Em reação à notícia titulada “Corinna Larsen declarou que Juan Carlos I lhe deu 65 milhões ‘por gratidão’ e não para esconder o dinheiro”, Ada Colau, numa mensagem divulgada nas redes sociais, e citada pela agência EFE, afirma que “o título engana” porque, a seu ver, “na realidade é igual ter sido ‘por gratidão’ ou para esconder dinheiro”.
“É um escândalo em todas as explicações possíveis. Temos uma monarquia corrupta que não merece continuar a acumular privilégios e impunidade”, escreveu a autarca de Barcelona, que termina a mensagem com a ‘hashtag’ “#ReferendoRepublicaJá”.
Segundo o El Pais, Corinna Larsen, ex-amante de Juan Carlos I, declarou, perante a justiça suíça, que os 65 milhões de euros que o rei emérito transferiu para uma conta sua, segundo ela, como “presente” e “gratidão”, foram uma doação ao monarca do falecido rei Abdalá da Arábia Saudita.
As declarações de Corinna Larsen, refere o jornal, foram feitas em 19 de dezembro de 2018, perante o procurador Yves Bertossa.
Em junho, o Supremo Tribunal espanhol decidiu investigar as suspeitas de delito de corrupção do rei emérito, Juan Carlos, na construção do comboio de alta velocidade entre Medina e Meca, na Arábia Saudita.
De acordo com o Ministério Público, a investigação, que passa para o Supremo Tribunal, irá concentrar-se em "delimitar ou descartar" a relevância criminal dos acontecimentos ocorridos desde junho de 2014, quando Juan Carlos deixou de ser Chefe de Estado e, com isso, perdeu a imunidade que a Constituição espanhola lhe concedia.
A procuradoria-geral considera ser necessário realizar “novas diligências que afetam diretamente o rei emérito", que está a ser investigado pelo Supremo Tribunal.
A investigação tem por base um processo iniciado pela procuradoria anticorrupção no final de 2018 para indagar sobre possíveis comissões pagas na adjudicação da construção do comboio de alta velocidade a um consórcio de empresas espanholas em 2011.
O Ministério Público enviou há alguns meses uma comissão rogatória à Suíça para aceder a dados sobre uma alegada doação de 65 milhões de euros de uma fundação com sede no Panamá - chamada Lucum e alegadamente ligada a Juan Carlos - a uma conta de Corinna Larsen.
Uma conversa entre Larsen e um ex-comissário da polícia, José Villarejo, a cumprir pena de prisão desde 2017, deu origem a este processo, que está a decorrer em simultâneo com as investigações do Ministério Público de Genebra (Suíça) contra as movimentações de alegados testas de ferro em contas bancárias neste país.
Segundo o jornal La Tribune de Genève, há alguns meses, o Ministério Público suíço encontrou alegadas provas da movimentação de 100 milhões de dólares por vários gestores de contas na Suíça e suspeita que esse dinheiro, que chegou a uma conta no Panamá da Fundação Lucum, seria proveniente do rei saudita Abdul Aziz Al Saud, sendo o único beneficiário desta fundação Juan Carlos.
Em 2012, segundo o jornal, o dinheiro foi para uma conta de Corinna Larsen, embora o monarca tivesse reservado um milhão para uma outra "antiga amante" residente em Genebra.
Os advogados de Larsen explicaram, numa declaração, que em 2012 a sua cliente tinha recebido um presente "não solicitado" do Rei Emérito, "que o descreveu como uma forma de doação para ela e para o seu filho”.
O jornal britânico The Telegrah também publicou que o Rei Filipe VI é o segundo beneficiário de uma conta da fundação panamenha ligada ao seu pai.
Tudo isto terá levado o rei de Espanha, Felipe VI, a anunciar em 15 de março último que renunciava a qualquer futura herança a que tenha direito do seu pai, o rei emérito, e também retirava a Juan Carlos as ajudas de custo anuais que este recebia.
Juan Carlos, de 82 anos, tornou-se rei em novembro de 1975 e foi o chefe de Estado espanhol até à sua abdicação, a favor do filho, em junho de 2014.
Felipe VI, de 52 anos, nega qualquer conhecimento ou envolvimento neste caso.
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