No município de Belmonte (Castelo Branco), que possui uma das mais antigas comunidades judaicas do mundo, encontram-se vários equipamentos relacionados com a vertente judaica, com destaque para um museu, que foi inaugurado em 2005 e renovado em 2017.
O Museu Judaico, dedicado à comunidade judaica local, está integrado na Rede de Museus Municipais que também abrange o Museu dos Descobrimentos, o Ecomuseu do Zêzere, o Museu do Azeite, a Igreja de São Tiago e Panteão dos Cabrais e o castelo.
Segundo Susana Miranda, da Empresa Municipal de Belmonte, o Museu Judaico é um dos locais “mais visitados” da vila, “muito a par com o Museu dos Descobrimentos, por causa de Pedro Álvares Cabral e também da descoberta do Brasil”.
O museu “tem um peso enorme em relação aos visitantes de Belmonte”, disse a responsável à agência Lusa.
O espaço mostra ao público aspetos da religião judaica no geral e “um bocadinho da história” da comunidade judaica de Belmonte.
Desde a sua reabertura, a 2 de agosto de 2017, o núcleo museológico já acolheu cerca de 40 mil visitantes, maioritariamente nacionais e israelitas.
Muitos dos turistas, sobretudo os que professam a religião judaica, têm em Belmonte um hotel específico – o Belmonte Sinai Hotel -, que foi inaugurado em 2016.
O seu diretor, Ricardo Abreu, explicou à Lusa que foi o primeiro hotel ‘kosher’ (respeita as práticas judaicas em relação à alimentação e ao alojamento) do país, que surgiu “precisamente pela necessidade de dar resposta aos inúmeros pedidos que existiam”.
“O nosso mercado essencial é o mercado internacional. Cinquenta por cento dos nossos hóspedes são do mercado internacional. Claro que o mercado israelita, ou judaico, que tem várias origens, desde polacas, Estados Unidos, Brasil, França, e o próprio país de Israel, são os mais importantes. Mas, depois, temos todos esses mercados que, por outras necessidades, ou por outras visitas, também ficam alojados no nosso hotel”, disse.
A unidade hoteleira, com 27 quartos, além de estar preparada “para receber judeus como nenhum outro hotel”, também recebe “todas as outras pessoas”, disse Ricardo Abreu.
O hotel está a beneficiar com a Rede de Judiarias de Portugal, que capta muitos turistas para a região, motivo que leva os proprietários a planearem a sua ampliação.
Os comerciantes da vila de Belmonte também se mostram satisfeitos com o aumento da afluência de turistas provenientes de várias geografias.
“Vem muita gente visitar a comunidade [judaica], a Sinagoga, o Museu [Judaico] e os museus”, declarou Moisés Morão.
Segundo o habitante, ultimamente tem-se notado a presença de “muita gente” na vila e o movimento reflete-se “um pouco” no comércio.
Para o comerciante Alípio Henriques, com a aposta no turismo judaico, “Belmonte está a evoluir em todos os setores, na parte de restauração, na parte comercial, em tudo um bocadinho”.
No vizinho concelho do Sabugal (Guarda) foi criada em 2017, no âmbito da Rede de Judiarias, a Casa da Memória Judaica da Raia Sabugalense, que também tem contribuído para captar visitantes.
“Temos tido um aumento considerável de turistas graças à Casa da Memória Judaica. Porque estamos aqui perto de Belmonte, como sabemos, é o centro mais importante do judaísmo a nível nacional e, as pessoas, pela proximidade e pela Rede de Judiarias, digamos que torna-se quase obrigatório darem um saltinho até ao Sabugal e a esta nova casa”, disse o vereador da Cultura, Amadeu Neves.
Segundo Marcos Osório, arqueólogo da Câmara do Sabugal, o concelho foi integrado na Rede de Judiarias por ser um território que, “especialmente após a expulsão dos judeus do Reino de Castela”, acolheu muitas comunidades que ali permaneceram “durante largo tempo”.
“É uma herança que está um pouco escondida e não é fácil preservar essa memória, mas existem os documentos e existem algumas marcas que possibilitam que possamos recordar a presença dessas pessoas nesta região, como por exemplo as marcas cruciformes e outros objetos que são um testemunho vivo da sua presença cá”, declarou.
No edifício destaca-se a existência de um armário judaico e de um objeto metálico de higiene pessoal, oriundo da aldeia de Vilar Maior, denominado ‘Dentilcaspium’.
“Trata-se, nada mais, nada menos, de algo que as pessoas carregavam ao pescoço, para limpar as unhas, os dentes e os ouvidos”, indicou o arqueólogo.
Marcos Osório supõe que o objeto “poderia pertencer a alguém da comunidade judaica, especialmente a um médico ou a um rabi, dado que as preocupações dos judeus com o ato da circuncisão e outros atos de purificação com as mulheres obrigavam a que se tivessem cuidados higiénicos que não era comum na sociedade em volta”.
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