“Fala-se num aumento entre 1% e 2% por ano. Ora, todos os anos acabam (os cursos) à volta de 1.500 estudantes de medicina (…). Como analisaram oito faculdades, se não estou errado, 1% dá 15. Portanto, serão entre 15 a 30, o que dividido por oito faculdades dá dois a quatro estudantes. Para mim, o significado não é de um aumento (…) é de manutenção desta linha”, disse à Lusa Carlos Cortes.
O bastonário falava a propósito da proposta do grupo de trabalho designado pelo anterior Governo para estimar as necessidades formativas em Medicina em Portugal nos próximos dez anos, noticiada hoje pelo jornal Publico.
Segundo o jornal, o grupo de trabalho entende que Portugal precisará de formar mais cerca de 10.700 médicos nos próximos 12 anos e, para atingir esse objetivo, a recomendação é aumentar entre 1% e 2% por ano o número de vagas para os cursos de Medicina, até 2034.
Questionado pela Lusa, Carlos Cortes disse que este aumento é a manutenção do que tem acontecido nos últimos anos.
“Todos os anos há variações, uns anos há um pouco mais [vagas nas faculdades], outros um pouco menos. Isto é um aumento perfeitamente acomodável nas faculdades existentes e também, depois, em termos de vagas para a especialidade”.
O bastonário da Ordem dos Médicos disse que não é este aumento que vai resolver o problema da falta de médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), sublinhando que “têm sobrado centenas de vagas todos os anos”.
“O grande problema que existe neste momento em Portugal é a falta de capacidade de atração do Serviço Nacional de Saúde. E aí é que se tem que investir”, afirmou.
Carlos Cortes considerou ainda que “o grande desafio” da nova ministra da Saúde vai ser “criar condições de trabalho, condições formativas, condições de acesso à investigação”, adiantando que “as questões remuneratórias, mas não só, obviamente que são importantes para o SNS ser novamente um objetivo de carreira e de vida para os médicos”.
Segundo dados oficiais divulgados em novembro do ano passado, o concurso para a formação de médicos especialistas terminou com mais de 400 vagas por preencher.
A Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) revelou que das 2.242 vagas foram preenchidas 1.836.
A ACSS reconheceu como “motivo de preocupação” a diminuição das escolhas pela especialidade de Medicina Interna, onde foram ocupadas apenas 104 das 248 vagas a concurso, sendo que este número foi “só parcialmente compensado pela admissão de 68 candidatos na especialidade de Medicina Intensiva”.
Segundo dados divulgado na altura pelo Sindicato Independente dos Médicos (SIM), em 2021 tinham ficado por preencher 51 vagas para o internato médico, um número que aumentou para as 161 em 2022.
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