O candidato do Partido Republicano, Donald Trump, venceu hoje as eleições presidenciais nos Estados Unidos, ao conquistar mais de 270 grandes eleitores (o número mínimo necessário) do Colégio Eleitoral, órgão que elege o chefe de Estado norte-americano. Trump será o 45.º Presidente dos Estados Unidos.
“Foi uma noite completamente surpreendente, chocante num certo sentido, que revelou um enorme desfasamento entre as linhas editoriais dos principais órgãos de comunicação americanos e a grande indústria das empresas de sondagens, e a realidade do eleitor”, afirmou à agência Lusa o investigador do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa (IPRI-UNL), a partir de Washington.
Numa primeira análise aos resultados da longa noite eleitoral americana, Bernardo Pires de Lima indicou que existiu um exagero sobre o apoio que determinados e anteriores eleitorados do Presidente democrata Barack Obama, como os afro-americanos, os 'millenniums' (jovens) e as mulheres iriam dar à candidata democrata Hillary Clinton, a grande derrotada das presidenciais.
“Acho que se exagerou na transposição da plataforma que deu as vitórias de Obama para um sucesso de vitória da candidatura de Hillary Clinton. E isso não se verificou. Os afro-americanos, os 'millenniums' e as mulheres não estiveram com Hillary como estiveram com Obama”, referiu.
Existiu também, segundo o especialista, “uma falta de leitura ou uma leitura errada” que “desprezou, provavelmente, o eleitor branco de Trump que estava escondido, que não vinha nas sondagens, que não vinha nas amostras”.
“Isso acaba por ser uma segunda volta do referendo inglês [Brexit], no sentido em que as sondagens também falharam em Inglaterra e não mediram o pulso a um enorme segmento do eleitorado”, prosseguiu.
Para Bernardo Pires de Lima, a noite eleitoral nos Estados Unidos espelhou a “dissonância entre a medição do pulso eleitoral e a realidade, e marcou profundamente um fim de uma era, uma era em que os Presidentes norte-americanos eram os líderes do mundo livre – como são apelidados – e hoje temos um Presidente eleito apoiado pelo Ku Klux Klan [movimento de supremacia branca], que tem um discurso antiliberal aberto, protecionista, nacionalista, de medo”.
E salientou que esta figura (Donald Trump) não é exclusiva dos Estados Unidos.
“À medida que vamos temporizando e desprezando o que vai acontecendo em vários países, desde a Hungria, à Polónia, à Rússia, à Turquia, a França, ao Brexit, (…) achamos que as instituições vão contendo estes ímpetos protecionistas, nacionalistas e xenófobos. Quando damos por ela, há um Trump que é eleito”, frisou.
“Temos aqui um exemplo paradigmático do falhanço da moderação política, da forma de fazer política tradicional e de passar a mensagem da moderação”, concluiu o investigador.
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