Depois de, nas últimas semanas, vários países terem anunciado não recomendar a vacina da AstraZeneca a maiores de 65 anos, por considerarem que não há provas de que seja eficaz na faixa etária, Portugal seguiu o mesmo caminho.

No início da semana, a Direção-Geral da Saúde (DGS) anunciou que, até novos dados estarem disponíveis, a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca com a Universidade de Oxford deve ser preferencialmente utilizada para pessoas até aos 65 anos de idade.

A DGS explicou, no entanto, que "em nenhuma situação deve a vacinação de uma pessoa com 65 ou mais anos de idade ser atrasada" se só estiver disponível a vacina da AstraZeneca e que em "nenhuma situação deve a vacinação de uma pessoa com 65 ou menos anos de idade ser atrasada se só estiver disponível uma vacina de mRNA".

De resto, a África do Sul já tinha anunciado que iria solicitar à Organização Mundial da Saúde (OMS) orientações "claras" sobre a aplicação da vacina da AstraZeneca, depois de um estudo provar a sua ineficácia contra a variante detetada no país.

E assim foi, os especialistas da OMS deram o seu parecer e indicaram que a vacina pode ser administrada em maiores de 65 anos e em lugares onde circulem as variantes do vírus.

Alejandro Cravioto, presidente do Grupo de Especialistas em Assessoria Estratégica sobre Imunização (SAGE), recomendou que a vacina fosse administrada a todos os grupos etários – com exceções por falta de informação, como mulheres grávidas –, independentemente das variantes que predominem nos países, apesar de estudos sugerirem que a vacina é menos eficaz contra a variante inicialmente detetada na África do Sul.

Há alguma contradição entre OMS e DGS? Ao que parece, não. Em Portugal, a recomendação é que seja dada a preferência à vacina da Pfizer ou da Moderna a pessoas com mais de 65 anos, mas em situações em que não haja disponibilidade, parece não haver razão para não usar a vacina da AstraZeneca. Assim, os países que possam escolher entre as vacinas, como é o caso de Portugal, deverão privilegiar a utilização das doses dos outros laboratórios em pessoas desta faixa etária, mas, caso não haja, podem administrar a da AstraZeneca.

Durante a audição na Comissão de Saúde na Assembleia da República, a Comissão Técnica pronunciou-se sobre a recomendação da DGS de administrar a vacina da AstraZeneca em pessoas até aos 65 anos de idade. Os membros da Comissão afirmaram estar confortáveis com a “atitude de prudência” refletida, admitindo, porém, estarem também confiantes com a segurança e eficácia dessa vacina em todas as faixas etárias.

Ainda sobre as vacinas, a ministra da Saúde, Marta Temido, afirmou hoje, durante uma audição na comissão parlamentar de Saúde, que a capacidade da indústria farmacêutica de fazer a distribuição de vacinas contra a covid-19 está aquém das expectativas.

“Se é certo que a ciência respondeu e conseguimos ter uma vacina muito rapidamente, se é certo que conseguimos também ter aprovações relativamente às vacinas num período relativamente célere, o que é facto é que a capacidade produtiva destas companhias não está a responder ao nível que desejaríamos”, afirmou.

Já o pneumologista Filipe Froes reafirmou hoje a vacinação como uma das mais importantes soluções para a pandemia, mas alertou que este é um processo que Portugal está agora a “semear para colher os benefícios a partir de setembro ou outubro, se tudo correr bem”.

Em suma, a vacina AstraZeneca é importante porque é uma das que serão distribuídas pelo mecanismo COVAX (iniciativa de distribuição global e equitativa de vacinas) e porque não exige temperaturas tão elevadas.

E, apesar de a eficácia da vacina AstraZeneca estar estimada em 70%, enquanto as vacinas Pfizer/BioNTech ou Moderna sugerem uma eficácia superior a 90%, Katherine O´Brien da OMS sublinha que o preferível é vacinar, mesmo que a eficácia seja menor.

Assim, talvez o mais importante, acima de tudo, seja ser vacinado, independentemente da vacina. Agora é aguardar pela sua vez.