“Já estou em liberdade. Saí da prisão Guantánamo às 18:00 [17:00 em Lisboa]”, disse à Lusa Joaquín Elo Ayeto, que agradeceu todo o apoio que recebeu da comunidade e imprensa internacional.

Joaquín Elo Ayeto, uma das vozes mais respeitadas da Guiné Equatorial em matéria de direitos humanos e coordenador da plataforma Somos +, foi detido no domingo à tarde, tendo ficado na esquadra do Semu, junto ao mercado com o mesmo nome no centro da capital, depois de ter comemorado o Dia Internacional dos Direitos Humanos no sábado.

Em seguida, foi transferido para a Esquadra Central do Ministério da Segurança Nacional, na cadeia de mais alta segurança do país, também conhecida como Guantánamo ou Black Beach.

Numa mensagem que enviou à agência AFP, Joaquín Elo Ayeto disse que foi acusado de “ter realizado uma reunião ilegal e clandestina, sem autorização do governo", acrescentando que recebeu garantias de que "não haverá processo judicial".

“Não fui torturado mas a minha detenção foi violenta” e “as condições de detenção eram más”, concluiu na mensagem.

Segundo a plataforma de que é coordenador, Joaquín Elo Ayeto foi detido por ter feito a evocação do dia sem estar autorizado para tal, mas a organização alega que a celebração foi feita num local privado e, como tal, não era necessário autorização.

Um outro ativista terá sido também detido no final da semana passada na zona de Bata, segundo fonte no terreno contactada pela Lusa, por suspeita de estar a organizar ações de protesto por ocasião do Dia dos Direitos Humanos, assinalado em 10 de dezembro.

A estes dois detidos somam-se outros dois ativistas presos desde setembro sem acusação formal, segundo os seus advogados, Anacleto Micha e Luiz Nzó.

Para estes detidos, foi criado uma página na Internet para apelar à sua libertação - https://genuestra.weebly.com/libertadnzoymicha.html - mas, até ao momento, as autoridades da Guiné Equatorial não atenderam os pedidos judiciais.

A estes ativistas detidos somam-se opositores políticos, como é o caso do líder do partido Cidadãos para a Inovação (CI), Gabriel Nsé Obiang, cuja formação foi ilegalizada para não concorrer nas eleições de 20 de novembro.

A Guiné Equatorial integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2014 e tem insistido que não viola os direitos humanos e respeita os direitos da oposição. Mas vários analistas e organizações acusam o Governo de Malabo de representar uma das ditaduras mais violentas do mundo e vários críticos contestaram a decisão da CPLP de aceitar no seu seio esta ex-colónia espanhola que vive do petróleo.

O líder do único partido da oposição de facto autorizado a concorrer - a Convergência Para a Democracia Social, CPDS -, Andrés Esono Ondo, tem criticado a desigualdade de tratamento e as dificuldades de fazer oposição.

O resultado das eleições foi esmagador para o partido governamental de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que obteve todos os lugares no Senado e no Congresso. Obiang é o Presidente há mais tempo no poder em todo o mundo.

O seu filho e vice-presidente, Teodoro Nguema Obiang Mangue, desafiou nas redes sociais a que os críticos encontrem provas de violações de direitos humanos e democráticos.

Teodoro Nguema Obiang Mangue, também conhecido por 'Teodorín', foi já condenado por corrupção em processos noutros países e é considerado, por analistas, o sucessor do pai na Presidência do país.

Além do líder dos Cidadãos para a Inovação, foram detidos 50 militantes em setembro, ainda antes das eleições.