. Dão com uma mão e tiram com duas. Os combustíveis vêm com uma taxa brutal que só no primeiro semestre do ano passado foram 500 milhões de euros a mais. Claro que a perceção... e tiro o chapéu aos socialistas. Nisso são muito bons. Dão alguma coisinha, tiram por outro lado e as pessoas não sentem. Percebem que, no final do mês, têm mais dinheiro, no papel, mas depois, a cada despesa, estão a pagar mais. O gasóleo e gasolina, por exemplo, para quem usa viatura ou utiliza transportes públicos, na verdade traduzem-se num aumento de custos para as pessoas. É mais subtil. O indireto nunca se sente tão bem. E depois com uma publicidade de que baixaram a carga fiscal. Não baixaram! Ainda não baixaram. Mas é uma não verdade repetida muitas vezes. Parece que joga certo, mas não joga.

Cito-a em algumas entrevistas em que diz que, em 2015, com o governo PSD-CDS, estava a retomar alguma normalidade no crescimento e que este governo apanha o comboio a meio?

R: Sim, apanha e infelizmente trava. Tínhamos uma economia a crescer 1,6% em 2015 e em 2016 vai decrescer. Ainda não sabemos o número fechado se é 1,2% ou 1,3%, mas é menos que 1,6%. Não está melhor. E para o ano propõe, o OE, um crescimento 1,5% ainda abaixo do registado em 2015. A realidade pode ser diferente do que se diz, mas há duvidas.

Percebemos que há coisas escondidas. Temos défice baixo. Mas qual a qualidade, como foi atingido?

Mas os números mostram ...

R: Mas há algo que me preocupa e tenho sinalizado no debate quinzenal. A questão da dívida. O governo faz o discurso do défice. E curiosamente só me faz lembrar quando estávamos no governo e quando se falava no défice, o que éramos criticados. Agora vemos que o governo, muito feliz, com um défice 2,4%, o mais baixo da história democrática. Quem aplicou exatamente as mesmas palavras do défice, em 2008 (2,6% à altura reportado, mas depois corrigido), foi o primeiro-ministro José Sócrates. Que era o mais baixo da democracia portuguesa. Era com aqueles dados. Agora esqueceu-se de explicar que muitas coisas estavam na dívida. E menos de dois anos e meio depois estávamos na bancarrota. Quando o primeiro-ministro diz que o défice está muito bem, vemos que é à conta da degradação dos serviços públicos, das escolas, hospitais, forças de segurança, por todo o lado falta dinheiro e eu tenho andado por todo o país. Quando vemos que o investimento público que era a grande bandeira do PS, baixou, contas do INE, em contabilidade nacional, nos três primeiros trimestres, 24%. Nunca estivemos num valor tão baixo. Percebemos que há coisas escondidas. Temos défice baixo. Mas qual a qualidade, como foi atingido? Uma queda brutal do investimento público que mobiliza muito investimento privado nomeadamente na parte dos Fundos Comunitários. Com uma degradação dos serviços públicos, na área da educação e segurança. Dessa parte o governo não fala.

Estava a falar da dívida.

R: Ao mesmo tempo a dívida não está a diminuir. No nosso governo estava numa trajetória descendente. Voltou a subir e vamos ver como vai ficar no final do ano. O primeiro-ministro recusa-se a revelar esses dados no parlamento. E os juros da dívida que é muito mais preocupante. Já tivemos uma emissão a 10 anos a 4,2% quando a última emissão do anterior governo foi de 2,6%. Estávamos a meio ponto de Espanha, agora estamos a dois pontos e meio de Espanha. É uma diferença brutal. Venham-me dizer que está a subir para todos? Nós subimos de 2,6% para 4,2%!

A renegociação da dívida que alguns partidos de esquerda tanto falam é solução?

R: É um caminho perigosíssimo. Sobretudo quando temos a prova que estava a ser feito de forma consistente ... nos seis anos da governação Sócrates, a dívida pública portuguesa subiu 46 pontos percentuais. De 86% para 109%, salvo o erro. No nosso governo subiu 20 pontos percentuais. Entre o início e final. Tem muito a ver com o facto de termos empresas públicas dentro da dívida. O défice de 11% deixámos em 2,9%. Pelo meio houve défice excessivo e todos esses défices têm que ser financiados com dívida. Agora temos uma dívida que não está a diminuir, o pico do governo PSD-CDS foi 133%, baixou para 128%. E agora deveria estar em 128%, não sabemos, se calhar está em 130%. Subiu. Os juros sobem. E isso significa que teremos mais encargos.

Acho  extraordinário, ainda que as esquerdas dissessem que queriam renegociar, mas que não iriam contrair mais dívida. É preciso explicar às pessoas o que significa renegociar a dívida. É que provavelmente muitos portugueses são detentores da dívida portuguesa, em certificados de aforro e do Tesouro. Também levam um corte? Renegociar a dívida é fazer um corte naquilo que os credores do Estado têm direito. Acho perigoso este caminho. Se os juros sobem é provavelmente porque um ou dois parceiros do governo que falam semana sim, semana não da renegociação. Que confiança dá aos ditos mercados? Nenhuma.

Na moção de 13 de marco de 2016 que a levou a líder do CDS “Ambição e Responsabilidade” traçou algumas bandeiras. Curiosamente falta uma que tem estado na ordem do dia: a subvenção bancária.

R: Tenho essa contabilidade feita e posso adiantar que planeámos, e não passará um ano de mandato sem que a subvenção bancária esteja no parlamento, uma proposta concreta nessa matéria. Está na ordem do dia. Não avançámos logo por aí. Esperámos a comissão de inquérito ao Banif e depois a da Caixa para retirar conclusões, mas há um conjunto de ideias que estão a ser passadas para o papel.

Poderia haver um risco e tentação muito grande de fundir a CGD com o Novo Banco. Ainda teríamos um problema maior.

... E a nacionalização do Novo Banco?

R: Temos tido uma posição clara nesta matéria. Sempre fomos a favor de um banco 100% público. Já existe, é a CGD, já chega. Já dá trabalho e problemas a mais. A opção para o Novo Banco é fazer uma venda. Esperar. Não eternamente. Mas poderia haver um risco e tentação muito grande de fundir a CGD com o Novo Banco. Ainda teríamos um problema maior.

Nas autárquicas, CDS e PSD seguem juntos ...?

R: Temos 22 coligações com o PSD. Em poder. Coligações que geraram poder camarário. Em quase todas temos vereadores. Há algumas que não foi suficiente, em que o CDS foi determinante para eleger o presidente de câmara da Coligação, mas que foi curto para eleger vereadores do CDS. Direi que não está fechado, mas quase todas irão continuar. Depois, noutros locais ver listas de alternativas à esquerda.

Mas Lisboa e Porto estão fora desse entendimento? 

R: O Porto é uma situação especifica. O Rui Moreira é candidato independente apoiado desde a primeira hora pelo CDS, o único partido que o apoiou. E mantém a palavra. Pré-conversada com as estruturas do Porto e com o próprio Rui Moreira. Não fazia sentido de outra maneira. Está a funcionar bem e é natural que haja continuidade ali, com um independente, e noutros locais, com apoio do PSD, onde o poder é exercido, o natural é dar continuidade.

E Lisboa?

R: É outro caso. O CDS, na sua reflexão, e eu própria, entendemos que havia uma possibilidade forte de conseguir tirar a câmara ao Partido Socialista. Em tempo falei com o líder do PSD, o PSD tinha na altura um compromisso com Santana Lopes, e a minha convicção na altura era que Santana Lopes não iria avançar.

Amigo não empata amigo. Vou, sozinha e se o PSD, fazendo a sua reflexão, entender que faz sentido juntar-se podemos fazer uma coisa em conjunto

E decidiu avançar?

R: E, portanto, decidi avançar explicando que não podia correr o risco do tempo. O PSD explicou que o timing era outro, mas o CDS não consegue montar uma campanha eleitoral em seis ou oito meses. A máquina é diferente. Temos menos gente. No meu caso com o desdobramento de funções – líder do partido e candidata – as coisas têm que ser oleadas com outra antecedência. O que na altura conversei. Amigo não empata amigo. Vou, sozinha e se o PSD, fazendo a sua reflexão, entender que faz sentido juntar-se, podemos fazer uma coisa em conjunto, se entenderem fazer algo sozinhos ... nós já estamos no terreno.

Aquela frase “Tenho o vento de Lisboa colado à minha pele e a água do Tejo colada à minha alma”. É mesmo essa a sua ambição, que estava escondida, de liderar a capital do país?

R: Adoraria e adorarei, se vier acontecer, ser presidente da câmara municipal de Lisboa.

Mais que ser ministra?

R: Nunca pensei ser ministra ou deputada, antes de sê-lo. Na faculdade, o meu marido entrou para o PSD e foi um membro pouco ativo, e perguntei-lhe: “qual é a visão que tens para o país porque é que vais para um partido?”. E disse-lhe que a única coisa interessante é ser presidente da câmara de Lisboa. Um trabalho que acho como muito próximo e muito imediato.

Explique lá isso de coisa interessante e trabalho próximo e imediato...?

R: Na altura muito longe do mundo partidário, fora do grupo faculdade, hobbies, amigos, eu fazia ação social, em ajuda aos sem-abrigo pela Comunidade Vida e Paz. Achava então que um presidente de câmara de Lisboa tinha muita interatividade próxima e diferenciadora para as pessoas. Nunca pensei ser política, nunca pensei entrar para um partido político, mas se perguntassem há 20 anos o que achava graça em política diria: ser presidente da câmara de Lisboa. Lisboa porque é a minha terra. Que sempre vivi e que me identifico.

Lisboa que tem servido de trampolim na política. Jorge Sampaio, António Costa...

R: De todo ... o CDS tem um caminho grande para fazer. Valorizo as autarquias. Já tinha esse entendimento, de forma distante, antes de entrar para a política e confirmei quando fui ministra. Quando me cruzo com um ou outro presidente de câmara digo que eles são responsáveis por eu ser candidata à câmara de Lisboa. Porque pude observar aquilo que as pessoas podem fazer de diferente em territórios, com as mesmas dificuldades, constrangimentos e oportunidades. E andei muito pelo país, enquanto ministra da Agricultura e Mar e Ambiente e Território. Pude ver o que era um presidente da câmara bom, mobilizado, com a equipa a fazer um bom trabalho no território e aquele que não fazia. O dinamismo que se sentia localmente tinha a ver com o tecido, naturalmente, mas com a liderança da própria câmara. É a historia de mudar a rua. Fiquei a admirar muitos presidentes de câmara. Outros nem tanto. E nessa medida foram inspiradores.

Arrendamento e Reabilitação, Turismo e vistos Gold. O CDS atuou em três áreas críticas que mudaram a face da cidade

Foi responsável enquanto ministra pela alteração da Lei do Arrendamento que muito contribui para a tempestade perfeita que atinge imobiliário e o turismo, na recuperação dos centros históricos das cidades.

R: Foi das coisas que fiz que mais visível e mais eficaz tem sido. Foram várias políticas ao mesmo tempo. Reforma do Arrendamento e Reabilitação Urbana. Mudamos estruturalmente as questões do arrendamento para o futuro. Na altura dizia-se que se não houvesse a reforma do arrendamento não haveria a reforma da reabilitação. As duas matérias andavam a par e passo e foi feito nos primeiros seis meses do governo. Porquê? O memorandum da troika tinha 31 dezembro como data limite. E a troika foi muito difícil, um tempo duríssimo e muito exigente para se governar e todos nós gostaríamos que não tivesse sido assim. Mas quando olho para o calendário da minha ação política, recordo-me de uma vantagem: o calendário da Reforma do Arrendamento, porque se não tivéssemos esse calendário tão perentório era muito difícil fechar essa reforma e não teria sido conseguida. Fechou-se porque na altura teve que ser e foi mesmo. É uma reforma muito equilibrada que está a transformar a cidade. Ao mesmo tempo as reformas na área do Turismo de que o CDS foi responsável, com a Cecília Meireles e o Mesquita Nunes, as reformas na atração de investimento direto estrangeiro para Portugal – programa dos vistos Gold – de Paulo Portas, também mudou muito. Arrendamento e Reabilitação, Turismo e vistos Gold. O CDS atuou em três áreas críticas que mudaram a face da cidade.

Mas essa reforma pode ser uma arma contra si?

R: Estou muito segura nessa matéria e sei bem aquilo que fiz. Sei bem do drama que dizia que os velhinhos iriam ser postos fora de casa, não aconteceu.

Lisboa pode ter essa abertura ao mundo de sã convivência. Agora precisa que os moradores não sintam que estão a perder espaço.

E não há turistas a mais como se ouve em algumas vozes?

R: Não há turistas a mais. Há sim, necessidade de mais gestão urbana, mais gestão municipal. Os turistas têm impacto na habitação, restauração e comércio, na mobilidade e higiene urbana. Temos turistas e queremos ter mais. Podemos ter mais. A cidade ganha com isso. Não só do ponto vista económico, mas de abertura ao mundo. Lisboa sempre foi uma cidade cosmopolita. No século XVI, Lisboa era a cidade mais cosmopolita do mundo. Onde tudo acontecia. Lisboa pode ter essa abertura ao mundo de sã convivência. Agora precisa que os moradores não sintam que estão a perder espaço. A Baixa estava abandonada e agora dizem que os locais se queixam dos turistas, mas os locais já não estavam lá. Não existiam e agora há espaço para que voltem para lá. A parte do Alojamento Local percebendo que há exigências de conforto, com barulho, há coisas a fazer na higiene urbana, acho que a cidade está suja, é necessário reforço nessa área como também na circulação, que curiosamente que está péssima. Para moradores e turistas.

Turistas que mudaram a cidade?

R: Estamos muito focados em tr~es áreas: Castelo, Baixa e Chiado e depois Belém. Onde passam uma tarde. Precisamos espalhar os turistas pela cidade. Para que não venham só por um dia. Criar mais polos de interesse. Não só em Lisboa cidade, como alargando um pouco até do ponto de vista do estuário do Tejo, como área muito interessante de atração.

Vai ser preciso mais dinheiro para pôr na Carris. Ou então vai haver dívida. Há algo que não bate certo.

Falou em transportes. A Carris fica bem nas mãos da CML?

R: O anterior governo foi claro nesta matéria. Uma subconcessão conjunta de Metro e Carris. Na altura António Costa, presidente da câmara, reclamava e queria ficar com as duas. Agora Costa, primeiro-ministro, só atribuiu a Carris. Deixa de lado o Metro. Não sei se vai funcionar. Depois na altura a razão para se fazer a subconcessão não era o fanatismo ideológico, como às vezes querem fazer parecer. Era impossibilidade financeira. Não havia dinheiro. A operação estava desequilibrada e equilibrou-se, com sacrifícios, para as pessoas e para os trabalhadores, sacrifícios que, entretanto, foram repostos. Falta dinheiro para investimento. E só os privados tinham dinheiro para fazer investimentos. Neste momento temos uma passagem da Carris para a câmara. Temos a CML que anuncia investimentos grandes, mas que não tem financiamento para fazer face. São 20 milhões por ano e, que eu saiba, o fundo prevista para financiar a Carris são de 15 milhões. Faltam cinco! Por outro lado, anuncia passes mais baratos para idosos e gratuitos para crianças abaixo dos 12 anos que afinal não é bem assim ... tem a ver com ação social. O anúncio parece que não bate certo com a realidade.

Por um lado, vemos medidas que desequilibram a operação que têm de ser equilibradas com dinheiro, por outro lado, investimentos anunciados e não há dinheiro para isso. Vai ser preciso mais dinheiro para pôr na Carris. Ou então vai haver dívida. Há algo que não bate certo. Sobretudo preocupa-me a articulação de Carris e Metro também. Estavam debaixo da mesma administração e agora separaram-se. E isso falo de experiência própria de um ministério junto e separado. É muito diferente. A própria lógica subjacente, a forma que temos para percecionar determinadas coisas.

Obras. Santana Lopes foi um presidente criticado pelo túnel do Marquês e hoje elogiado. Fernando Medina fez obras em vários eixos da cidade e foi e tem sido criticado. Prevê uma grande obra?

R: Não me revejo à partida numa cidade que tem tanta pequena obra para fazer, nomeadamente na área social e estou a pensar nos bairros sociais e não só, tanto trabalho para ser feito na mobilidade da cidade. Onde falta habitação para a classe média que foi expulsa da cidade. Olhe, gostava de fazer projetos tipo EPUL. A lógica subjacente era de chegar à classe média que não vive no bairro social, mas que também não tem dinheiro para pagar os preços que se praticam em Lisboa ...a cho que é uma grande ação da câmara. Se quiser, vejo-me mais a defender essas áreas e no que for adjacente do que propriamente uma grande obra emblemática.

O que faria de caras era parar o comboio de Cascais em Algés e a partir de aí ser Metro. Eliminava a linha de comboio e faria uma ligação muito mais forte da cidade ao rio.

Mas se pudesse escolher uma grande obra para fazer?

R: Há uma obra que não depende só da câmara e custa muito dinheiro. Mas se quiser, se pudesse fazer ... de visão para daqui a muitos anos. Por onde a cidade deve caminhar? O que faria de caras era parar o comboio de Cascais em Algés e a partir de aí ser Metro. Eliminava a linha de comboio e faria uma ligação muito mais forte da cidade ao rio.

Isso teria muitos custos?

R: É muito caro e não está sequer na dependência da Câmara de Lisboa. Refer, CP... Mas é por aí, expandir metro, a partir de Algés, para que as pessoas chegassem com facilidade.

Ligando as duas extremidades da cidade?

R: A cidade é simétrica (faz um desenho), Centro, Terreiro do Paço, com dois núcleos iguais para um lado e outro: Belém e Parque das Nações. Para um lado e para outro há descontinuidades que correspondem àquilo que foi o crescimento da cidade. Cresceu para Belém no pós-terramoto, até lá cresceu sempre para norte. Temos Alcântara com falhas na malha urbana. Antigamente industrial. A Junqueira está muito abandonada. Como há zonas de malha para fechar de Santa Apolónia até ao Parque das Nações.

Por causa do web summit, o Beato será a nova zona tecnológica ... 

R: Essa pode ser a zona tecnológica, mas do outro lado, pode ser a zona do mar. Lisboa deveria ser a cidade do mar. A tecnologia é transversal, mas o que distingue Lisboa é a nossa ligação ao rio e ao mar. O que faz a história de Lisboa é a ligação ao mar. É talvez a única capital europeia em mar aberto.

Essa agora ... desde quando um presidente de câmara não pode ser líder de um partido? Sampaio e Costa foram-no.

Se ganhar a câmara abdica de qualquer participação política num cenário de eventual formação de um governo.

R: Já o disse e reitero, exercerei as funções de presidente, para as quais fui eleita, com muita vontade e interesse. Obviamente que não pertencerei a um eventual governo o que não quer dizer que o CDS não esteja nesse governo. Pode estar. E também não quer dizer que eu deixe a presidência do CDS. Essa agora ... desde quando um presidente de câmara não pode ser líder de um partido? Sampaio e Costa foram-no. Continuarei a ser líder do CDS, empenhada a fazer oposição ao governo das esquerdas e se um dia houver a oportunidade de ir para o governo e o CDS for convidado a constituir governo e eu estiver como presidente de câmara, aí sim, não serei candidata a pertencer esse governo.

O score do CDS nas eleições para a câmara de Lisboa foi 7% com Portas Maria José Nogueira Pinto, 5,9%. Krus Abecasis que liderou a cidade (1980-1990) teve 15% …  aponta estar mais próxima de quem?

R: Quero ter tudo o que conseguir. Vou empenhar-me para ter melhor resultado possível e dizer com total transparência desde a primeira hora a todos os lisboetas que farei aquilo para o qual os lisboetas me elegerem. Se for presidente, serei, se for vereadora, serei...

E agarra no antigo slogan de Portas, “Eu fico”?

R: Não é preciso agarrar em slogans. Serei vereadora da oposição enquanto for compatível com ser deputada e líder do CDS na oposição e, estando nós a projetar uma legislatura de quatro anos, isso será certamente compatível pelo menos durante parte do mandato. Mas se o CDS for governo, logo se verá, mas aí ninguém pode levar a mal que deixe de ser vereadora da oposição para integrar um governo.

São cargos a mais ou suficientes? 

R: Presidente da câmara é exclusivo. É compatível com a liderança do CDS. Se for vereadora, líder parlamentar e deputada é perfeitamente compatível e farei com muito gosto. 

Lisboa terá um novo aeroporto. Há um memorandum assinado entre a ANA e o governo português e o Montijo é o local eleito. Que comentário lhe suscita? Lisboa necessita de um novo aeroporto?

R: O CDS sempre defendeu a solução de Portela+1, ou seja, a manutenção e melhoramento do aeroporto da Portela apoiado por um aeroporto complementar. O aeroporto de Lisboa, em Lisboa, é um dos fatores críticos para a competitividade da nossa cidade e o CDS continuará a defendê-lo. Hoje com o aumento do número de turistas a questão é ainda mais premente.

Mas há estudos? É apresentado como facto consumado.

R: O Governo está atrasado nos dois estudos que são sua obrigação: o que sustenta o esgotamento da Portela e o que se refere à localização do aeroporto complementar. Temos exigido ter conhecimento dos estudos, já os pedimos por várias vezes ao governo e até agora nada. O anúncio do governo parece colocar-nos perante fatos consumados e até ouvimos o primeiro-ministro dizer que já estava tudo estudado. Tal não é aceitável e vamos continuar a pedir esses estudos e a questionar o governo sobre todo o desenrolar do processo.

Engraçado como em política 10 anos é pouco.

Um programa do Prós e Contras na RTP (em que defendeu o "não" à legalização do aborto) “atirou-a” para a ribalta política. Teve uma ascensão meteórica no partido. Não passou pelas jotas. Foi ministra, deputada, líder partidária. É mérito, sorte ou tudo doseado com ambição?

R: Faz 10 anos desde a minha entrada no CDS. Engraçado como em política 10 anos é pouco. Eu não faço grandes planos. Fiz planos profissionais e quando perguntam a minha profissão digo professora universitária. Estudei, doutorei-me e quis fazer uma carreira universitária. Esses foram os meus planos de vida profissional e que era adequado para ter uma família que eu queria ter ... uma família grande. Se não fosse o Prós e Contras era provavelmente onde estaria hoje. Estava a dar os primeiros passos na advocacia quando vim parar ao parlamento e esse projeto ficou adiado ou engavetado. Foi para isso que planei, trabalhei e continuo a achar que um dia voltarei a estudar e a dar aulas.

Tal com Adriano Moreira ...

R: Sim, revejo-me aí. Tudo o resto são oportunidade que tenho agarrado. Vim para o CDS, fui para o parlamento, aprendi muito, tive a pasta de Orçamento e Finanças, fui ministra. Se é para fazer é para fazer. É a minha lógica. O caminho é para a frente. Arregaçar as mangas e dar o meu melhor. No final do governo estava já com o pensamento em escrever várias coisas na área do Direito e, em 28 dezembro, Paulo Portas deixaria de ser líder ... mais um acaso. Corrida a Lisboa, foi igual. Faz sentido ou não avançar. Falei com as pessoas e disse: vamos a isto.

Nunca senti que carregasse o mundo as costas

Gosta do poder? 

R: Não reflito muito sobre isso. Uma amiga de curso e de doutoramento disse-me um dia: “a responsabilidade não te pesa”. E nunca tinha pensado nisso. Nunca senti que carregasse o mundo as costas. É exigente, mas acho que faço com empenho e normalidade, mas não reflito muito sobre isso. Não tenho essa atitude autorreflexiva. É para fazer é para fazer. Confiar em pessoas, dar autonomia, motivar e dar o meu melhor. 

Para o fim perguntas de resposta rápida. Redes sociais. Anda por aí?

R: Comecei em 2009 com facebook e em 2011 com Twitter (uma assessora avisa que é altura de votações e exclama: “tenho que ir embora”). Mantive o facebook. O Twitter deixei cair quando fui para o governo como uma razão. Não tinha tempo para alimentar. E tem de ser alimentado pelo próprio para ser uma coisa séria. E na altura tinha tanto para a aprender e tanto que estudar que achei arriscado estar a manter.

Talvez o reative, mas acho que [o Twitter] é instrumento com muitos riscos e perigoso.

Trump meteu o Twitter na alta roda...

R: Sabe que o Twitter é muito mais utilizado na Europa e nos Estados Unidos que em Portugal. Talvez o reative, mas acho que é instrumento com muitos riscos e perigoso.

... Em tempos idos disse que as redes sociais eram impessoais. Mantém?

R: Não exclui o contato pessoal e mantenho. Sou ativa. Agora criei o Instagram por causa dos meus filhos (risos), porque dizem que o facebook já ninguém usa.

O que a geração de 70 trouxe de novo à politica?

R: Acho que é uma geração descomplexada. Quase todo o nosso grupo parlamentar nasceu pós 25 abril de 1974 e mesmo os outros eram crianças não fizeram a instrução primária no tempo do Estado Novo. É uma marca geracional. Há outra forma de ver a política. Menos sectária. Menos agarrada a uma história que não vivemos. Com o que isso tem de positivo. O caminho é olhar para a frente. Mas também digo que faltam ao CDS alguns cabelos brancos para nos reporem a memória.

Última pergunta. Papa Francisco. O que mudou para a igreja católica e no mundo?

R: Trouxe uma abertura na forma como comunica aquilo que sempre foi a Doutrina de Igreja. Comunica com uma grande proximidade, que não era habitual. No outro dia, vi inclusive umas imagens do Papa Francisco a comprar uns sapatos. O cristianismo sempre foi de abertura e não de fechamentos. O Papa Francisco é uma grande expressão disso.