“Novas eleições” e “renúncia” são palavras de ordem proferidas pelos manifestantes, convocados espontaneamente através das redes sociais, enquanto empunham bandeiras da União Europeia, à espera que o chanceler federal, Sebastian Kurz, compareça perante a imprensa para falar do ‘terramoto político’ que abala o país.
“Kurz deve sair” e “resistência” são outros dos ‘slogans’ entoados pelos manifestantes enquanto aguardam pelas declarações do chanceler.
Os cartazes dos manifestantes, na sua maioria jovens, ostentam dizeres como “este Governo é corrupto”, “Strache é um neo-nazi”, “nem mais um dia com os azuis [ultras]”.
“Strache renunciou, mas este Governo não pode continuar. Foi mostrada a verdadeira face do FPO, um partido corrupto e racista não pode governar a Áustria”, disse à agência noticiosa Efe o jovem Thomas, de 20 anos.
O jovem referia-se ao escândalo desencadeado na sexta-feira à tarde, quando os jornais Der Spiegel e Suddeutsche Zeitung transmitiram imagens gravadas por uma câmara oculta, escondida numa mansão em Ibiza, Espanha, em julho de 2017, poucos meses antes das eleições legislativas austríacas.
Nas imagens, Strache aparece a falar com uma mulher que se fez passar por sobrinha de um oligarca russo a quem o governante prometeu contratos estatais em troca de ajuda eleitoral, explicando-lhe o que é necessário fazer para contornar as leis de financiamento dos partidos.
Strache propõe também adquirir o jornal mais influente da Áustria e substituir alguns jornalistas por outros, simpatizantes dos ultras.
“Os jornalistas são de todas as formas as maiores putas do planeta”, diz Strache, segundo transcrições publicadas nos dois jornais.
“Foram ultrapassadas todas as linhas vermelhas. Tem de haver novas eleições porque o FPO não está capacitado para governar e Kurz deve assumir a responsabilidade desta decisão de se coligar com os ultradireitistas e eurocéticos e por pactuar com corruptos”, declarou à Efe Florian, de 25 anos.
Os participantes Sheila e Johannes foram saudados com aplausos quando abriram uma garrafa de espumante para saudar a demissão do vice-chanceler.
“A sua saída é uma vitória para a democracia. Isto demonstra o que alguns já sabíamos, que é um partido corrupto que governa no seu benefício. Esta é a verdadeira cara do FPO”, afirmou Johannes, enquanto para Sheila a saída do político “não é o suficiente”.
Strache atribuiu a comprometedora filmagem a “uma campanha de desinformação suja”, afirmando que caiu num “armadilha preparada por agentes provocadores” quando foi convidado para estar numa casa preparada previamente com escutas e vídeos.
Pediu desculpa pelo seu “erro” e “estupidez” quando se comportou “como um adolescente” numa reunião com álcool para o incentivar a falar, considerando que a única ação ilegal foi cometida por aqueles que montaram a trama e a difundiram em vídeo.
A televisão pública austríaca ORF calcula entre 5.000 e 6.000 os participantes na manifestação, na sua maioria jovens, sendo ainda esperados mais com o avançar das horas.
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