O antigo quadro do banco suíço UBS falava como testemunha no julgamento em que Duarte Lima responde pelo crime de abuso de confiança, mais concretamente de se apropriar indevidamente de cinco milhões de euros que pertenceriam a Rosalina Ribeiro, de cujo homicídio, em 7 de dezembro de 2009, foi acusado pela justiça brasileira.
Michel Canals indicou que foi gestor de conta de Duarte Lima entre 1998 e 2004/2005 e de Rosalina Ribeiro unicamente durante alguns meses, não tendo manifestado estranheza ao tribunal que a companheira e antiga secretária do milionário Tomé Feteira tenha transferido para a conta do ex-deputado alguns milhões de euros, com a justificação de que se tratava do pagamento de honorários.
Canals, que é arguido no processo Monte Branco relacionado com lavagem de dinheiro e que chegou a ser detido em maio de 2012 no âmbito daquele caso ainda em investigação, alegou que tanto Rosalina Ribeiro como Duarte Lima lhe disseram que as transferências de dinheiro se prendiam com o pagamento de honorários.
A juíza Flávia Macedo confrontou a testemunha com o facto de, no total, terem sido transferidos cinco milhões de euros da conta de oito milhões de euros que Rosalina Ribeiro passou a ser a única titular, após morte por doença de Tomé Feteira, milionário português radicado no Brasil.
Michel Canals, que revelou ter cerca de meia centena de clientes em Portugal em 2000/2001, não soube identificar quem foi o segundo gestor de conta na UBS de Rosalina Ribeiro, tendo à saída do tribunal o advogado José António Barreiros, mandatário de Olímpia Feteira (filha única do milionário) admitido que poderá requerer diligências para localizar e ouvir aquele último gestor dos dinheiros de Rosalina Ribeiro, que foi assassinada a tiro nos arredores do Rio de Janeiro.
Durante a inquirição de Canals, Barreiros e o coletivo de juízes confrontaram o gestor de fortunas com diversa documentação sobre as contas e transferências de dinheiro de Rosalina Ribeiro, mas a falta de alguns dados e outros elementos documentais não permitiu esclarecer se as ordens foram confirmadas em absoluto por escrito.
No final da audiência, José António Barreiros admitiu que não ficou esclarecido, dizendo que "há documentos que faltam, há elementos que a Suíca não enviou, há muita documentação que seria pertinente perceber. Ainda vai haver necessidade de aprofundar a prova".
À saída do tribunal, Michel Canals refutou que fosse amigo muito próximo de Duarte Lima, uma vez que o conhece desde 1998, o mesmo ano em que conheceu também o milionário Tomé Feteira, embora nunca estivesse com os dois ao mesmo tempo.
Canals revelou ao tribunal que Tomé Feteira e Rosalina Ribeiro abriram uma conta conjunta na UBS, no valor de oito milhões de euros e que, após a morte do milionário, Rosalina Ribeiro deslocou-se à Suíça para abrir uma nova conta para colocar o dinheiro, porque as leis helvéticas não permitem que se tenha conta com alguém que já faleceu. As transferências posteriores para a conta de Duarte Lima estão no cerne deste julgamento.
Canals garantiu ainda nada saber sobre os movimentos da conta de Duarte Lima para outras contas das quais não é gestor.
A fortuna/herança de Tomé Feteira continua a ser disputada nos tribunais, nomeadamente pela filha única do milionário, Olímpia Feteira, que é assistente neste julgamento, tendo como mandatário José António Barreiros. A defesa de Duarte Lima está a cargo de José Neto.
Entretanto, Duarte Lima foi condenado no ano passado pelo Tribunal da Relação de Lisboa a seis anos de prisão por burla qualificada e branqueamento de capitais no processo Homeland, relacionado com negócios imobiliários que integram o caso BPN.
O antigo deputado esgotou os recursos na Relação e no Supremo Tribunal de Justiça, tendo sido intentado um derradeiro recurso para o Tribunal Constitucional.
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