Em conferência de imprensa na sede do partido, em Lisboa, André Ventura abordou os resultados das eleições autárquicas de domingo, onde o Chega elegeu 19 vereadores, para referir que “não haverá qualquer acordo nacional autárquico entre o Chega e o PSD”.
Apesar de, no total dos 19 municípios onde elegeu vereadores, só haver um concelho onde o Chega pode viabilizar um executivo social-democrata – em Santarém, onde o PSD conquistou a câmara sem maioria –, André Ventura referiu que, para que exista um acordo autárquico naquele município ou em juntas de freguesia “onde o Chega tem também maiorias para impor bloqueios”, o partido de Rui Rio terá de aceder a quatro condições.
Além da criação de “um plano municipal de prevenção da corrupção”, o Chega irá também exigir que se reduza “a subsidiodependência municipal a metade”, que se aplique um “complemento solidário municipal para os idosos” e se implemente um “plano de acompanhamento da comunidade de etnia cigana”.
“Caso isto não aconteça, o Chega tratará o PSD como trata o PS, o BE ou todos os outros”, destacou.
Questionado sobre a constitucionalidade do plano de acompanhamento para a comunidade cigana – que referiu que irá servir para identificar a comunidade, “a incidência da subsidiodependência”, as “carências de habitação” e “os problemas relacionados com a inserção de mulheres e de meninas na escola e no mercado de trabalho” –, André Ventura respondeu: “é-me relativamente indiferente que isto seja inconstitucional ou não, é um problema para as populações, temos que o resolver antes que seja tarde de mais”.
Abordando também as câmaras onde o Chega partilha a vereação com o PS e a CDU (PCP/PEV), e que constituem a grande maioria dos casos onde o partido poderia ter influência sobre a viabilização ou não de um governo camarário – como em Moura, Sesimbra ou Seixal – André Ventura referiu que “aqueles que, em nome do Chega, viabilizarem qualquer solução socialista em alguma câmara do país, estão a violar gravemente as regras do Chega e o espírito daqueles que neles votaram nestas eleições”.
André Ventura alegou que já recebeu convites para acordos de todos os partidos com que partilha vereação – com a exceção da CDU – mas ameaçou os vereadores do partido que se deixem convencer com a expulsão do partido.
“Darei pessoalmente instruções a todos os deputados municipais do Chega para que não viabilizem qualquer executivo, mesmo que este seja participado por um vereador, à revelia da direção nacional do partido e das suas diretrizes nacionais”, salientou.
Apesar disso, nos casos em que partilha vereação com o PS e a CDU, André Ventura mostrou-se disponível para negociar “caso a caso”, consoante o que considerar ser o interesse da população local.
O líder do Chega adiantou ainda que, este fim de semana, será organizada uma convenção do partido que irá reunir todos os autarcas eleitos no domingo, na qual “serão dadas instruções claras, dentro do âmbito da sua autonomia e das competências para os quais foram eleitos, daquilo que devem fazer em nome do Chega e daquilo que podem fazer em prol das populações”.
“A população local estará sempre em primeiro para nós, mas a existência de um partido que é um só, que tem indicações específicas e claras, é fundamental para que isto sobreviva como projeto político. (…) O Chega não se pode tornar de múltiplas variáveis: não pode haver um Chega em Lisboa, outro em Serpa, outro em Loulé”, referiu.
Nas eleições autárquicas de domingo, o Chega, que concorria a 220 municípios, elegeu 19 vereadores.
O partido irá ter 19 vereadores em sete distritos: seis em Lisboa (nos concelhos da Azambuja, Cascais, Odivelas, Loures, Vila Franca de Xira, Sintra), quatro em Santarém (Benavente, Entroncamento, Salvaterra de Magos, Santarém), três em Setúbal (Seixal, Sesimbra, Moita), dois em Beja (Moura, Serpa) e Faro (Loulé, Portimão), e um em Braga (Vila Verde) e Viseu (Mangualde).
Durante a conferência de imprensa de hoje, André Ventura abordou ainda a polémica sobre a intenção do Governo de exonerar o chefe de Estado-Maior da Armada para referir que “o PS tem sempre esta tentação: sempre que vê alguém a aumentar o seu capital de influência política, tenta pô-lo nalgum lugar que o silencie ou que o neutralize”.
“Se calhar querem neutralizar o homem da ‘task-force’ [o vice-almirante Gouveia e Melo] da vacinação para que não seja um incómodo nas próximas eleições presidenciais”, referiu.
Na terça-feira, fontes ligadas à Defesa Nacional disseram à agência Lusa que o Governo iria propor ao Presidente da República a exoneração do chefe do Estado-Maior da Armada, cargo que ocupa desde 2018, tendo sido reconduzido para mais dois anos de mandato com início em março deste ano.
Fonte próxima do processo e ligada à Defesa Nacional adiantou à Lusa que o Governo iria propor o vice-almirante Gouveia e Melo para substituir o atual chefe do Estado-Maior da Armada.
Hoje, o Presidente da República afirmou que a saída do chefe do Estado-Maior da Armada, antes do fim do mandato está acertada, mas não acontecerá agora, escusando-se a adiantar qual será a data.
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