"Ao fim de 20 anos, sinto um certo desgosto que esse movimento e essa dinâmica [conseguida nos 12 anos em que o Partido Socialista liderou a Câmara do Porto] tenha esmorecido e tenho dificuldade de ver o que é que foi feito de estruturante que tivesse mudado o Porto. Não vejo nada. Neste momento, há duas obras importantes em curso, uma delas é o Mercado do Bolhão, mas 20 anos passaram", salientou, em declarações à Lusa, o ex-autarca que em 2013 se candidatou à Câmara do Porto como independente.

Assumindo-se como um socialista "desde sempre", o ex-autarca que em 1999 substituiu Fernando Gomes na presidência da autarquia portuense, admite que gostaria de ter o apoio do Partido Socialista, mas salienta que a decisão compete ao partido e não esclarece se avança como mesmo sem o apoio socialista, nomeadamente como independente.

"Isto é um projeto coletivo, vamos começar a agregar pessoas e ideias. Queremos, no fundo, criar um projeto para apresentar à cidade que seja altamente mobilizador. Depois, veremos qual o veículo que será utilizado. Quem vier por bem, é sempre bem acolhido. Toda a gente será bem acolhida", disse, defendendo que o Porto deve ter um papel no país muito mais importante do que tem hoje.

Em outubro de 1999, Nuno Cardoso substituiu na presidência da Câmara do Porto o socialista Fernando Gomes, que foi convidado a integrar o XIV Governo Constitucional como Ministro da Administração Interna.

Cardoso deixou os Paços do Concelho no início de 2002, com a tomada de posse do social-democrata Rui Rio.

"Estive quatro anos na política, enquanto presidente da Câmara [do Porto], estive 20 anos fora e eu acho que a política para mim é um serviço público. Neste momento, eu sinto é a disponibilidade para voltar à vida pública. Efetivamente, há um conjunto de amigos, sempre houve, que me mobilizam muito para eu me motivar para regressar ao Porto. É nesse ponto que estamos", declarou.

O ex-autarca lembrou que, nos 12 anos em que o PS liderou os destinos da cidade do Porto, foram operados um conjunto de projetos e obras estruturais para cidade, como são exemplo, a demolição de 3.000 barracas no Parque da Cidade, a conquista da vinda do metro para cidade e o Porto 2001, Capital da Cultura.

Contudo, 20 anos passados, a Região Norte continua a ser das regiões com um Produto Interno Bruto (PIB) per capita menor da Europa e do país, lamentou.

“Quando uma pessoa conhece o dinamismo, a qualidade, o empreendedorismo das gentes do Norte não se percebe como é que nós estamos na cauda da Europa em termos de PIB, é efetivamente por incapacidade política. Nós não temos voz política", disse, apontando a regionalização como uma saída possível.

Para Cardoso, a regionalização só será concretizável se for empreendida uma luta política conjunta com participação de todos os autarcas da região.

"O centralismo de Lisboa nunca fará regionalização nenhuma. Para que as regiões se consigam impor e obrigar a que o país se regionalize, é preciso que, de facto, os autarcas, que são a matriz fundamental, trabalhem muito em conjunto", disse, acrescentando que nesta matéria o atual presidente da Câmara do Porto, o independente, Rui Moreira, tem feito "pouco".

"As dores de Bragança, Chaves ou Monção têm de ser as dores do Porto. O Porto tem de saber quais são as dificuldades dos territórios e tem de ser uma voz também para eles. Temos de articular desse ponto de vista a região e tem de haver um relançar do peso político da região no país, o que tem sido abandonado", insistiu.