José Régio, nome literário de José Maria dos Reis Pereira, nasceu a 17 de setembro de 1901 em Vila do Conde, estudou em Coimbra e lecionou em Portalegre durante mais de 30 anos, tendo vindo a morrer na sua terra natal a 22 de dezembro de 1969.

Para assinalar esta efeméride, o Ministério da Cultura, as direções regionais de cultura do Norte, do Centro e do Alentejo, os municípios de Vila do Conde, Coimbra e Portalegre, e o Centro de Estudos Regianos (Vila do Conde) juntaram-se na elaboração de um vasto programa cultural, que foi hoje apresentado em Lisboa.

José Régio foi poeta, dramaturgo, romancista, novelista, contista, ensaísta, cronista, crítico, autor de diário, memorialista, epistológrafo, historiador da literatura portuguesa, desenhador, pintor, e grande conhecedor e colecionador de arte sacra e popular, lembrou o diretor regional de cultura do Norte, António Ponte, justificando assim a abrangência de atividades em torno desta “figura ímpar da cultura portuguesa”.

Ao longo de quase dois anos (até dezembro de 2020), vão desenvolver-se diversas iniciativas de cariz nacional e local, como exposições dedicadas aos escritos de Régio em processo – “Do borrão do autor às mãos do leitor” -, na Reitoria da Universidade do Porto a partir de 13 de junho, ou “Revisitações à Torre de Marfim”, uma exposição itinerante que pretende dar a conhecer a produção plástica de José Régio, a partir de 05 de outubro, em Vila do Conde.

Mostras de ilustrações, de fotografias, de escultura inspiradas na obra de José Régio ou captadas na sua casa-museu vão estar patentes também, mas ainda em data a definir.

No final do ano será apresentado um espetáculo criado por Pedro Lamares através do estudo e pesquisa da obra de José Régio e, em julho, durante o Festival de Curtas de Vila do Conde, o escritor vai estar em destaque, com a apresentação e debate dos filmes “A glória de fazer cinema em Portugal”, de Manuel Mozos, “Douro faina fluvial”, “As pinturas do meu irmão Júlio”, “Romance de Vila do Conde”, “O poeta doido, o vitral e a santa morta”, de Manoel de Oliveira.

Em Portalegre, haverá também um ciclo de cinema para visualização de filmes relacionados com a obra literária do autor transposta para o grande ecrã, com comentários por críticos e estudiosos de cinema, assim como um ciclo de curtas-metragens e de fotografias de coleções privadas.

Do cinema para o teatro, está prevista uma recriação dramática sobre personagens regianas no feminino, e uma peça de teatro de tributo a José Régio, intitulada “Do humano ao divino”.

Em Portalegre, também ainda sem data definida, haverá recitais de música e poesia.

No que respeita a iniciativas de rua, vai ser feita uma instalação plástica do artista Daniel Eime, do rosto de José Régio na fachada da sua casa.

Pelas fachadas dos edifícios devolutos espalhados pela cidade de Vila do Conde vão ser espalhados poemas e desenhos de Régio impressos em grande formato.

Haverá trajetórias pedonais “afetivas do autor”, itinerários literários e degustação de jantar com um menu que recria os pratos gastronómicos ao gosto do escritor.

As escolas vão ser palco de maratonas de leitura de poemas, bem como de concursos de desenho e literatura.

Ao nível das conferências e publicações, os organizadores destacaram um ciclo de conferências e mesas redondas, e a edição de uma agenda perpétua de José Régio, bem como de algumas das suas obras, pela editora Opera Omnia: “Biografia de José Régio, por Eugénio Lisboa”, “Antologia Poética”, “Jogo da cabra cega”, “Histórias de mulheres” e “três peças em um ato”.

Segundo os organizadores, este é um programa “muito vasto, que não se fecha nestas entidades e está aberto a propostas de outras instituições – como universidades ou associações culturais locais – que se queiram juntar.

Um dos objetivos desta iniciativa é chamar a atenção da importância deste homem – também fundador da revista Presença - para a literatura e a cultura portuguesas do século XX, mas que tem sido “mal tratado”.

“Esperemos que haja da parte da educação e da cultura um interesse relativamente a José Régio diferente do que tem sido até hoje. É importante valorizar o nome destas pessoas que deram tanto ao nosso país”, afirmou a presidente da Câmara Municipal de Portalegre, Adelaide Teixeira.

Lamentando ter saído dos currículos escolares a obrigatoriedade de falar em Régio, a responsável criticou que em Portugal se tratem “tão mal” os escritores para depois se dar importância maior a outros “autores de fora”.

Os organizadores das iniciativas esperam com este programa dar a conhecer melhor José Régio em Portugal, mas também em países de língua portuguesa, e contribuir para que o autor passe a ser abordado nos currículos escolares, para ser dado a conhecer às camadas mais jovens.

“A ideia é repensar de algum modo o que devia ter sido feito há alguns anos, que é dar o devido respeito e o devido lugar a este nome e grande vulto da cultura portuguesa que é José Régio”, acrescentou Adelaide Teixeira.

De forma a criar uma identidade a este projeto de evocação de José Régio, foi desenvolvida uma imagem gráfica, com um dos versos mais conhecidos do poeta – “Não sei para onde vou, não sei por onde vou, sei que não vou por aí” -, e criado um site na Internet – www.joseregio.org -, onde vai ser divulgada toda a programação ao longo do projeto.