O médico morto na terça-feira foi Hasan Hamdan, chefe do departamento de queimaduras e cirurgia plástica do Hospital Naser, na Faixa de Gaza, que deixou Khan Yunis na manhã de segunda-feira, na sequência de uma ordem de evacuação israelita, e procurou refúgio com a sua família em casa de um parente.
Citando fontes médicas, o canal de notícias do Qatar al-Jazeera, cuja transmissão está proibida em Israel desde maio pelo Governo israelita, afirma que a casa estava numa suposta “zona segura”, mas foi bombardeada, matando o médico, cinco crianças e três mulheres.
Além disso, em todo o enclave devastado por quase nove meses de guerra e que soma cerca de 37.900 habitantes mortos, registaram-se hoje bombardeamentos incessantes israelitas no bairro de Shujayia (no norte do território) para onde as forças de Telavive regressaram há uma semana.
Foram relatadas explosões, ataques de artilharia e disparos de veículos militares israelitas, ‘drones’, quadricópteros e helicópteros Apache, segundo fontes palestinianas, enquanto o Exército israelita afirmou ter morto um número não especificado de militantes islamitas e confiscado granadas e espingardas automáticas AK-47.
O conflito no território palestiniano foi desencadeado por um ataque sem precedentes do grupo islamita Hamas em solo israelita, no dia 07 de outubro, deixando quase 1.200 e levando mais de 200 como reféns, a que se seguiu desde então uma ofensiva em grande escala de Israel.
O porta-voz da Jihad Islâmica Palestiniana, uma das fações armadas presentes na Faixa de Gaza, afirmou entretanto em comunicado que vários reféns israelitas tentaram suicidar-se, sem adiantar mais pormenores.
As tentativas de tirar a própria vida estariam relacionadas com a frustração por não haver acordo para a sua libertação, mas também com as piores condições de vida impostas aos reféns, segundo Abu Hamza, porta-voz das Brigadas al-Quds, a ala da Jihad Islâmica.
Hamza disse que reféns foram privados de “alguns privilégios” por causa do massacre de Nuseirat, quando Israel matou cerca de 270 palestinianos numa operação especial em junho, na qual quatro prisioneiros foram resgatados com vida, e como resultado da “tortura” que os palestinianos sofrem.
“A nossa decisão nas Brigadas al-Quds de tratar os prisioneiros inimigos com o mesmo tratamento dos nossos prisioneiros [em Israel] permanecerá em vigor enquanto o governo do terrorismo continuar com os seus procedimentos injustos”, afirmou.
Grupos de defesa dos direitos humanos e ex-prisioneiros palestinianos denunciam falta de comida, espancamentos e humilhações, bem como abusos sexuais como penetração forçada com bastões em centros de detenção sob gestão do Ministério da Defesa, em vários pontos de Israel.
Por seu lado, o Presidente israelita, Isaac Herzog, reiterou na rede X a responsabilidade do Governo israelita de recuperar, através de um acordo, os 116 reféns que permanecem na Faixa Gaza, dos quais se teme que apenas 50 ainda estejam vivos.
“Toda a nação quer o seu regresso e uma clara maioria apoia um acordo [de libertação] de reféns. O dever do Estado é devolvê-los e isso faz parte do consenso”, disse Herzog.
Relativamente à fronteira norte com o Líbano, onde, como resultado da guerra na Faixa de Gaza, o grupo xiita libanês Hezbollah realiza ataques diários com ‘rockets’ em resposta a incursões de Israel, o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, reiterou a possibilidade de iniciar uma guerra para acabar com o fogo cruzado.
“Estamos determinados a dar este passo no Líbano, se necessário”, disse hoje Gallant numa reunião com as tropas perto da fronteira com a Faixa de Gaza.
Embora tenha garantido que Israel prefere um acordo diplomático, que poderá facilitar o regresso às suas residências de cerca de 60 mil israelitas deslocados, o governante insistiu que, se a realidade o impuser, Israel saberá como lutar.
Mais de 500 pessoas já morreram neste fogo cruzado, a maioria das quais milicianos e comandantes do Hezbollah, contra os quais Israel também comete ataques aéreos seletivos, somando-se a mais de 90 civis no Líbano e pelo menos 25 pessoas do lado israelita: 15 militares e 10 civis.
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