A Lusa andou em reportagem pela Baixa Pombalina e constatou que, apesar das obras que condicionam a circulação automóvel, a maioria dos estabelecimentos comerciais mantém-se aberto e nas ruas são muitos os que passeiam, sobretudo turistas.

O trânsito na zona ribeirinha e na Baixa de Lisboa encontra-se condicionado desde quarta-feira passada, por tempo indeterminado, com restrições de circulação automóvel entre as avenidas Infante Santo e Mouzinho de Albuquerque, existindo como alternativa a denominada 5.ª Circular.

Segundo a Câmara de Lisboa, o plano de mobilidade é “dinâmico”, dependendo do andamento das várias obras em curso: a expansão do Metropolitano de Lisboa, o Plano Geral de Drenagem e a reabilitação de pavimentos e coletores.

À Lusa, o presidente da Associação de Dinamização da Baixa Pombalina, Manuel Sousa Lopes, lembrou que a Baixa da cidade de Lisboa “não está fechada”, considerando que as “novas regras de trânsito provavelmente não estão a ser bem interpretadas”.

De acordo com o responsável, as obras que tiveram início em meados de dezembro na Rua da Prata, a partir da Rua da Conceição, devido a um abatimento de terra, não permitem “uma circulação à vontade e nas perfeitas condições”, reconhecendo tratar-se de uma artéria “com muito trânsito”.

“Mas a Baixa não está encerrada. A Baixa continua a poder ter os consumidores (…) com os seus carros particulares, a fazer as suas compras. Podem e devem deslocar-se à Baixa sempre que queiram fazer essas compras com as suas famílias, porque há parques de estacionamento nos Restauradores, na Praça da Figueira, no Martim Moniz”, lembrou.

No entanto, embora reconhecendo que os parques estão “ao serviço e ao dispor da população” de quem quer deslocar-se àquela zona da cidade, frisou também estar de acordo com o alerta da autarquia para que quem não tenha necessidade de se deslocar por algum motivo à Baixa faça outro atravessamento da cidade, sem usar aquela zona.

“As novas regras de trânsito, provavelmente, não estão a ser interpretadas da forma correta. Penso que a informação que saiu da Câmara [Municipal de Lisboa] também não foi a mais adequada. Foi, digamos, muito alarmista, quase que dizendo que não venham para a Baixa. Deve-se vir à Baixa. Agora deve-se é evitar circular na Baixa se não há necessidade”, acrescentou.

Segundo Manuel Sousa Lopes, a associação já entregou na Câmara de Lisboa um projeto de dinamização cultural, especialmente na Rua da Prata, devido aos constrangimentos que os comerciantes têm vindo a passar desde dezembro passado, para atrair mais pessoas ao local.

“Estamos à espera de informações, mas era necessário. Era absolutamente necessário que essa parte cultural acontecesse, porque é importante para as pessoas. As pessoas gostam, as pessoas divertem-se e era uma forma também de dizer aos empresários que o poder político se interessa e está com eles e não os esquece”, reconheceu.

Paula Ribeiro, da Ourivesaria Ribeiro, explicou à Lusa o quanto tem sido complicado ter obras mesmo à porta, reconhecendo que “diminui o fluxo de pessoas a passar” por a Rua da Prata estar parcialmente cortadA.

“Aqui vive-se sobretudo de turismo. As pessoas não passam aqui porque veem as ruas cortadas. Tem sido muito, muito complicado”, disse, lembrando a importância de a Câmara de Lisboa “colocar cartazes” a explicar que, apesar de a rua estar cortada ao trânsito, “o comércio está de portas abertas”.

“Apesar de isto não ser muito agradável, hoje tivemos aqui um casal que veio fazer compras para nos animar um pouco, reconhecendo o que estamos a passar”, explicou.

Já David Martins, do restaurante Minhota da Prata, reconheceu passarem menos pessoas, mais por causa das obras na Rua da Prata do que propriamente com as alterações ao trânsito que tiveram início na semana passada.

“Neste momento nós não nos podemos queixar muito, porque estamos numa área em que há muito turismo. Agora isto [as obras] afeta”, disse David Martins, frisando que no mês passado a clientela rondou 70% menos do que o habitual, andando atualmente à volta de menos 30%, porque o turismo está a ajudar.

Embora reconheça que o seu restaurante acaba por não ter muitos problemas, considera que há “muitos estabelecimentos, com certeza, que estão a passar por dificuldades” devido às obras. O comerciante lembrou que a rotura do coletor da Rua da Prata ocorreu em dezembro e que apenas estão quatro pessoas a trabalhar numa obra que devia estar em curso “dia e noite, como antigamente”.

Sobre as cargas e descargas na Baixa da capital, que só podem ser realizadas para os veículos com peso superior a 3,5 toneladas entre as 20:00 e as 08:00, David Martins afirmou que, normalmente, vai fazer as suas compras “dia-a-dia” e ainda não teve nenhum fornecedor a entregar mercadoria.

“Não sei como me vou adaptar, mas trabalho durante o dia e não vou ficar aqui à noite para receber. Ou faço eu as compras necessárias ou eles têm que vir com carros mais pequenos e adaptar-se o serviço de venda”, disse.

Já Manuel Preguiça, do restaurante Casa Chineza, localizado na Rua do Ouro [Áurea], revelou que “para já” o seu estabelecimento ainda não se ressentiu devido aos novos horários de cargas e descargas de mercadorias.

“Ao nível da cerveja e da água, têm de vir carros mais pequenos e mais vezes, mas de resto, não temos tido problemas”, afirmou, reconhecendo, no entanto, que de futuro a situação “até pode vir a mudar”.