“Teria mudado a data para visitar Barcelona se pudesse, mas os bilhetes de comboio já estão reservados há muitas semanas”, disse à agência Lusa David Mary que viajava com a mulher.
Os dois confessaram estar “um pouco preocupados” com a possibilidade de atos violentos e “desiludidos” com a decisão anunciada pelas grandes superfícies comerciais e alguns pequenos comerciantes de fechar as lojas no domingo.
O Governo da Comunidade Autónoma da Catalunha convocou para domingo um referendo sobre a autonomia da região que o Estado espanhol considera ser ilegal e está a fazer tudo para que não se realize.
“Vamos ficar longe da confusão ou no hotel, se for preciso”, assegurou David Mary, que mesmo assim está “otimista” e avançou que talvez “não aconteça nada”.
O comboio de alta velocidade onde viajavam saiu da estação de Atocha, no centro de Madrid, às 09:00 (08:00 em Lisboa) com 650 pessoas, a maior parte turistas, e chegou à estação de Sants, no centro de Barcelona, passadas duas horas e meia a uma velocidade de 300 Km por hora.
“É difícil prever a natureza humana”, filosofou a brasileira Rosana Oliveira que ia à capital catalã em parte em trabalho, para assistir a um congresso, e em parte em turismo.
Ao seu lado, a amiga Heliária Nascimento assegurava que “o povo espanhol não é violento” e que, “com toda a certeza”, as duas iam ficar “longe da confusão”.
“Não estamos em pânico, apenas com algum receio”, resumiu Rosana Oliveira.
Vários países avisaram na sexta-feira os seus cidadãos que deviam ser “prudentes”, no caso de viajarem para a Catalunha.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha aconselhava que “os grandes ajuntamentos de pessoas devem ser evitados” porque “não se deve excluir a possibilidade de um aumento da tensão”.
Por seu lado, a Holanda e o Reino Unido pediam aos seus cidadãos para estar “atentos” e “evitar as manifestações”.
Na quinta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros francês já tinha recomendado aos seus nacionais para “ficarem longe de eventuais concentrações populares”.
A japonesa Sifia Zhi também exteriorizou a sua “preocupação” à Lusa e garantiu que teria alterado a data da visita se soubesse que a consulta popular se iria realizar.
“Parece que o Governo central tira demasiado dinheiro à Catalunha para dar a outras regiões mais pobres da Espanha, mas não sei se é verdade”, disse Zhi, acrescentando que “é difícil ser turista”.
Madrid tem reforçado a presença de polícias enviados de todo o território espanhol e está a desmontar o dispositivo montado para a realização do referendo.
Na semana passada, as forças de ordem confiscaram nos arredores de Barcelona cerca de 10 milhões de boletins de voto que o Governo regional da Catalunha pretendia utilizar no referendo de 01 de outubro.
Na sexta-feira ao fim do dia, várias escolas da Catalunha foram ocupadas por populares pró-independência para assegurar que os estabelecimentos vão ser utilizados como assembleias de voto no domingo.
A polícia tem instruções para desalojar os ocupantes e selar os locais, mas não se sabe o que pode acontecer até às 09:00 (08:00 de Lisboa) de domingo, hora prevista para o início do referendo ilegal.
O Tribunal Constitucional espanhol suspendeu no início de setembro, como medida cautelar, todas as leis regionais aprovadas pelo Parlamento e pelo Governo da Catalunha que davam cobertura legal ao referendo de autodeterminação convocado para 01 de outubro.
Apesar das decisões dos tribunais e da pressão de Madrid, o presidente do Governo catalão, Carles Puigdemont, mantém que o referendo de autodeterminação se irá realizar.
Os partidos separatistas têm uma maioria de deputados no parlamento regional da Catalunha desde setembro de 2015, o que lhes deu a força necessária, em 2016, para declararem que iriam organizar este ano um referendo sobre a independência, mesmo sem o acordo de Madrid.
Na sexta-feira, terminou o período de campanha eleitoral com uma grande manifestação em Barcelona dos movimentos separatistas.
Os opositores à independência, que os estudos de opinião indicam serem maioritários, não participaram na campanha e afirmaram que não irão votar, para não darem credibilidade a uma consulta que também consideram ser ilegal.
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