António Costa chega a Seul acompanhado pelos ministros da Economia, António Costa Silva, da Ciência e Ensino Superior, Elvira Fortunato, e das Infraestruturas, João Galamba, e pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Francisco André.

O primeiro dia de agenda do primeiro-ministro português na Coreia do Sul, décima maior economia do mundo e quarta da Ásia, é totalmente dedicado à economia.

O défice da balança comercial nacional face à Coreia do Sul tem vindo a agravar-se nos últimos anos, apesar de um crescimento das exportações nacionais, que é superado em valor pelas importações, designadamente de automóveis e 'smartphones'.

Em relação à balança comercial entre os dois países, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes ao período entre 2018 e a 2022, verifica-se que é tradicionalmente negativa para Portugal, com a taxa de cobertura das exportações nacionais a variar entre os 24 e os 21%.

As exportações nacionais foram na ordem dos 118,9 milhões de euros em 2018 e atingiram os 192, 8 em 2022, enquanto, no mesmo período, as importações da Coreia do Sul passaram de 496,7 milhões para os 918,6 milhões de euros.

O saldo negativo foi de 377,7 milhões de euros em 2018 e de 725,8, milhões de euros no ano passado.

De acordo com o executivo de Lisboa, em 2021, exportaram para a Coreia do Sul 697 empresas portuguesas, mais 57 do que em 2017.

No que respeita aos principais produtos exportados de Portugal para a Coreia do Sul, em termos de valor, a primeira posição é ocupada por pneumáticos novos (de borracha), que em 2022 representou 60 milhões de euros e 31% do total, seguindo-se os acessórios para tratores e para veículos de transporte até 10 pessoas (carrinhas) - um segmento de produtos que no ano passado atingiu os 17,5 milhões de euros, cerca de nove por cento do total.

Segundo dados da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), as maiores exportadoras nacionais para o mercado da Coreia do Sul são a Bial, a Caso (suínos do Oeste), a Continental Mabor, a Bollinghaus Steel (aço), a Cálculo de Vanguarda (refinação de azeite), a Dan Cake, a Dux Interiores (têxteis), a ICM (Indústria de Carnes do Minho), a Malhe (componentes de motores) e a Riopele Têxteis.

Entre 2021 e 2022, os maiores crescimentos em termos de exportações foram produtos elétricos e conversores rotativos, assim como componentes para motores e geradores, seguindo-se produtos do setor agroalimentar como as gorduras e óleos vegetais e carne de porco.

Já no que concerne aos principais produtos importados da Coreia do Sul, também entre 2021 e 2022, destacam-se os óleos de petróleo ou de minerais betuminosos (que apresentam o maior valor), automóveis, produtos laminados, polímeros de propileno e de etileno, e aparelhos telefónicos, sobretudo smartphones. Entre 2021 e o ano passado, esta gama de produtos telefónicos cresceu mais de 127%.

Em relação ao mercado dos semicondutores, durante a sua presença em Seul, António Costa vai visitar a Hynix e terá também uma reunião com responsáveis da Samsung Eletronics. Estas duas empresas controlam 70% da oferta de chips de memória, ocupando os segundo e terceiro lugares no ranking dos maiores fabricantes do mundo.

Fonte do executivo português assinalou à agência Lusa que a Coreia do Sul aposta em tornar-se uma potência global de chips de memória e não-memória, através de uma política de incentivos fiscais e subsídios estatais aos fabricantes de microchips.

“A Samsung Electronics, por exemplo, já anunciou que investirá um total de 151 mil milhões de dólares norte-americanos nos setores do chip lógico e de fundição até 2030. Esta é uma das áreas de interesse para Portugal que dispõe de uma das maiores plataformas de embalagem, montagem e testes de semicondutores da Europa. O intercâmbio de investigadores e engenheiros é igualmente considerado”, referiu a mesma fonte.

Ao nível das energias renováveis, pela parte nacional, refere-se que a Coreia do Sul anunciou em 2020 um pacote de investimento de 54 mil milhões de euros em tecnologias verdes e energias limpas, a par dos objetivos de produzir entre 30 a 35% da eletricidade a partir de energias renováveis até 2040 e da eliminação progressiva da energia nuclear.

Em matéria de investimentos de empresas sul-coreanas em Portugal, ainda neste domínio das energias renováveis, destaca-se a CS Wind, que é a maior fabricante mundial de torres eólicas e que passou a deter 100% da ASM Industries - uma referência nacional na produção de torres eólicas e fundações offshore.

A Hanwha Q Cells, empresa que será visitada pelo primeiro-ministro ao início da tarde de terça-feira, foi uma das vencedoras do segundo leilão solar em Portugal, ganhando seis dos doze lotes a concurso, para desenvolver projetos fotovoltaicos no Alentejo e no Algarve.

O Governo português realça também a importância de outros investimentos sul-coreanos em Portugal, como o da NPS (serviço nacional de pensões da República da Coreia), que faz parte do consórcio que adquiriu 81% da Brisa; e a Hanon Systems, presente em Palmela e que anunciou investimento de 48,3 milhões de euros na produção de compressores de ar condicionado para carros elétricos;

Outros investimentos considerados relevantes são os da Borgstena, que detém uma unidade de produção em Nelas, no distrito de Viseu, e que produz têxteis para o setor automóvel; e a YUDO, que atua no setor dos moldes e plásticos e tem uma unidade de produção na Marinha Grande.

A parte institucional e política do programa do líder do executivo português acontecerá na quarta-feira, após discursar num fórum de negócios Portugal/Coreia do Sul.

Segundo fonte diplomática, ao nível de primeiros-ministros, a visita de António Costa à Coreia do Sul, que foi adiada várias vezes por causa da pandemia da covid-19, “quebra um interregno de 23 anos”, altura em que o então chefe do Governo português, António Guterres, esteve neste país.

Em 2000, pouco depois de concretizada a transferência da administração de Macau para a República Popular da China, António Guterres esteve em Seul também com uma agenda sobretudo económica, numa altura em que a Coreia do Sul se começava a destacar no mundo com elevadas taxas de crescimento económico.

Cavaco Silva foi o último titular de um órgão de soberania nacional a visitar a Coreia do Sul, em julho de 2014 - uma deslocação que acabou por ficar marcada pelas suas declarações em relação à situação do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo Espírito Santo (GES).

Em 21 de julho de 2014, no final da sua visita, o ex-chefe de Estado foi questionado numa conferência de imprensa sobre se a situação do GES poderia ter consequências na economia portuguesa.

Cavaco Silva alegou que o Banco de Portugal estava a ser “perentório, categórico” ao afirmar que os portugueses podiam confiar no BES. Considerou, depois, que o Banco de Portugal, que na altura tinha como governador Carlos Costa, estava a atuar “muito bem” e a “preservar a estabilidade e a solidez” do sistema bancário português.

No plano das relações bilaterais, nessa mesma visita, Cavaco Silva sustentou que havia a possibilidade de aumentar as exportações portuguesas para a Coreia do Sul e perspetivas de investimento coreanas em Portugal.

"Abrem-se aqui possibilidades de mais exportações para a Coreia do Sul e perspetivas de investimentos, por parte de empresários coreanos em Portugal", afirmou o chefe de Estado, que disse levar "expectativas muito positivas".

A visita de Cavaco Silva foi a primeira de um Presidente português desde o estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países, há 63 anos.