“É bom ter parado. Essa é a minha opinião e a da maioria das pessoas daqui”, disse à agência Lusa António Maduro, presidente da União de Freguesias de S. Sebastião da Giesteira e Nossa Senhora da Boa-Fé.

O autarca falava à Lusa a propósito da notícia publicada hoje no Jornal de Negócios, revelando que a empresa canadiana Colt Resources, que tinha a concessão dos trabalhos de prospeção de ouro naquela freguesia, se encontra em processo de liquidação.

O grupo canadiano, que admitia a existência de oito milhões de onças de ouro naquela zona alentejana, segundo o jornal, abandonou as prospeções mineiras e está em liquidação, enquanto a sua subsidiária em Portugal, a Eurocolt Resources, é alvo de um pedido de insolvência, interposto por trabalhadores.

O Ministério da Economia, em declarações ao jornal, confirmou que “a atividade da empresa em Portugal ficou completamente suspensa” e que está em curso o “procedimento de extinção dos diversos contratos” assinados com o Estado português, em 2012.

O autarca da Boa-Fé disse hoje à Lusa não ter qualquer informação relativa à insolvência da empresa ou à liquidação do grupo canadiano: “Nada, nunca mais ninguém nos disse nada”.

Mas, segundo António Maduro, “há muito tempo, talvez há uns dois anos, que pararam os trabalhos de perfurações e de prospeção” na zona.

“Vimos que aquilo parou ali. Acho que o pessoal aqui da freguesia que trabalhava na empresa ficou com as contas todas certas. Andavam aí também uns estrangeiros, mas, em relação a esses, não sei se ficaram com pagamentos em atraso”, referiu.

Questionado sobre se o aparente fim do projeto é prejudicial à freguesia, o autarca argumentou que “é o contrário”, porque “as vantagens eram muito menores do que as desvantagens”.

“A exploração seria a céu aberto e dentro da povoação. Iam ali abrir um buraco enorme, com cerca de 120 metros de profundidade e à volta de um hectare de largura, a 300 metros das casas” da povoação, criticou.

Para António Maduro, o projeto mineiro, “economicamente, até poderia trazer algum benefício”, mas este seria “reduzido” e “não compensava os prejuízos ambientais de toda a espécie previstos”.

O presidente da Câmara de Évora, Carlos Pinto de Sá, também alegou hoje à Lusa desconhecer oficialmente o que se passa com a empresa ou com o projeto: “Não temos conhecimento de nada, infelizmente, uma vez que o Ministério da Economia não nos tem informado”.

“Mas mantém-se a posição que o município e a assembleia municipal assumiram”, quando, em setembro de 2014, deram “parecer desfavorável àquela exploração, nas condições em que foi proposta”.

Na altura, a Câmara e a Assembleia Municipal de Évora justificaram o parecer desfavorável (que não tem caráter vinculativo) por considerarem “previsível que os custos globais do projeto, incluindo o enorme impacto ambiental na zona [da serra] de Monfurado, excedam largamente os limitados benefícios económicos para a freguesia, para o concelho e para a região”.

A Lusa contactou hoje o Ministério da Economia, através da Direção-Geral de Energia e Geologia, mas não obteve, até meio da tarde, esclarecimentos sobre o projeto da Colt Resources, nem sobre a extinção dos contratos com o Estado português.

Quanto aos contactos telefónicos dos responsáveis da Eurocolt e da Colt Resources ligados ao projeto da Boa-Fé, encontram-se desativados, constatou a Lusa.

O grupo canadiano, que começou, em 2012, a fazer trabalhos de estudo e de prospeção de ouro na Boa-Fé previa abrir uma mina de ouro na freguesia, estimando um investimento superior a 40 milhões de euros.